�
“LIBERDADE, LIBERDADE ABRE AS ASAS SOBRE NÓS...â€
http://cirandinhapiaui.blogspot.com
Francisco Miguel de Moura*
� A frase acima é do Hino da Proclamação da República. Como acontece com todos os hinos, esse é também uma peça de louvor à República, refere-se ao seu tempo e à situação, portanto não se pode esperar uma grande poesia.� Entrementes, pelo que se sabe o Mal. Deodoro, no seu grito de “libertadorâ€, não falou uma só vez a palavra República. Ele deu o golpe, acompanhado por seu grupelho, e só se referia à queda da Monarquia. O Marechal nunca foi um republicano, pelo que se sabe. A República traria a liberdade de pensamento, idéias e um Estado baseado nessas idéias novas – o Positivismo, de Auguste Comte. Assim, nasceu nossa República, cuja Constituição foi copiada (mal copiada dos Estados Unidos). Agora, sim, o pensamento positivista dominante em alguns paÃses europeus instalava-se no Brasil através da influência que o Cel. Benjamin Constant exercia na intelectualidade: jornalistas, escritores, pensadores e polÃticos.� Não quisemos continuar Império, tendo a Princesa Isabel a assumir o trono e proclamar uma monarquia à inglesa, o rei manda, mas não governa: Governar ficaria para eles, os republicanos polÃticos, que teriam um Parlamento eleito e o Primeiro Ministro como na Inglaterra. O “Hino da Proclamação da República†foi, inicialmente, pensado como o novo Hino Nacional, pois queriam mudar tudo. Mania de nós, brasileiros, preguiçosos e fracos pensadores. Assim que caiu o regime monárquico, os republicanos estabeleceram novos sÃmbolos com a função de representar a transformação polÃtica acontecida no final do século XIX: hino, bandeira, etc. Em janeiro de 1890, o Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca lançou um concurso visando à oficialização de um novo hino para o Brasil. O Teatro LÃrico do Rio de Janeiro foi palco da disputa entre vários pretendentes a autores, acabando como vencedores José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867 – 1934) (letra) e (música) Leopoldo Miguez (1850-1902). Atuando como professor, jornalista, escritor e polÃtico, Medeiros e Albuquerque teve uma formação intelectual privilegiada, estudou na Escola Acadêmica de Lisboa e teve, no Brasil, o folclorista Silvio Romero como seu preceptor. Politicamente foi um grande entusiasta do ideal republicano, entre tantos outros, e quando o novo regime se instalou, Medeiros e Albuquerque assumiu alguns cargos públicos e administrativos. Leopoldo Miguez saiu cedo do Brasil e dedicou-se aos estudos musicais na Europa. Em 1878, voltou ao Rio para abrir uma loja de pianos e música. Como era professor e defensor da República, retornou à Europa e ali concentrou informações sobre a organização de institutos e conservatórios musicais. Em 1889, foi, então, nomeado diretor e professor do Instituto Nacional de Música. Mesmo havendo ganhado a grande disputa, o hino acabou não sendo utilizado como o novo hino do paÃs, continuando assim o nosso “OUVIRAM DO IPIRANGA...†sendo o sÃmbolo cantado. Em 1890, o governo brasileiro decretou que a criação dos dois republicanos fosse chamada de “Hino da Proclamação da Repúblicaâ€. Em 1989, a “Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense†comemorou o Centenário da República utilizando uma parte do refrão do hino em seu samba enredo. O tempo passou, mas esse hino tão pouco utilizado depois, em solenidades oficiais, é aqui lembrado, mesmo que somente a letra, como significativo sÃmbolo de nosso regime polÃtico. Aqui vai parte da letra, para os que têm interesse em seu conteúdo e contexto:
�
� Depois de tão distantes acontecimentos, poderÃamos ainda repetir o refrão, mas com outro sentido: É que “A LIBERDADE QUE ABRE AS ASAS ATUAIS†não é para o homem comum, mas para vilões, presos com muitos crimes na “corcundaâ€, para filhos da rua, sem pai nem mãe, que se tornaram assassinos a mando daqueles que distribuem droga e armas, e também para os criminosos do trânsito, os “black blocsâ€, os malfazejos, os polÃticos corruptos e os que não são polÃticos, mas também são corruptos. Nossa liberdade hoje é viver trancafiados em casa, com medo de ladrões e assassinos, drogados e psicopatas que nos atacam a qualquer hora do dia e da noite, sem dó nem piedade.
________________
*Francisco Miguel de Moura - Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras e da IWA(International Writers and Artists Association - USA)