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Disputa sonora entre Wesley Safadão e Zeca Baleiro, em um bar

Imagem: Google 

Era metade da manhã de um domingo abrasador. E estou num bar próximo ao Mercado da Piçarra. E de repente, não mais que de repente, como diria o Vinicius de Moraes, um garotão de camiseta regata, com a cara do Wesley Safadão estampada no algodão, para debaixo dos umbrais do bar onde bebo cervejas 300 ml, e ouço inebriado algumas canções do Zeca Baleiro. O rapazote, de rosto rosado e barba rala, lança um olhar para o interior do ambiente, e nada de especial encontra, ao não ser o meu olhar, já quase trôpego. 

E do meu canto isolado, vejo o rapazinho menear a cabeça negativamente em minha direção. Pelo gesto deduzo que deve estar ironizando a música que escuto e o tamanho da cerveja que bebo. Pude ler tal informação em seu pensamento inquisidor: “que música horrível o coroa está a ouvir e que cervejinhas sem vergonha ele está a beber”. Pensou exatamente assim, ao me ver desolado bebericando minúsculos gargalos. Se não foram com estas mesmas palavras foram com palavras parecidas. 

Dito e feito. Logo o sujeitinho pediu que lhe trouxessem uma cerveja de um litro. Dessas que o homem ingere sozinho só para demonstrar que é bom de copo. Em seguida pede ao garçom que coloque sua mesa na calçada do bar, é de lá que, longe do barulho inadequado, quer ouvir suas músicas prediletas. Liga o som do carro, num volume que não atrapalha muito o som do bar. Começa ouvir com um sorriso sarcástico a voz estridente do forrozeiro Wesley Safadão. A música de lá se imbrica com a música de cá. Wesley Safadão se funde com Zeca Baleiro e vice-versa. O primeiro cantarola incontido, “beber beber/ bora beber/ e bota o litro para sofrer”. O segundo, entoa meloso: “ela achou meu cabelo engraçado/proibida para mim, no way”. O popular e o não tão popular assim pairam numa mesma atmosfera sonora. Uma verdadeira fusão de antagonismo musical. 

Nesse interim, seco mais uma garrafinha de cerveja nanica e peço mais uma, como um inesgotável Charles Bukowski. Do lado de lá, sob minha observação de agente do FBI, o jovenzinho esbelto, com ares de um Quincas Berro D’água, também solicita outro garrafão.  E como aqueles dois personagens do filme Beerfest - atenção menores de 18 anos, não assistam por favor – ficam ali, horas a fio, desafiando um ao outro, quem mais cerveja vai tomar.  

Sem falar na disputa travada entre um cantarolar dele e o cantarolar meu, sobre as músicas do Safadão e do Baleiro. Disputa essa ferrenha e sem qualquer lassidão.

A fanfarra musical, na verdade uma disputa idiota e de um pauperismo desqualificado, só termina quando o dono do estabelecimento diz aos dois seres competidores e não menos primitivos – provar que um ritmo brasileiro é melhor do que o outro é de uma ingenuidade sem fim - que precisa fechar para o almoço.