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Homofobia: quando não mata o corpo, destrói a alma

É cada dia mais evidente, pra mim, que os danos causados pelos homofóbicos que batem ou o que matam não são os piores. Em quantidade, digamos que eles representam 1% do grupo. Eles poderão responder a um processo ou ser presos. Há esperança de que sejam punidos e sirvam de exemplo.

Os mais nocivos são aqueles que fingem. A turma do “não sou preconceituoso, mas...”, que compõe 99% dos homofóbicos. Eles não matam o corpo, mas destroem a alma. E não serão responsabilizados por isso. Pelo contrário, são considerados “cidadãos de bem”, dignos de respeito.

Quem presencia as atitudes dessas pessoas, não consegue perceber de imediato que são preconceituosas. É que elas vestem a homofobia com a capa da piada, da opinião, e – vejam só! – do amor.

Eis aí o motivo pelo qual afirmo que são mais danosos. Do homofóbico violento nós podemos fugir. Se nos sentirmos em perigo, podemos gritar, pedir socorro, chamar a polícia. Mas, dos homofóbicos dissimulados, temos que ser vítimas silenciosas. Denunciá-los pode nos transformar em algozes. “Você está exagerando...”, “Tem que respeitar a opinião”, “Eles não são obrigados a entender”, “Eles são de outra época”... E por aí vai.

Não se leva em consideração os males que essas pessoas causam à nossa alma. Poucos compreendem que elas não nos tiram sangue, mas arrancam lágrimas, destroçam o nosso coração, acabam com as nossas forças e com as esperanças de que um dia as coisas poderão ser melhores.

Geralmente, aqueles que escondem a homofobia estão logo ali, ao nosso lado. São pessoas tão próximas, que nós demoramos para admitir do que elas realmente são capazes. E, quando descobrimos, a dor se mistura com decepção e vergonha.

Tentamos compreender como o preconceito de pessoas que tanto amamos chegou àquele ponto, e não conseguimos. É um sentimento de impotência tão grande, que nossa única vontade é de nos distanciar daquilo que está nos fazendo tanto mal. Só que esta não é uma alternativa. O fardo precisa ser carregado.

Isso não significa, obviamente, se curvar diante do preconceito, mas encará-lo como uma missão. Vai ser desgastante, vai doer a cada palavra dita ou não dita, a cada reflexão que não foi feita, mas - quem sabe um dia - a gente consiga tirar essas pessoas das trevas da homofobia.

Eu gosto muito da palavra “resistência” e é ela que me guia. Sejamos firmes e resistentes. Se nada conseguirmos mudar, pelo menos ninguém pode nos acusar de não termos lutado para tornar melhores as pessoas que amamos.