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Resgatar vínculos previne suicídio; veja 13 formas de precaução

Esta é uma das formas de prevenir o suicídio destacadas pelo psiquiatra Vicente Gomes. O tema volta à tona diante de "jogo" e série que estariam estimulando jovens a atentarem contra a própria vida.

22/04/2017 09:23

1 – Resgatar vínculos

O suicídio é um problema complexo para o qual não existe uma única causa ou uma única razão. Ele resulta de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. 

A ideia central presente no suicídio é, quase sempre, dar cabo a um sofrimento e realizar uma violência auto infligida que transgride as leis sociais sobre a vida e morte. E, por essa razão, o comportamento suicida traz impacto e inquietações para a sociedade, transformando o ato em um tabu cheio de estigmas e mitos.

O reconhecimento dos fatores de risco e dos fatores protetores é fundamental e pode ajudar quem sofre e quem convive com essa possibilidade. Nesse cenário, o médico da Associação Psiquiátrica do Piauí, Vicente Gomes, alerta para cenários que devem ser percebidos e levados em consideração para que a prevenção seja eficiente e ajude a diluir as altas estatísticas de suicídios, principalmente, entre o público mais jovem. 

Para Vicente, o restabelecimento dos vínculos familiares e afetivos é de fundamental importância. “Precisamos ver o que está acontecendo na vida das pessoas que nos cercam. Os pais, muitas vezes, pensam que por estar pagando uma faculdade, pagando tudo, estão cumprindo com sua função. E não é bem assim. É preciso conversar, perceber como esses jovens estão passando pela vida, o que estão enfrentando. É preciso resgatar os vínculos”, afirma.

É muito importante resgatar momentos como sentar com os filhos sem pressa, ouvir o que dizem, não julgar, e sim respeitar e participar do mundo que para os jovens é importante, já que tentar fazer que eles pensem igualmente a um adulto ou ficar o tempo todo questionando seus atos, não é o melhor caminho.

2 – Pedir/aceitar ajuda

Estudos em diferentes regiões do mundo têm demonstrado que, na quase totalidade dos suicídios, os envolvidos sofriam por algum tipo de um transtorno mental. Os estudos têm demonstrado que indivíduos que padecem de esquizofrenia, depressão,  transtorno afetivo bipolar e outros tipos de transtorno de personalidade estão propensos a tomar atitudes mais radicais quando em crise. Por isso, o tratamento é fundamental.

“A maioria das pessoas que fala em suicídio tem algum tipo de transtorno mental, e isso é algo que a gente consegue prevenir. Buscando tratamento, tratando o transtorno mental. Os jovens são um público de risco, porque a gente sabe que a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno de personalidade, abuso de álcool e drogas, são os transtornos que estão mais relacionados ao suicídio e que a adolescência é uma fase que comumente aparece. É preciso pedir ajuda de um profissional, da família para que isso possa ser tratado”, ressalta o psiquiatra Vicente Gomes.

Quando observado algum sintoma de depressão, ansiedade ou qualquer outro tipo de confusão mental, deve-se procurar uma unidade básica de saúde com atendimento psicológico, psiquiátrico ou ambulatórios de saúde. Após uma avaliação, o paciente poderá ser encaminhado, dependendo do caso, para um hospital com atendimento psiquiátrico ou para um Caps.


3 – Mudança de comportamento

As pessoas que planejam cometer suicídio normalmente apresentam padrões específicos ou bastante recorrentes. Entre eles está a mudança de comportamento, como alerta o psiquiatra Vicente Gomes. 

“Se você percebe que seu filho está dormindo muito ou dormindo pouco; ou se ele emagreceu ou anda comendo muito; está se isolando mais, tendo variações bruscas de humor. Esses podem ser sinais que algo não está bem. É preciso conversar e buscar ajuda de um especialista”, destaca.

O especialista afirma que é comum encontrar no comportamento das pessoas que pensam em suicídio uma avaliação de se julgar incapazes de controlar a própria vida, sentir-se desesperançosas e não acreditam que haja outro modo de aliviar a dor que não inclua a morte. “As pessoas dão sinais e é preciso percebe-los”, alerta.

4 – Atenção a frases alarmistas

Há um mito dito com recorrência que as pessoas que falam sobre o suicídio não farão mal a si próprias, pois querem apenas chamar a atenção, mas isso é um conceito falso, como alerta a cartilha do Centro de Valorização a Vida (CVV). 

Existem diversas dicas que podem indicar que uma pessoa possa estar enfrentando esse tipo de problema e planejando cometer suicídio e as frases de alarme podem denunciar a situação: “A vida não vale a pena”, “Nada mais importa”, “Não ficarei magoado mais pois não estarei mais aqui”, “Vão sentir a minha falta quando eu me for”, “Você se sentirá mal quando eu me for?”, “Não aguento a dor”, “Não consigo lidar com tudo isso – a vida é muito difícil”. 

Parentes, amigos ou pessoas que convivam no ciclo social de indivíduos que deixam tais alertas devem permanecer abertos para ajudar a lidar com a situação.

5 – Não ficar sozinho(a)

Evitar amigos, familiares e colegas de trabalho é algo comum entre os suicidas, que tendem a se isolar de qualquer interação. No entanto, entre as recomendações da cartilha de Prevenção do Suicídio da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre os principais fatores de proteção que reduzem o risco de suicídio incluem a manutenção da relação interpessoal.

Encontrar apoio da família, de amigos e de outros relacionamentos significativos; ter crenças religiosas, culturais, e étnicas; estar envolvimento na comunidade; buscar alimentar uma vida social satisfatória;  insistir em integração social como, por exemplo, através do trabalho e do uso construtivo do tempo de lazer; bem como buscar acesso a serviços e cuidados de saúde mental são destaques para contrabalancear o peso imposto por circunstâncias difíceis da vida.

6 – Não ativar ‘gatilhos’

Muitas vezes, os sentimentos suicidas podem ser causados por uma situação específica, como a dor do abandono, a perda de um emprego ou uma grande desilusão amorosa. Para esses casos é preciso lembrar que a depressão situacional também pode ser tratada. 

Fatores outros também podem influenciar na vida de uma pessoa que já se encontre abalada psicologicamente. O sucesso da série ‘13 reasons why’, da Netflix, tem alarmado para o risco da banalização da prevenção ao suicídio. Para alguns especialistas, a série pode funcionar como um ‘gatilho’.

“Essa série não deveria ser veiculada, ela deveria ser totalmente proibida. Imagina uma série que mostra uma garota se suicidando, esse é um desserviço muito grande para qualquer trabalho de prevenção ao suicídio. O ideal é que esses adolescentes fossem impedidos de assistir a essa série, mas como não há como evitar, os pais devem assistir junto e conversar, mas não só isso, porque não deve ser só nesse momento”, descreve a psicóloga Cíntia Araújo.

Para a profissional, os pais devem estar atentos a todos os movimentos dos filhos, devem saber o que está acontecendo e dar espaço para o diálogo. “Também tem que ter limite, mas tem que ter carinho e compreensão, porque o filho é uma individualidade. A série está sendo irresponsável porque ela não está mostrando uma alternativa que não seja o suicídio, não está mostrando uma saída”, condena.

7 – Evitar consumo de álcool e drogas

Os comportamentos suicidas têm sido associados à depressão, abuso de substâncias, esquizofrenia e outras perturbações mentais, além de aos comportamentos destrutivos e agressivos. 

Em casos em que o sujeito se perceba com emoções abaladas ou suscetível a fatores externos, evitar o consumo de substâncias que possam alterar os níveis de consciência são fundamentais.

8 – Manter o sono em dia

Um sono desregulado, interrompido ou incompleto pode, em longo prazo, prejudicar o equilíbrio do organismo e a saúde. Além disso, a frequência de uma má noite de sono pode significar a presença dos distúrbios, que atrapalham o sono considerado normal e a saúde do indivíduo. Por isso, embora o sono não tenha o poder de curar a depressão ou as tendências suicidas, a falta de sono pode agravá-las.

Tentar definir horários regulares para alimentação, trabalho, exercícios físicos podem contribuir para um sono de qualidade. Evitar os incômodos ao dormir, utilizando roupas leves, mantendo o ambiente arejado e a postura correta durante toda a noite também são técnicas que podem ser lançadas mão.

9 - Grupos de apoio

Encontrar ajuda, às vezes, representa um primeiro passo para a recuperação, ainda que parcial. No Brasil e no mundo, vários grupos se dedicam à tarefa de prestar esse auxílio. No CVV, existem Grupos de Apoios aos Sobreviventes do Suicídio, que funcionam em diferentes regiões do país. 

Nas reuniões mensais, é possível conversar de forma segura, sigilosa, e falar sobre questionamentos que muitas vezes acompanham aqueles que perderam uma pessoa querida. A tônica é sempre a mesma: auxiliar na troca de experiências e oferecer apoio emocional, de forma que os sobreviventes possam conversar abertamente com aqueles que tenham passado por experiência similar.

10 - Ter empatia

Para muitos, a empatia é a mais complexa capacidade que uma pessoa pode desenvolver durante a vida, pois consiste em estar disposto a enxergar as situações da vida de uma outra pessoa sob o ponto de vista dela; e, ao mesmo tempo, procurar estar isento de seus pontos de vista individuais. 

A empatia é a capacidade de enxergar-se no lugar de outra pessoa, com vontade de compreendê-la, sem fazer pré julgamentos. Para pessoas que desenvolvem pensamentos suicidas, o acolhimento é fundamental. 

Sendo assim, nutrir empatia com as pessoas que fazem parte do ciclo social mais próximo é uma atitude que pode salvar vidas diariamente.

11 – Novas escolhas

Entender que é possível fazer novas escolhas para mudar diariamente. Essa é uma das orientações dos profissionais da saúde para lidar com situações conflitosas e ver esperança na mudança de vida.

“O instinto maior que todo ser humano tem, ou deveria ter, é o de sobrevivência. Partindo deste ponto o suicídio é algo que contraria a própria “natureza” humana. Muitas vezes na busca pela sobrevivência, seja ela fisiológica, psíquica ou social, as pessoa são desafiadas a desenvolverem habilidades e comportamentos que sejam capazes de atender as exigências do meio que vivem, e ao mesmo tempo, a conciliarem essas exigências com seus interesses e objetivos de vida. Quando esse esforço é exitoso e bem sucedido a vida passa a fazer todo sentido e se desenvolve de forma favorável e em harmonia, pois as experiências são significadas de forma que levam ao crescimento pessoal e a resiliência”, destaca a psicóloga Maria Claudineia.

O suicídio é uma medida drástica, mas existem outras medidas drásticas que não são irreversíveis.

12 – Dar tempo ao tempo

Lidar com as causas dos pensamentos suicidas, consultar um médico, iniciar um tratamento, buscar restabelecer-se e lidar com os problemas são atitudes fundamentais para sair de situações de risco. 

“Diga a si mesmo que não vai fazer nada por 24 horas. Depois das 24 horas, dê-se mais 48 horas e, então, espere mais uma semana. É claro que você deve procurar ajuda durante esse tempo, mas, muitas vezes, perceber que é possível sobreviver por um curto período de tempo, dia após dia, poderá ajudá-lo a descobrir que tal situação pode ser superada”, recomenda a cartilha de prevenção ao suicídio da OMS.

Tomar outras medidas para superar os sentimentos negativos relacionados ao suicídio, como procurar um amigo ou profissional de saúde, enquanto se dá mais tempo para refletir sobre as coisas.

13 - Rede de apoio

Espaços como o Provida, programa desenvolvido no Hospital Lineu Araújo, Centro de Teresina, conta com um ambulatório que fica disponível durante todos os dias da semana, nos dois turnos, para receber pacientes através de atendimento psicológico e psiquiátrico, com objetivo de atuar no enfrentamento a ideias suicidas em Teresina fazem parte da rede de prevenção ao suicídio. 

O espaço ressalta a necessidade do diálogo aberto e preventivo sobre o tema, que deve fazer parte da sociedade. Aspectos emocionais, psiquiátricos, religiosos, sociais e culturais podem estar associados ao suicídio. Por isso, é imprescindível que os fatores de risco sejam identificados o quanto antes pelas pessoas próximas ao convívio, tais como transtornos psiquiátricos, abuso de substâncias como álcool e outras drogas, brigas familiares, perda do emprego, doença grave, dívidas, entre outros. Nesse cenário, a informação é a principal ferramenta.

O CVV atua em diferentes estados do território nacional. Em Teresina, a ONG trabalha há 30 anos e dar apoio o emocional, em forma de conversa aberta e acolhedora, sem a pessoa atendida receba críticas, julgamentos ou cobranças. 

Pelo telefone, os voluntários atendem através do número 3222-0000. Em âmbito nacional, a ligação gratuita pode ser feita pelo número 141. O centro também atende através de chat pela internet, no endereço http://www.cvv.org.br.

Por: Glenda Uchôa
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