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O gigante acordou

Nas ruas, na TV, nos jornais, no radio e, é claro, nas redes sociais não se fala de outra coisa: o Brasil acordou. De “deitado eternamente em berço esplêndido” a “verás que um filho teu não foge à luta”, o status do brasileiro mudou, e não só nas redes sociais. Houve quem, a princípio, se referisse ao movimento que se iniciava como “manifestaçãozinha de facebook”.

� Depois que as ruas de onze capitais – fora outras cidades menores – foram tomadas de pessoas, fica difícil acreditar que não se trate de um movimento legítimo que, ao contrário do que alguns pensam – não saiu da internet para as ruas, mas saiu do coração inconformado do povo e tomou redes sociais e cidades reais.

� Não, não se trata de vinte centavos. Trata-se, sim, da indignação de um povo que se vê privado dos direitos mais básicos, como saúde e educação, mas que ao mesmo tempo vê um governo que investe milhões em estádios.

� O gigante acordou. A insatisfação guardada por anos parece ter fermentado dentro de cada um dos brasileiros e agora finalmente explodiu, sob uma única bandeira: a brasileira. Sem uma orquestração partidária ou um direcionamento ideológico, jovens, adultos, idosos, engravatados e desempregados; homens, mulheres e transgêneros; estão caminhando para dar um recado muito claro: não somos os idiotas que teimam em pensar que somos.

� Apesar de todos os ruídos paralelos destoantes, dos atos violentos emergentes da massa e até mesmo daqueles que caminham sem saber o que fazem ou onde pretendem chegar, as manifestações pelo Brasil marcam um momento importante exatamente por mostrar que o povo é o verdadeiro patrão e, como tal, precisa ser respeitado. O Estado, as instituições e os representantes eleitos pelo voto esquecem disso assim que os holofotes da campanha eleitoral se apagam, mas as imagens dos cartazes em punho, das centenas de milhares que caminham sobre pontes e avenidas impõem de um lado a noção de que o brasileiro descortina o “jogo do contente” e nem mesmo o futebol nos faz dormir e esquecer as agruras de ser brasileiro. Por outro lado, ver essa reação coletiva, consciente e politizada ao menos por grande parte dos “caminhantes” renova também a esperança de que um dia não teremos mais políticos eleitos pelo voto comprado ou trocado. Esse é o nosso desejo.