A proposta de reformulação
do Ensino Médio não é vista
com bons olhos por grande
parte dos pesquisadores da
área da educação. Para a professora
do Departamento de
Métodos e Técnicas de Ensino
da Universidade Federal
do Piauí, Nilza Cury, doutora
em Educação, as mudanças
deveriam ter sido amplamente
debatidas com os diversos
setores da sociedade, antes de
serem editadas em uma Medida
Provisória.
“Nós temos muitas críticas
ao fato de os professores estarem
de fora dessas discussões,
porque são eles que vão executar
as mudanças. Nenhuma
reforma na educação é bem
sucedida se não tiver a participação
dos professores. O
que está se fazendo com essa
reforma, sem a discussão, é
negar conhecimento para os
mais pobres”, avalia pesquisadora.
Cada estabelecimento de ensino deve montar sua grade curricular (Foto:O Dia)
Um dos pontos mais polêmicos
da mudança apresentada
pelo Ministério da
Educação é o que prevê que
a retirada de disciplinas como
artes, filosofia e sociologia
da Base Nacional Curricular
Comum, ou seja, apenas estudantes
que tiverem interesses
em se aprofundar nessas áreas
vão continuar a assistir aulas
das disciplinas. Para Nilza
Cury, esse é o aspecto mais
prejudicial do projeto de reformulação
do Ensino Médio.
“Essa retirada de disciplinas
é altamente prejudicial para
a formação do aluno. A educação
básica deve atender a
necessidade da formação plena
humana. Entende-se que o
processo de alfabetização só se
completa ao longo do ensino
fundamental e do ensino médio,
e deve contemplar todas
as dimensões do ser humano.
Esse é o sentido das disciplinas.
O ensino médio não deve
ser para formar especialistas.
Esse processo de formação
deve permitir que o ser humano
se desenvolva em todas as
suas dimensões”, pontua.
Na avaliação da professora
Nilza Cury, a implementação
das medidas propostas
pelo MEC deve esbarrar nas
dificuldades estruturais e de
formação dos professores na
Educação Pública Brasileira.
“Essa medida vai entrar em
vigor em um percentual mínimo
de escolas. Aqui no Piauí,
por exemplo, grande parte
das escolas não tem estrutura
para receber o aluno em tempo
integral, e a formação dos
professores, principalmente
dos que atuam no interior,
ainda é deficiente. Além disso,
não temos tempo histórico
suficiente para permitir que
as propostas evoluam. Cada
governo que entra descarta as
propostas do anterior”, avalia
a pesquisadora.
“Enxugamento” de conteúdos é polêmico
Apresentada na última semana
pelo Governo Federal,
a Medida Provisória que reformula
o Ensino Médio no
Brasil tem sido alvo de elogios
e críticas por pessoas
que atuam na área da educação.
Entre os principais
pontos da mudança está o
“enxugamento” dos conteúdos
obrigatórios, deixando
os últimos anos escolares
com menos componentes
curriculares, o que, na
avaliação do Ministério da
Educação, coloca o currículo
do Ensino Médio mais
em sintonia com as necessidades
do aluno.
Para que a flexibilização
dos conteúdos obrigatórios
aconteça, entretanto, serão
necessárias alterações, como
a retirada de disciplinas
da Base Nacional Comum
Curricular. Com a Medida
Provisória, disciplinas como
artes, educação física, sociologia,
e filosofia deixam de
ser obrigatórias, e se tornam
optativas para o ensino médio.
O Novo Currículo do Ensino
Médio Brasileiro vai
passar a ser orientado em
cinco áreas de formação:
Linguagens, Ciências da
Natureza, Ciências Humanas,
Matemática e Formação
Técnica. Cada instituição de
ensino vai ser responsável
pela elaboração de sua grade
curricular, que poderá ter
como base mais de uma área
do conhecimento.
Outra mudança significativa
causada pelo projeto de
reformulação do Ensino Médio
é o aumento do tempo em
que o estudante passa dentro
da escola. A carga horária
deve sair de 800 para 1.400
horas anuais, ou seja, os alunos
passam a ficar sete horas
por dia dentro da sala de aula.
Para entrar em vigor, a medida
provisória (MP) sobre
a reforma do ensino médio
precisa ser aprovada, em até
120 dias, pela Câmara e pelo
Senado Federal, caso contrário,
ela perderá seu efeito.
Secretaria Estadual de Educação do Piauí
se coloca a favor da mudança educacional
No Piauí, a Secretária Estadual
de Educação (Seduc) é a favor
da proposta de reformulação do
Ensino Médio, seguindo a posição
do Conselho Nacional de
Secretários de Educação (Consed),
um dos principais avalistas
do texto da medida provisória.
Na avaliação dos técnicos da
pasta, as mudanças no Ensino
Médio podem ser a solução para
problemas antigos enfrentados
pelos gestores da educação, entre
eles a evasão escolar.
“O Ensino Médio no Brasil
ainda é confuso, não se sabe
ainda o que se quer do aluno.
Essas mudanças são necessárias
para adequar o Brasil aos demais
países. O aluno vai ter a sua vocação
mais potencializada, e por
consequência, isso vai diminuir a
evasão escolar”, Avalia a diretora
de ensino e aprendizagem da Seduc,
Rizalva Rabelo.
O argumento da falta de discussões
sobre a reformulação
no Ensino Médio é rebatido
pela Seduc. Segundo Rizalva
Rabelo, desde 2012 órgãos e
entidades debatem os impactos
da mudança no sistema educacional
brasileiro, o que para ela
legitima a implementação da
medida provisória.
“Essa medida provisória é resultado
de uma discussão que
acontece no Brasil desde 2012,
ou seja, não houve pouca discussão
sobre o tema. Ainda vão
acontecer mais seminários e encontros,
que visam coletar contribuições
de professores e alunos.
O momento agora é de entender
as mudanças, para só depois colocá-
las em prática”, pontua.
Um dos pontos do projeto de
reformulação prevê que, gradualmente,
as escolas passem a ser de
tempo integral, saindo de uma
carga horária de 800 para 1.400
horas anuais, ou seja, os alunos
passam a ficar sete horas por dia
na sala de aula. Segundo Rizalva,
o aumento na carga horária não
deve ter impacto significativo
nas escolas da rede estadual, que,
em partes, já adotam um modelo
parecido.