Um sistema eletrônico é o
que separa muitas pessoas da
total liberdade. Por determinação da Justiça, alguns ex-detentos precisam utilizar a
tornozeleira eletrônica como
medida cautelar – ação que
também se trata de uma forma de reduzir a lotação nas
penitenciárias. Essas pessoas
estão inseridas na sociedade,
mas são poucas as oportunidades de emprego e de qualidade de vida que elas têm por
conta do dispositivo visível
na perna.
Muitos tentam disfarçar o
que pode ter sido um passado
não tão bom, mas este não é o
caso de Edivaldo da Silva Costa. Hoje, o jovem de 23 anos
trabalha como guardador de
carros próximo ao Mercado
Velho, no Centro de Teresina, e não esconde a vontade
que possui de trabalhar formalmente. Ele conta que usa
o dispositivo há cinco meses
e, nesse período, já buscou diversas formas de ingressar no
mercado.
Sem oportunidade formal, Edivaldo trabalha como guardador de carro (Foto: Moura Alves/ O Dia)
No entanto, Edivaldo relata
diversas situações em que os
empregadores sentem medo
de sua condição anterior como
detento. Por muitas vezes,
mandou currículos para empresas de Timon, mas a recusa é a resposta que recebe. “As
pessoas não gostam muito da
tornozeleira. Quando a gente vai atrás, a pessoa fica com
medo. Eu tinha um serviço,
mas fui preso e, quando saí,
não me quiseram mais. Aí eu
vim vigiar carro aqui no Mercado”, comenta.
Rotina
Além das dificuldades de emprego, conviver com a tornozeleira eletrônica também se torna
uma realidade cansativa, pois
existem algumas restrições: é
necessário chegar em casa às
21h e em hipótese nenhuma
Edilvado pode viajar. Contudo,
ele afirma que não tem previsão
para tirar o dispositivo.
Para o jovem, o mais trabalhoso é na hora que precisa ir
dormir, já que é o período de recarga da tornozeleira e, segundo
ele, muitas vezes, fica acordado
a noite toda por conta disso.
Edivaldo também aponta que
o dispositivo aperta sua perna
e, diversas vezes, também leva
alguns choques, especialmente
quando o equipamento está conectado à tomada.
Natural de Timon, no Maranhão, Edivaldo conta que
foi preso por conta de tráfico de drogas. Todos os dias,
ele faz o percurso de ida e
volta para a cidade e, atualmente, fatura em média R$
30 por dia com o serviço
de guardador de carro, no
Centro de Teresina. Para ele,
este é um modo de se estabelecer como cidadão, utilizando o valor para atividades básicas, principalmente,
a alimentação.
Apesar do equipamento visível em sua perna, o rapaz
relata que nunca passou por
situações constrangedoras.
Quando os donos de carro
que deixam o veículo sob sua
responsabilidade perguntam
a respeito da tornozeleira, ele
fala sua história sem problemas. Edivaldo acrescenta que,
todo mês, comparece ao Fórum Criminal para verificação
do equipamento.
Esperança
Hoje, o jovem destaca que
continua aguardando as oportunidades de emprego que poderão surgir em seu caminho. A
confiança faz parte de seus dias
no Centro da Capital, assim
como a tornozeleira eletrônica.
“Hoje a vida é boa. Não tô
mexendo com coisa errada
mais. O problema hoje é a pulseira [tornozeleira], porque
ela não me arranja emprego
de carteira assinada. Atrapalha
mais a questão do trabalho,
quero carteira assinada. Mas
eu espero ser chamado e um
dia eu vou”, finaliza.
Edição: Virgiane PassosPor: LetÃcia Santos