Um dia depois de Iraj Harirchi
aparecer suando muito em uma coletiva de imprensa televisionada, um porta-voz
da pasta da saúde confirmou que ele estava contaminado com o novo coronavírus e
que fora submetido a quarentena. Diante do episódio, o presidente iraniano,
Hassan Rouhani, pediu que à população que não entrasse em pânico. Rouhani
sustentou uma postura positiva no sentido de superação ao vírus. Desde a segunda
quinzena de fevereiro, foram notificados 95 casos no Irã, no entanto
acredita-se que o número seja bem maior. A Organização Mundial de Saúde – O.M.S.
afirmou ser "profundamente preocupante" o aumento dos casos de
pessoas contaminadas no país. O diretor regional da Organização das Nações
Unidas – O.N.U. tinha uma viagem marcada para o Irã, mas resolveu adiar o
compromisso. Um porta-voz da O.M.S asseverou que a organização está definindo
uma data para a visita de uma missão técnica ao país. Confirmou ainda o envio
de suprimentos médicos e kits para diagnosticar a doença. Existe mais de 80 mil
casos confirmados de covid-19 no mundo, com 2,7 mil mortes, sendo a grande
maioria na China. Durante a coletiva de imprensa, Harirchi rebateu acusações
feitas por um membro do parlamento proveniente de Qom, considerado epicentro do
surto no país, de que as autoridades estariam tentando esconder a real dimensão
da contaminação no Irã. Ahmad Amirabadi-Farahani afirmou que a covid-19 teria
chegado à cidade havia três semanas e que havia feito 50 vítimas apenas no
local. O vice-ministro da Saúde negou que o número estivesse correto e disse
que renunciaria se ficasse comprovado que pelo menos metade daquele total
tivesse morrido por causa da doença em Qom. Amirabadi-Farahani disse
posteriormente ter mandado ao vice-ministro uma lista de 40 pessoas que teriam
falecido e afirmou que aguardava seu pedido de demissão. O secretário do
Conselho Nacional de Segurança, Ali Shamkhani, declarou ter pedido ao
procurador-geral para checar a veracidade das alegações do membro do
parlamento. O grande problema dessa situação em torno do coronavírus é que tanto
espalhar fake news quanto esconder a verdade pode perturbar a segurança
nacional e prejudicar a sociedade. As autoridades iranianas têm rejeitado a
hipótese de colocar Qom em quarentena e isso é prejudicial à saúde da sociedade
internacional, pois permite que o vírus se alastre. A cidade abriga o santuário
dedicado a Fatima Masumeh, irmã do oitavo imã, Reza, e é visitada por milhões
de peregrinos muçulmanos e por turistas todos os anos. O local também reúne
alguns dos principais clérigos xiitas e dezenas de milhares de estudantes de
teologia que vêm de todo o país participar do seminário conduzido por eles. Acredita-se
que o Irã tenha sido a fonte para a contaminação de países vizinhos como
Afeganistão, Bahrein, Iraque, Kuwait e Omã, que acabaram proibindo viagens para
a república islâmica. Os Emirados Árabes Unidos, um hub importante no Oriente
Médio, suspenderam todos os voos de passageiros e de carga para o Irã como
medida de precaução, pois já foram registrados 13 casos no país. A realidade é
que o Irã vive no eterno conflito entre religião e ciência. Os relatórios recebidos
de cidades em todo o Irã indicam que o número de casos é na verdade bem maior
do que está sendo divulgado pelas autoridades. Ao contrário da Itália, o
governo iraniano se recusa a impor quarentena às áreas afetadas pelo surto, sob
o argumento de que esta é uma medida antiquada, na qual não acreditam. Os
santuários xiitas nas cidades de Qom e Mashhad seguem abertos à visitação,
apesar de Qom ser um dos centros do surto. Muitos aiatolás importantes
acreditam que o santuário, que atrai milhões de peregrinos do mundo inteiro, e
seu importante seminário, são o orgulho do mundo xiita. Fechá-lo seria algo de
grande impacto para os clérigos, e algo a que não gostariam de se submeter a
não ser que houvesse pressão internacional. A atual situação mostra um conflito
claro entre fundamentalismo religioso e ciência. O Irã não tem os suprimentos
médicos necessários para conter o avanço do surto. As máscaras de proteção
disponíveis no país já se esgotaram e não há kits suficientes para fazer o
exame que detecta a doença. Uma parte dos profissionais de saúde foi infectada,
portanto existe ainda um temor de que não haverá médicos e enfermeiros
suficientes para tratar dos pacientes contaminados. A maioria dos iranianos
está extremamente preocupada e com esse tipo de postura adotada pelo Irã, toda
a comunidade internacional também deveria ficar.