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Na fila do botox

“Vejo tanta gente preocupada em botar botox na testa. Eu queria poder colocar botox no cérebro! Tenho verdadeiro pavor de perder a capacidade mental, é isso o que mais me assusta quando penso na velhice. Quero ser uma atriz velha com capacidade de decorar um texto, quero ser lúcida na vida e na família”. Nem devia ser preciso destacar essa declaração da atriz Marieta Severo. No mundo ideal, o normal seria as pessoas se preocuparem com os efeitos que a passagem do tempo pode ter em suas mentes e espíritos, e não em seus corpos.

Mas o fato de que a declaração da atriz, feita em entrevista à revista Gol, tenha sido replicada exaustivamente em redes sociais só nos mostra o quão distantes estamos desse mundo perfeito em que o pensar e o sentir tenham mais valor que atributos físicos.

Muito fácil pensar em mulheres mulçumanas por baixo de suas burcas como vítimas de um sistema patriarcal que lhes tira o direito ao corpo e lhes torna cidadãs de segunda classe. Mas bem mais difícil pensar que a ditadura do corpo perfeito, da pele lisa, dos músculos rijos se insurge contra nós, mulheres do “civilizado” mundo ocidental, de forma talvez tão intensa quanto o que acontece com as mulheres afegãs.�

A verdade é que nos tornamos prisioneiras das normas defendidas por nós mesmas. Seremos felizes se estivermos magérrimas, sem rugas, sem cabelos brancos, com os cabelos sedosos e a pele reluzente.

A embalagem, infelizmente, tem ocupado o conteúdo e imposto uma série de cobranças e sacrifícios pouco racionais. É claro que não estamos defendendo aqui o abandono total da aparência nem a abdicação da vaidade.

Porém, mais que desejar envelhecer com o rosto plastificado ou como uma imagem congelada (literalmente), desejamos ter o orgulho de sentir o tempo passando com a intensidade da vida bem vivida. Que as rugas que a gente tenha um dia reflitam os sorriso que demos e as preocupações que tivemos com o que realmente importa. Que as marcas do nosso corpo revelem o bom uso que fizemos dele. Simples assim.�