Assunto considerado delicado e pouco discutido nos dias atuais, o suicÃdio foi tema do I Simpósio Interinstitucional do SuicÃdio: causas e sintomas - aspectos preventivos, que reuniu, nos dias 29 e 30 deste mês, profissionais de diversas áreas para buscar integração institucional�de ações que aprimorem o conhecimento acerca das causas e sintomas do problema.
O encontro buscou estimular o desenvolvimento de ações e estratégias de prevenção no ambiente de trabalho das instituições nas diversas áreas do serviço público e da segurança pública, bem como assistência populacional em geral.
Durante o Simpósio, foi lançada a proposta de criação de um comitê estadual para combater o problema, reunindo várias instituições como Secretaria de Saúde do estado do PiauÃ, PolÃcia Militar, Secretaria de Segurança e Coordenação de Enfrentamento à s Drogas, com o escopo de apresentar sugestões para tratar o tema e evitar que os casos continuem acontecendo.
A psicóloga e gerente de Atenção a Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), Leda Trindade, afirma que o tema é delicado, mas a sua discussão é fundamental, pois a divulgação de casos é muito tÃmida, uma vez que afeta toda a famÃlia da pessoa que comete suicÃdio.
“Os familiares, quando acontecem esses casos, se questionam e se culpam pela situação. O que precisamos acabar é com a visão de que o suicida, quando está prestes a se matar, não avisa, não pede socorro. Pelo contrário, o suicida pede ajuda, mas muitas vezes não são ouvidos nem percebidos os sinais de que as pessoas podem estar em depressão e pensando em tirar a sua própria vidaâ€, afirma.
A psicóloga afirma que o suicida, muitas vezes, chega à ação radical de tirar sua vida pela tristeza. “O suicida, à s vezes, tem uma vida estruturada, com bens, com famÃlia, mas pode, em algum momento da vida, ter passado por algum drama que pode ter deixado um vazio na pessoa, o que gera a tristeza e, em alguns casos, a intenção de tirar a própria vidaâ€, sustenta Leda Trindade.
Leda Trindade comenta que, em nÃvel mundial, os jovens e os idosos são os que mais morrem com causa de suicÃdio. A gerente explica que a sociedade capitalista e as cobranças desde cedo, podem desencadear quadros de estresse e depressão, conforme é a reação de cada indivÃduo.
“Existe uma cobrança do mercado para que as pessoas, desde cedo, assumam responsabilidades muito cedo, havendo cobranças e pressão por parte da famÃlia e da sociedade como um todo. Por outro lado, o idoso que, ao longo do tempo, acumulou sabedoria e passou por muitas experiências, acaba, numa fase da vida, se sentindo sozinho e com a ideia de que está dando trabalho para a famÃlia, gerando crise que pode desencadear em casos de suicÃdioâ€, explica a gerente.
Embora a tendência mundial seja o grande Ãndice de idosos que se suicidam, o sociólogo Benedito Carlos, que desenvolve tese de doutorado de suicÃdios em Teresina, afirma que, a nÃvel local, a maior incidência está apenas entre os jovens.
Teresina lidera números no Nordeste
Dados oficiais do Ministério da Saúde apontam que, nos primeiros 10 anos do século XXI, Teresina é a primeira capital do nordeste em suicÃdios e a segunda do Brasil, com Ãndices que apontam 14,4 suicÃdios para cada grupo de 100 mil habitantes.
Teresina perde apenas para Boa Vista no estado de Roraima, cujos dados pesquisados registram 15,7 suicÃdios para cada 100 mil habitantes entre a população jovem de 15 a 24 anos. O Piauà é o estado em que houve o maior aumento de casos, que cresceram 221,7% em 10 anos.
O professor Benedito Carlos expõe que a Organização Mundial de Saúde associa 90% dos casos de suicÃdio à depressão: “Estudos afirmam que a depressão é uma das maiores causas do suicÃdio. O que desencadeia a depressão são as crises, sejam econômicas, pessoais ou afetivasâ€.
Teresina é uma cidade moderna em visão de mundo, é projetada para o futuro, mas não tem oportunidade para a população. “Isso cria no imaginário dapessoa uma sociedade com visão moderna de mundo, afetando de maneira especial, aquelas que são mais frágeisâ€, afirma o professor.