Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Relações sociais interferem em transtornos e comportamentos suicidas

Ao longo deste mês, a campanha Setembro Amarelo discute a questão do suicídio, que acomete pessoas em todo o mundo.

01/09/2017 08:11

As relações sociais podem interferir positivamente ou negativamente no desenvolvimento ou agravamento de transtornos psicológicos e comportamentos suicidas. É o que alerta o psicólogo Carlos Aragão, membro da Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, uma das entidades ligadas à campanha Setembro Amarelo, criada para discutir a questão do suicídio, que acomete pessoas em todo o mundo. 

Ele explica que quanto mais integrada socialmente a pessoa é, menor o fator de risco e maior o de proteção contra problemas na saúde mental. “Ter vínculos relacionais mais sólidos, como os amigos, é um fator de proteção não só contra o suicídio, mas contra qualquer mal. As pessoas mais isoladas e que procuram refúgio virtual demasiado têm um fator de risco a mais. Hoje, com as redes sociais e com o individualismo crescente, muitos procuram as relações virtuais de forma excessiva, achando que vão ter um conforto para a vida e que ali vão desenvolver vínculos consistentes. Mas é como dizem, nunca estivemos tão conectados, mas também nunca estivemos tão solitários”, enfatiza. 

O psicólogo destaca que mesmo as relações consolidadas podem contribuir para o surgimento de transtornos. Segundo ele, qualquer ambiente, família, escola, trabalho ou igreja, pode ser fator de risco ou de proteção, a partir do momento em que dão ou não a importância devida às pessoas que precisam de ajuda. 

“Pais que negligenciam os filhos, são muito ausentes, podem se constituir como um fator de risco para crianças e jovens. Assim como os pais que dão atenção e dialogam podem ser fator de proteção. Uma mesma relação pode atuar como ajuda ou contribuir para o agravamento de um quadro psicológico fragilizado”, explica o especialista. 

Publicidade 

Assim como as relações sociais, a publicidade, que diariamente bombardeia as pessoas com o estímulo do consumo, pode interferir na autoestima das pessoas e fragilizar o emocional e psicológico das pessoas. A respeito do assunto, Carlos Aragão explica que a melhor saída é desenvolver um filtro e uma conscientização daquilo faz e não faz bem para uma vida razoavelmente feliz. 

“Os estímulos externos em interação com o que construo internamente, valores, competências emocionais, podem fazer com que a pessoa se fortaleça para enfrentar as dificuldades do mundo ou contribuir para que ela seja muito fragilizada e qualquer dificuldade se torne um caos, podendo induzir o comportamento a chegar até um comportamento suicida”, explica o psicólogo. 

Depressão por si só não leva pessoa a tirar a própria vida 

O psicólogo Carlos Aragão chama atenção também para a desmistificação da relação entre depressão e suicídio, que a maioria das pessoas estão acostumadas a fazer. De acordo com ele, é equivocado associar esses dois problemas diretamente. Ele esclarece que a depressão é, sem dúvida, um fator de risco importante para o comportamento suicida, mas que ela por si só não é uma determinação. 

“É errada a impressão ou afirmação que todo mundo que tem depressão vai cometer suicídio ou que todo mundo que tem comportamento suicida tem depressão, isso não é verdade. O quadro clínico da depressão, um dos diagnósticos é a idealização suicida, portanto, prevenir a depressão, é prevenir o suicídio. Mas não se resume a isso”, frisa. 

Carlos explica que o suicídio é um fenômeno muito complexo e multi-determinado, portanto não tem uma única causa. Um determinado fator é apenas precipitante, mas não a única razão. “Não podemos atribuir uma causa e efeito para o suicídio. Há vários fatores que interagem entre si e podem levar ao comportamento suicida. Às vezes, aparece uma notícia que um homem cometeu suicídio porque foi traído pela mulher, não é verdade. Talvez, a traição foi apenas a gota d’água para o comportamento que ele teve”, esclarece. 

Tanto fatores psicológicos, sociológicos e genéticos, como fatores religiosos, culturais, econômicos e ambientais, podem contribuir para o desenvolvimento de um comportamento suicida. 

Conheça alguns sinais que podem indicar ideação suicida 

Carlos Aragão aponta alguns sinais que devem ser observados e que podem indicar uma ideação suicida. A tristeza profunda, o isolamento social e as mudanças bruscas de comportamento são alguns dos sinais para o alerta da população. 

“A anedonia, isto é, perda do prazer por atividades nas quais ele tinha anteriormente, crises compulsivas de choro, queda no rendimento acadêmico e profissional sem motivos aparentes, frases melancólicas, como ‘minha vida não tem mais sentido’ e vazio existencial, são indicativos e devem ser levados a sério. Assim como o desespero; antes das pessoas fazerem a tentativa, normalmente aparece o desespero humano, então observar isso também é importante”, orienta o especialista. 

Carlos destaca a importância desses sinais serem encarados com seriedade, não como pessoas que querem chamar atenção ou que são manipuladoras, pois, em função desses preconceitos, muitos deixam de ser uma ajuda importante para a pessoa naquele momento. “O correto é oferecer ajuda e depois ver qual o quadro dessa pessoa para encaminhá-la a um profissional, que são psiquiatras e psicólogos”, afirma. 

Prevenção 

Entre as formas de prevenção, o psicólogo destaca a importância do ambiente familiar acolhedor e sadio, a construção de vínculos fortes, hábitos saudáveis, como ter uma boa qualidade de sono e a prática de atividades físicas, e a não resistência de pedir ajuda quando se está precisando. 

“É importante que nós entendamos que todos nós temos nossas dificuldades, em determinado momento vamos precisar do outro. Nesses momentos, devemos entender que pedir ajuda não é um sinal de fracasso, derrota ou covardia. Pedir ajuda quando a gente realmente precisa é um sinal de inteligência e sabedoria”, enfatiza o profissional. 

Setembro Amarelo conscientiza para prevenir 

Durante todo o mês de setembro, vários eventos, palestras e rodas de conversas são organizadas em referência à campanha Setembro Amarelo, que foi criada para discutir socialmente o problema do suicídio, que acomete pessoas em todo o mundo. Desde 2014, quando a campanha foi trazida ao Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), diversas atividades desenvolvidas no nono mês do ano. 

O psicólogo Carlos Aragão, membro da Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, esclarece que não existe uma fórmula para prevenir o problema; porém, existem diversas formas de conscientização que podem minimizar a possibilidade de comportamentos suicidas e é essa a proposta da campanha, dialogar, orientar e conscientizar. 

Em Teresina, alguns grupos intensificaram as iniciativas em prol da campanha ainda no mês de agosto, como a Liga Acadêmica de Suicidologia do Piauí - Laspi, que durante todo o ano faz palestras em escolas, hospitais e entidades a respeito do assunto. O Instituto Federal do Piauí (IFPI) é outra instituição que já iniciou as atividades. Na última segunda-feira (28), o IFPI organizou o IV Ciclo de Palestras sobre Suicídio. 

Para o Dia D da campanha, 10 de setembro (Dia Mundial do Combate ao Suicídio), diversas atividades também serão desenvolvidas em toda a Capital. O Hospital da Primavera, em parceria com todos os hospitais da rede municipal de Teresina e colaboradores voluntários, está organizando a Caminhada/ Abraço Coletivo e roda de conversa com os objetivos de conscientizar sobre o suicídio e as formas de prevenção. O evento será realizado às 17h no Parque Estação da Cidadania e os participantes são convidados a usar camiseta amarela e levar balões também amarelos.

Edição: Virgiane Passos
Por: Karoll Oliveira
Mais sobre: