A bandeira confederada, centro de polêmica nos EUA após o massacre em que nove pessoas morreram em uma igreja da comunidade negra de Charleston, na Carolina do Sul, simboliza "família", "união" e "amizade" para um grupo de descendentes americanos em Santa Bárbara d'Oeste (SP). "Não somos racistas", diz o presidente da Fraternidade Descendência Americana na cidade, Marcelo Sans Dodson.
Há 150 anos, o grupo celebra a bandeira confederada e comemora a imigração dos sulistas para o interior de São Paulo após a Guerra Civil dos EUA. Nos últimos dias, teve início um movimento para retirada do símbolo de órgãos públicos em diversas regiões dos Estados Unidos. E o uso da bandeira em Santa Bárbara d'Oeste repercutiu até fora do Brasil.
A polêmica sobre o uso de símbolos confederados reacendeu após o atirador Dylann Roof, acusado de matar as nove pessoas em Charleston, aparecer em fotos com a bandeira. O crime teria sido motivado por ódio racial e, devido à Guerra Civil, estados sulistas foram apontados no passado como defensores da escravidão.
Dodson disse, por telefone, que essa visão é errada e fruto de manipulação feita pelos vencedores da guerra. Em nota, ele afirma que a fraternidade "repudia e é contrária a qualquer tipo de discriminação, seja racial, religiosa, de gênero ou idade" e "defende a integração dos povos, o respeito religioso e a liberdade de expressão".
"A bandeira confederada simboliza para nós a família, a união, a fraternidade e a amizade", diz Dodson. Para a entidade, segundo ele, o massacre em Charleston foi um "claro exemplo de intolerância, incompreensão e desrespeito", e o jovem responsável pelos crimes "semeou a discórdia, a mágoa e a revolta".
"Lamentamos profundamente o ocorrido em Charleston bem como a discórdia gerada por este triste evento", afirma a nota da fraternidade, que acrescenta: "que o entendimento, a tolerância, o respeito e a compreensão sejam os motores das discussões nos EUA ao invés de expressões de ódio e discriminação sobre a memória confederada."
O espaço, também conhecido como Cemitério dos Americanos, foi fundado para receber os imigrantes que morriam e não podiam ser enterrados em terreno católico à época, já que eram protestantes, segundo os descendentes dos confederados.
As famílias então passaram a sepultar os parentes nos fundos da igreja da fazenda onde se reuniam uma vez por mês para a troca de alimentos e cultos. O templo é considerado o primeiro da religião Batista no Brasil.
"Nossos ancestrais, após serem convidados por Dom Pedro 2º para que vivessem no Brasil, encontraram aqui o abraço acolhedor e a paz para recomeçarem suas vidas. Seus descendentes são demonstradores da integração entre raças e povos", diz Dodson.