Impossível não assistir a um show do cantor piauiense Frank
Farias e não ligar a sua performance e linguagem a Raul Seixas. Suas letras, também com mensagens
apocalípticas nordestinizadas, soariam bem na voz do maluco beleza mais amado
do país. Embora deixe claro que suas referências musicais não se limitam à obra
de Raul Seixas, a figura carismática do
artista, em meio a invencionices geniais,
o faz singular no universo da musicalidade piauiense e, de imediato, o remete
aos palcos do fenomenal baiano.
"Raul Seixas é sempre atual, moderno. Sua música ‘O dia em que a terra parou’ já é vista como o hit da pandemia no Brasil", assinala.
Foto:Arquivo Pessoal.
Com mais de 100 troféus ganhos em festivais realizados no Piauí e Brasil afora, Frank Farias revela que suas apresentações, geralmente, obedecem a um tema, a um roteiro elaborado por ele, que pode constar de caixão de defunto, esqueletos, utensílios da tradicional cultura nordestina, assim como objetos que simulam a alta tecnologia alcançada pelo homem em suas descobertas. "Acho que essa mistura, essa parafernália, leva o público a ver essa identificação com Raul Seixas, o que só me orgulha e me deixa satisfeito pelo alcance que meu trabalho vem tendo há décadas", entusiasma-se.
"É evidente que quem assiste aos meus shows, de imediato lembra de Raul Seixas, mas as minhas influências musicais foram muitas, uma espécie de caldeirão de ritmos", acentua Frank Farias, lembrando, contudo, que Raul Seixas tem sido marcante em sua carreira, até hoje, "em decorrência de suas composições que fogem ao convencional, como eu também gosto de sair da mesmice, procurando, em meus personagens, uma visão diferente da vida, do que nos rodeia." Ele observa ainda que sua identificação com o Raul também está na forma de entrelaçar o rock aos ritmos nordestinos.
Traços em poesias
"Em meu livro mais recente, o poema Krig-Ha Bandolo remete ao fascínio que a obra de Raul Seixas exerceu em minha juventude", confessa o escritor e poeta Adriano Lobão Aragão, lembrando que a primeira vez que viu a imagem de Raul Seixas e ouviu sua música foi em junho de 1983, através de um programa de TV chamado Pluct, Plact, Zuuum, um especial infantil no qual um grupo de crianças viajava pelo espaço. Raul cantava a música Carimbador Maluco: "Tive uma empatia imediata por sua figura emblemática, por sua performance lúdica e visionária. No entanto, eu não guardei seu nome, somente sua imagem e sua música", conta.
Foto: Arquivo Pessoal.
O poeta acrescenta que por algum tempo ficou com uma pergunta ecoando na sua cabeça de criança: "Quem é esse cara? A resposta veio algumas semanas depois, quase que por acaso. No início dos anos 80, para ouvir música, contávamos em casa somente com uma vitrola Sonata, que tinha o formato de uma mala vermelha, na qual a tampa era a própria caixa de som. Mas tínhamos pouquíssimos discos. Entre estes, algumas coletâneas, e numa delas ha- via a música Mosca na Sopa. Quando a ouvi pela primeira vez, achei estranhíssima, mas gostei de imediato."
"No entanto, não sabia que era o mesmo cantor de Carimbador Maluco. Ao me dar conta de que meus dois ídolos da infância eram na verdade a mesma pessoa, o fascínio aumentou. E durante a adolescência, passei algum tempo ouvindo Raul Seixas regulamente com meus primos e amigos da rua, quase todas as noites, em fitas k7. Nesse sentido, meu interesse pela expressão artística guarda, desde o início, uma forte influência de Raul Seixas", diz o poeta.