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Conheça o escritor Júlio Romão, um nome para não ser esquecido

Ativista de organizações em defesa da cidadania do negro, Júlio Romão da Silva nasceu em 22 de maio de 1917 em Teresina. Con­siderado um dos maiores escritores, era filho de Luís e Joana Que­rino da Silva. Jornalista, teatrólogo, Júlio Romão é tido como um dos primeiros afrodescendentes que se notabilizou pela cultura, na história do País. Ainda jovem, já despertava o grande talento, publicando suas primeiras produções literárias nos jornais Gaze­ta, de Teresina, e Combate, de São Luís (Maranhão).

O escritor piauiense se transferiu para o Rio de Janeiro, em 1937, formando-se pela Faculdade de Filosofia da Uni­versidade do Brasil e se tornando um dos primeiros jornalis­tas brasileiros graduado em curso superior de Comunicação Social. Exerceu cargos e funções de destaque no IBGE e em outros setores da administração pública federal, municipal e estadual. Como jornalista, colaborou em vários órgãos da imprensa periódica e diária carioca, notadamente em O Ma­lho, Vamos Ler, Revista da Semana, Dom Casmurro, Diário Carioca, Jornal do Comércio, de que foi revisor, e no Correio da Manhã, onde começou como revisor, em 1951, e trabalhou por um período de dez anos, destacando-se como repórter político e redator responsável pelo Suplemento Econômico.


Júlio Romão. Foto: Arquivos O Dia.

Júlio Romão foi um dos idealizadores do Movimento da Negritude Brasileira, declarado em manifesto de 1945 pelo Comitê Democrático Afro-Brasileiro, do qual fizeram par­te o poeta Solano Trindade, os sociólogos Edison Carneiro e Guerreiro Ramos, o escritor Raymundo Sousa Dantas, e o teatrólogo Abdias Nascimento, entre outros. Participou tam­bém da criação do Teatro Experimental do Negro, do Teatro Popular Brasileiro e da Orquestra Afro-Brasileira.

O notável piauiense, além de teatrólogo e poeta, dedicou-se ao estudo e resgate de artistas e intelectuais afro-brasilei­ros como Aleijadinho, Teodoro Sampaio, Solano Trindade e Luiz Gama, entre outros. Este último foi aquinhoado com minuciosa pesquisa de vida e obra, que resultou em duas edi­ções do volume Luiz Gama e suas poesias satíricas, obra em que apresenta alentado ensaio crítico a respeito do precursor da poesia negra brasileira, a que se segue a reprodução na ín­tegra das Trovas burlescas de Getulino, publicadas em 1859 e ignoradas por boa parte de nossa historiografia literária.

Além de ter deixado dezenas de obras escritas, algumas tra­duzidas para outras línguas, Júlio Romão foi membro da Aca­demia Piauiense de Letras recebeu da Academia Brasileira de Letras os prêmios João Ribeiro e Cláudio de Sousa – este, pela publicação do livro José, o vidente: saga dramática de Israel. Foi ainda agraciado, em 2010, com o título de Dou­tor Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí, além de homenageado no II Congresso Internacional de História e Patrimônio Cultural que ocorreu em Teresina naquele mes­mo ano.

Homem de teatro, com peças representadas no país e ver­tidas para o castelhano, incluem-se em sua bibliografia, além de uma comédia de fundo político, três autos-dramáticos inspirados em temas bíblicos, analisados por Alceu Amoroso Lima, em ensaio de 1974. De acordo com Elio Ferreira, a saga de Júlio Romão se assemelha à dos mártires e grande benfeitores da humanidade. Marceneiro na infância e na adolescência. Negro e pobre, passou por inúmeras provações e constrangimentos. Mas não se deixou abater, seguiu em frente na busca do sonho de tor­nar-se doutor e um grande homem. (...) Não esqueceu o compro­misso de homem negro, de origem humilde, comprometido com a condição humana de seus irmãos de cor e classe social, e ainda com o futuro político do país e da terra natal. O escritor faleceu aos 95 anos, no dia 9 de março de 2013, em Teresina.