Portal O Dia - Últimas notícias sobre o Piauí, esportes e entretenimento

A Turquia não é um país. É uma salada de frutas

Uma salada de frutas

Primeiro, Troia, capital dos Hatitas (3.500 anos antes de Cristo). Depois, Hattusa, capital dos Hititas (do século 18 ao século 17 antes de Cristo). E vieram Xanthos, capital da Lícia (de 600 a 200 antes de Cristo); Sardes, capital da Lidia; Pérgamo, capital do reino de Pérgamo, (de 283 a 133 antes de Cristo); Amaseia, capital do reino do Pontus; Bizâncio, fundada pelo grego Bizas, que virou Constantinopla, em 330 depois de Cristo, quando Constantino criou o Império Otomano, antes de os otomanos tomarem Constantinopla; Edirne, segunda capital do Império Otomano, também antes da tomada de Constantinopla; Istambul, que de Constantinopla;  Niceia, quando a IV Cruzada cristã tomou Istambul, de 1204 a 1261 (depois de Cristo). E Ancara, a capital hoje.

Os povos que vieram e construíram têm nomes estranhos e belos, vieram desde o começo dos tempos, neste pequeno e fantástico país de 780 mil quilômetros quadrados e 75 milhões de habitantes.

Os turcos são herança de todos eles, de civilizações superpostas, desde o início dos tempos. Há marcas de presença humana 100 mil anos antes de Cristo. Esta é sua grandeza mas também sua tragédia.

Os turcos dizem que a Turquia é o “maior museu a céu aberto do mundo”. E é por causa de sua fantástica história. Cada cidade tem um pedaço de eternidade. Em cada canto um resto de civilização que se perdeu nas dobras da história e no sopro dos ventos, cobrindo de terra e tempo cidades e civilizações.

Como manter tudo isso na mais beligerante encruzilhada da historia humana, a ligação da Europa com a Ásia, do Mediterrâneo com o Mar Negro, da civilização ocidental com a civilização islâmica, dos projetos de dominação mundial dos Estados Unidos com a muralha que é a União Europeia?

Toda a história antiga girou em torno de eternas batalhas pela conquista de ligações de terras e mares, de estreitos: Gibraltar, Peloponeso, Dardanelos, Bósforo. Hoje, entre a Europa e a Ásia, há um novo estreito, feito de terra e chão, a Turquia. É por causa dele que os Estados Unidos e a Europa ameaçam fazer da Turquia uma nova Palestina, uma nova Bósnia.

A Turquia, como a Grécia, Roma, Jerusalém, Paris, China, tantos outros, é um Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Talvez nenhum outro espaço tão pequeno, nem mesmo na sagrada Grécia e na Roma divina, haja, tão numerosa e diversa, a presença da humanidade através da história.

Aqui, a Grécia esteve durante séculos, o Império Romano deixou sua marca e suas garras, a Mesopotamia virou Europa. Aqui, o cristianismo viveu seus três primeiros séculos de perseguições e exílio. E viveu seus três primeiros séculos de poder oficial. Aqui, a Alemanha perdeu uma guerra e Hitler outra. Aqui, a humanidade acendeu fogueiras eternas de cultura e sabedoria:

1 – Aqui nasceram Homero, o poeta,  São Paulo, o jornalista, Tales de Mileto, Pitagoras, Anaximenes, Anaximandro, sábios. Aqui ensinaram Platão e Apelokon. Aqui Hipodromos criou o urbanismo. Aqui se fez a primeira Escola de Escultura. Aqui Cleopatra e Marco Antonio se amaram.

2 – Quando Noé ancorou sua arca, foi aqui, no monte Ararat (5.165 metros) O Tigre e Eufrates, dois dos três mais importantes rios da antiguidade, são daqui. O templo de Artemisa e o Mausoléu de Halicarnasso, duas das sete maravilhas do mundo, estão (estavam) aqui. Para se asilarem, Nossa Senhora e São João fugiram para cá e aqui morreram. São Pedro falou aqui, pela primeira vez, a palavra cristão. A gruta do patriarca Abraão, padroeiro dos judeus, era em Urfa, aqui. E o manto, as espadas, uma carta, o estandarte, os pelos da barba, o dente e as pegadas de Maomé também estão aqui.

3 – A primeira moeda foi cunhada aqui, em Pérgamo, aqui, se descobriu o pergaminho e houve uma biblioteca de 200 mil volumes antes de Cristo, a mais importante do Império Romano. A primeira cereja que chegou a Europa saiu daqui.

Aqui, a historia troca de roupa: os gregos construíam o templo, os romanos trocavam o deus grego por um romano, os cristãos transformavam o templo em igreja, os otomanos faziam delas mesquitas, os ingleses, franceses, italianos, austríacos, alemães, arrancavam deuses, altares, minaretes, colunas e monumentos inteiros e levavam para seus museus maravilhosos.

Mesmo assim, a Turquia continua imenso museu do homem.

www.sebastiaonery.com   nerysebastiao@gmail.com