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Diretor de 'Aquarius' liga escolha para o Oscar à 'realidade política'

O diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho divulga 'Aquarius' em Cannes nesta quarta (18) (Foto: AP Photo/Thibault Camus)

Para Kleber Mendonça Filho, diretor de "Aquarius", é "bem possível" que a escolha do filme para tentar uma vaga para o Brasil no Oscar 2017, feita pelo Ministério da Cultura, esteja em "total sintonia com a realidade política do Brasil".

Nesta segunda-feira (12), a pasta anunciou que o longa "Pequeno segredo", de David Schürmann, irá representar o país na corrida por uma indicação na categoria melhor filme em língua estrangeira da premiação americana.

"[A decisão] é coerente e já esperada", escreveu o cineasta em seu perfil no Facebook. "Para além de decisões institucionais via governo brasileiro, 'Aquarius' tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadedores nos cinemas brasileiros, com um tipo de impacto popular também raro."

Protagonizado por Sonia Braga, "Aquarius" era tido como um dos favoritos ao posto após estrear no festival de Cannes, em maio, e ser bem recebido pela crítica internacional. O filme gerou polêmica por causa de um protesto da equipe contra o impeachment de Dilma Rousseff no tapete vermelho da mostra francesa.

Duas produções chegaram a desistir da inscrição para o Oscar em apoio ao longa de Mendonça Filho. Primeiro, a equipe de "Boi Neon", de Gabriel Mascaro, saiu da corrida. Depois, a diretoraAnna Muylaert ("Que horas ela volta?") fez o mesmo ao deixar de fora o seu filme mais recente, "Mãe só há uma".

"[O filme] já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país. No final das contas, 'Aquarius' é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível", disse o diretor. "Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de 'Aquarius' um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento."

Julia Bernat, Pedro Queiroz e Sonia Braga em cena de 'Aquarius' (Foto: Victor Juca/Divulgação)

'Potencial para seduzir Academia'
A comissão que elegeu o representante brasileiro foi formada por Adriana Scorzelli Rattes, Bruno Barreto, Carla Camurati, George Torquato Firmeza, Luiz Alberto Rodrigues, Marcos Petrucelli, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense O presidente da comissão, Bruno Barreto, não estava presente.

Luiz Alberto Rodrigues foi o membro que fez o anúncio da escolha de "Pequeno segredo". Ele disse que a comissão analisou não apenas as qualidades artísticas do filme, mas também tentou considerar o que a Academia de Hollywood poderia levar em conta.

"A gente considerou essa hipótese: que filme teria maior potencial para seduzir o júri da Academia a escolher como concorrente a filme de língua esrangeira?", disse Rodrigues.

Cena de 'Pequeno Segredo', filme indicado pelo Brasil para tentar vaga no Oscar (Foto: Reprodução)

"Não foi uma decisão fácil. Não foi uma decisão unânime. Foi uma decisão pelo consenso", disse Silvia Maria Sachs Rabello, quando a comissão foi questionada sobre não escolher "Aquarius".

Marcos Petrucelli completou: "O 'Aquarius' ganha essa repercussão nos Estados Unidos porque já foi visto, passou no festival de Cannes. Coincidentemente o nosso filme que foi escolhido não foi visto ainda. Mas isso não significa nada [para o Oscar]. Tem filme que ganhou Oscar e não ganhou Cannes, e vice-versa".

Petrucelli também disse que a escolha levou em conta o perfil do júri que escolhe os filmes de língua estrangeira no Oscar. "São pessoas geralmente mais velhas, então um pouquinho mais conservadoras", disse. "A gente tentou encontrar um filme que tem essas características do cinema 'da cartilha'", afirmou o membro da comissão.

O Brasil no Oscar de melhor filme em língua estrangeira

A última vez que o Brasil teve um filme indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira foi em 1999, com "Central do Brasil". Também concorreram ao prêmio "O pagador de promessas" (1963), "O quatrilho" (1996) e "O que é isso, companheiro?" (1998).

Os brasileiros selecionados para concorrer nas últimas seis edições do Oscar foram "Que horas ela volta?", de Anna Muylaert, em 2016; "Hoje eu quero voltar sozinho", de Daniel Ribeiro, em 2015; "O som ao redor", de Kleber Mendonça Filho, em 2014; "O palhaço", de Selton Mello, em 2013; "Tropa de elite 2: O inimigo agora é outro", de José Padilha, em 2012; "Lula, o filho do Brasil", de Fábio Barreto, em 2011; e "Salve geral", de Sérgio Rezende, em 2010.