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Teresinenses desconhecem impacto de reforma que passa a vigorar em 6 dias

Portal O DIA constatou que a população teresinense desconhece os efeitos da nova legislação sobre os trabalhadores.

05/11/2017 08:12

Sancionada pelo presidente Michel Temer no dia 13 de julho, a reforma trabalhista entra em vigor a partir do próximo sábado (11). Em conversa com trabalhadores no Centro da capital, o Portal O DIA constatou que boa parte da população teresinense ainda desconhece os impactos da nova legislação sobre os trabalhadores.

Para alguns dos entrevistados, um dos pontos mais temerosos da reforma é a terceirização. No entanto, quando questionada sobre outras mudanças, a população mostra desconhecimento a respeito do tema.

Esse é o caso do autônomo Israel Sousa. Mesmo sem entender a reforma, ele teme que as mudanças na legislação afetem a entrada dos seus filhos no mercado de trabalho. “Acho que vai ficar mais difícil. Não sei dizer o que vai piorar, mas acho que vai piorar”, enfatiza.


Foto: Pedro Ventura / Agência Brasília

Assim como Israel, a vendedora ambulante Madalena Ferreira também acredita que a reforma irá piorar a vida do trabalhador. “Para mim não vai afetar muito, porque eu nunca gostei de trabalhar para ganhar salário mínimo, preferia fazer uma faxina ou lavar roupa para fora”, revela.

Sobre a terceirização, os trabalhadores temem que a mudança vá precarizar ainda mais as relações de trabalho. Por isso, os entrevistados são enfáticos ao afirmarem que, com a reforma, o trabalhador passará a ter menos direitos. “O trabalhador não tem mais direito a nada, estamos sendo escravizados. Essa terceirização vai piorar”, destaca Andressa Rodrigues, que atualmente está desempregada.

Na prática, o principal ponto da terceirização é a contratação de trabalhadores terceirizados para exercer qualquer função, inclusive a atividade-fim, proibida anteriormente. Para o professor José Ribeiro, essa mudança segue uma tendência do governo, em terceirizar os serviços públicos. “Isso precariza o trabalho, diminui os salários”, diz.

O desconhecimento do teor da reforma trabalhista é perceptível também na confusão que alguns teresinenses fazem entre a proposta que foi aprovada e a reforma previdenciária. Andressa Rodrigues, por exemplo, afirma que o ponto principal da reforma trabalhista é tirar o direito do trabalhador de se aposentar. No entanto, a reforma não contempla a aposentadoria. “Para mim o ponto principal é não ter direito a se aposentar, porque se aposentar com 70 e poucos anos é muito ruim”, afirma.

O aposentado José Gonçalves teme que a reforma aumente o desgaste entre o trabalhador e o empresário, pois com a prevalência do negociado sobre o legislado e o fim do imposto sindical, os sindicatos passarão a ter menos força para negociar os direitos das categorias. “Os sindicatos estão desorganizados, o trabalhador agora não consegue negociar com o patrão e a tendência é só piorar”, declara.

Já para o servidor público Rodrigues Júnior, o principal ponto negativo da reforma é a defasagem salarial, pois a lei trabalhista permitirá o pagamento de salários por hora ou por diária, ao invés de mensal.

Apatia

Para o cientista político Vitor Sandes, a apatia da população teresinense a respeito da reforma trabalhista é um reflexo da forma como a sociedade brasileira está configurada, em que a formação sociológica, especialmente em questões relacionadas à vida política do país, é limitada e tem se tornado cada vez mais técnica.

Ele acredita que a reforma do ensino médio vai piorar essa situação. “Estamos formando pessoas com cada vez menos capacidade de compreender e debater questões tão complexas”, pontua o professor, acrescentando que a formação básica do brasileiro vai na contramão de países europeus, que têm investido em formação de caráter mais humanístico.


Foto: Arquivo O Dia

Todavia, o cientista político destaca que a aprovação da reforma não está relacionada à apatia do brasileiro e sim à capacidade do presidente Michel Temer em arregimentar aliados para a sua base, o que tem favorecido a aprovação da agenda do governo. “Se nós olharmos para as grandes reformas que houve no país, o brasileiro sempre esteve à parte desse processo. Quem participa e protesta são os movimentos sociais e os sindicatos, por serem mais mobilizados”, ressalta.

O cientista político destaca ainda que alguns discursos sobre a reforma trabalhista apontam pontos que são considerados positivos pela população, ao contrário da reforma da previdência. “No caso da reforma trabalhista, existe esse discurso de que vai flexibilizar alguns trabalhos e gerar mais postos de emprego, e isso soa popular para alguns setores. Enquanto a reforma previdenciária vai afetar diretamente a renda familiar e o aumento da quantidade de anos para se aposentar, e essas são medidas bastante impopulares”, finaliza.

Por: Cícero Portela
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