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"Precisamos devolver a cidade para as pessoas", diz Firmino Filho

Em entrevista, o prefeito de Teresina comentou o enredo do aniversário da cidade e os problemas que Teresina enfrente.

16/08/2017 08:35

ODIA: Como está o andamento das obras de mobilidade urbana da capital? Algumas já estão feitas, outras em andamento, mas há ainda muitas reclamações por parte da população, sobretudo em relação ao transporte público. Qual o cronograma dessas obras?

Firmino: A rigor, o novo sistema de transporte público precisa, para entrar em operação, de um conjunto de itens. Primeiro as obras, que incluem os corredores de ônibus, os terminais de integração. Segundo precisa ter a reformulação das linhas, que provoca uma reformulação do gerenciamento por parte da Strans e, terceiro, um conjunto de investimentos por parte das empresas. Então, a programação incluía, o início pela zona Sul, mas tivemos o problema com a Praça do Parque Piauí e isso atrasou. Então, a região que foi possível começar foi a Sudeste. Lá tivemos a construção dos terminais e a principal obra que foi a Ponte Anselmo Dias. Lá já iniciamos a integração como forma experimental aos sábados e feriados. Para que ele possa funcionar de forma definitiva, vamos precisar dos ônibus troncais, com ar condicionados, que já estão sendo contratados pelas empresas, por meio de um financiamento com a Caixa Econômica. Acreditamos que, até o final de outubro, teremos esses ônibus. A região sul vem na sequencia, seguida da zona Norte e, por último, a Leste. A zona leste será a última, mas, no segundo semestre do ano que vem, esses terminais estarão em funcionamento. Todo o sistema deverá estar em funcionamento no final de 2018. O objetivo é dar mais rapidez e qualificar também com os ar condicionados nas linhas troncais. Existe, de maneira geral, uma queda no número de usuários do transporte público e, o objetivo com essas mudanças é, reverter, com ganhos de qualidade, o número de passageiros.

ODIA:  Teresina tem discutido o Plano Diretor e hoje há crescimento horizontal da cidade. Quais os principais problemas que essa horizontalidade da cidade cria e quais as principais medidas que a Prefeitura pode adotar para solucionar isso?

Firmino: A lógica da cidade é sua concentração. À medida que ela se desconcentra, os custos para se manter a cidade são crescentes. Somente um alto nível de renda é compatível com a manutenção dessa cidade. Los Angeles, por exemplo, é riquíssima, mas tem um espalhamento muito grande. Teresina, que é uma cidade bem mais pobre do que Los Angeles, tem a mesma densidade habitacional. Aproximadamente 30 habitantes por hectare. Isso mostra como esse espalhamento da cidade sai caro. Teresina não tem o mesmo nível de renda que Los Angeles, então, é mais um motivo para esse adensamento. Nós fizemos o planejamento urbano, estamos discutindo um novo Plano Diretor de Transportes, para tentar reverter esse espalhamento da cidade. E vamos ter, depois, outra descentralidade, que é ao derredor dos terminais de integração.

ODIA: O senhor tem dito sempre da necessidade de mudanças no centro da cidade para que as pessoas voltem a morar no centro. Que medidas estão sendo pensadas nesse processo?

Firmino: Nós estamos fazendo um fórum de debates com os principais atores do centro. Fazendo um levantamento e buscando traçar um plano de ação para requalificar o centro. São vários desafios para fazer com o que o centro volte a ser habitável. Ao longo do tempo perdemos essa característica de morar no centro. A falta de habitantes no centro, leva a insegurança, e precisamos reverter isso para que o centro se torne mais humano, com mais vida. É importante que possamos fazer o debate sobre a mobilidade no centro. O crescimento da frota fez com que houvesse um conflito muito intenso, com o carro adentrando o espaço do pedestre, do ciclista, inclusive ocupando as calçadas. Esse debate sobre estacionamentos, sobre os espaços públicos deve ser feito de forma clara e, obviamente, temos que priorizar o pedestre e não os carros. Outro debate é sobre o transporte coletivo, precisamos melhorar a qualidade desse transporte.

ODIA: Houve um questionamento muito grande em relação a implantação das calçadas lá na Nossa Senhora de Fátima e também sobre a cobrança da taxa de lixo, que receberam muitas críticas, onde a população alega que não houve a discussão com a sociedade. O senhor acha que faltou diálogo?

Firmino: Em relação à Nossa Senhora de Fátima, há dois anos, a Prefeitura fez o recapeamento e colocou iluminação de LED. Naquele período, foi feita uma reunião com os comerciantes da região que fica entre a Petrônio Portela e a Dom Severino. Foi feito um projeto que foi repassado para o Governo do Estado que está fazendo a execução. Qual a inovação importante do projeto: ele aponta para a necessidade de se priorizar os pedestres. Os carros estão tentando dominar todos os espaços e, além disso, Teresina não é mais a cidade provinciana que você desembarca em frente da sua casa e já esta na porta do trabalho. Você pode fazer isso em uma cidade pequena, mas uma cidade do tamanho de Teresina não dá. O espaço da calçada é do pedestre. É necessário que se diga aos comerciantes que o espaço para pedestre melhora a quantidade de clientes para o comercio. Sobre a taxa do lixo, não é uma matéria que exija mais discussão porque estamos cumprindo uma legislação nacional. Em 2010, o Governo Federal instituiu a Política nacional de resíduos sólidos. Nós estamos atrasada na implantação e pagamos um preço por isso. O Ministério das Cidades abriu edital para a área de saneamento e as cidades que não tinham a implantação da taxa de lixo não puderam concorrer. Porque a lei exige isso? Porque ela não quer simplesmente arrecadar dinheiro, ela tem o aspecto pedagógico. Ao longo do tempo, o brasileiro produz cada vez mais lixo. Na década de 90, cada cidadão produzia 500 gramas de lixo diariamente, hoje é 700 gramas, um aumento de 40%. Esse lixo tem custo para ser coletado e aterrado e traz um custo ambiental gigantesco. É necessário que a gente tenha essa consciência. A obrigação da Prefeitura é de coleta do lixo domiciliar e dos pequenos geradores. Os demais precisam arcar com esse custo. Os restaurantes, por exemplo, quando passamos a cobrar a taxa de lixo deles, eles reduziram o volume de lixo, passaram a perceber a possibilidade de reciclagem.

ODIA: Prefeito, a sua base de apoio na Câmara Municipal é bem grande. Mesmo assim, os poucos oposicionistas que tem lá têm feito bastante barulho e conseguido bater forte na administração. O senhor está satisfeito com a atuação da sua base de apoio?

Firmino: A nossa base tem feito um papel bastante produtivo. São vereadores alguns jovens, outros experientes, mas que contribuem com a administração e tem tido um comportamento bastante solidário com a administração. E o papel da oposição é esse, levantar críticas e fazer seu discurso. Todos ganham com a oposição presente. E da nossa parte, entendemos como natural do embate democrático.

ODIA: Nessa data de aniversário, qual o principal problema que a população enfrenta e o que a Prefeitura está fazendo para buscar uma solução?

Firmino: Na área social o maior desafio nosso é na saúde, especialmente de média e alta complexidade. Na área da educação o maior desafio é a qualidade do ensino e a universalização da educação infantil. Temos que aumentar a assistência aos idosos e crianças. Na área urbana, nosso desafio é mobilidade urbana. Já na qualidade de vida eu diria que é a segurança, sabemos que nela o papel da prefeitura é muito marginal. E na área econômica o desafio é construir a agenda do empoderamento econômico, quando a cidade não cresce do ponto de vista econômico ela passa a ter recursos para financiar todas as outras áreas. A gente tem que frisar que o exercício das políticas públicas e o estabelecimento de direitos pressupõem os recursos necessários para que elas existam para garantir direitos. E os recursos só podem ser garantidos com poder econômico, e o que nós estamos vivendo hoje no Brasil é bastante pedagógico. Não adianta encher o parlamento de leis se a economia não está gerando recursos para que essas leis sejam aplicadas. A crise que vivemos hoje nos chama a atenção disso. Para garantir as políticas públicas é preciso ter dinheiro.

ODIA: O senhor tem dito das dificuldades financeiras da Prefeitura, que tem ocasionado queda nos repasses ao município. Com este cenário, quais as grandes obras que o senhor acredita que será possível entregar até o final de sua gestão?

Firmino: Nós temos um planejamento muito grande na área da mobilidade. As grandes obras estão concentradas na mobilidade. Nós deveremos concluir a avenida que faz ligação do Balão do PMDB e a ponte Anselmo Dias, essa avenida vai descongestionar a ligação entre as zonas leste e sul, que também vai melhorar muito a situação para a região sudeste, saindo ali dos shoppings. Temos já licitada o balão ali o viaduto da Barão de Gurguéia com a Henry Wall de Carvalho. Temos a ponte que liga a Universidade Federal do Piauí com a zona norte. E neste mês de agosto estamos dando ordem de serviço da avenida Ulisses Marques, avenida importante para zona leste de Teresina. E está sendo feito o projeto executivo da segunda ponte que liga a Santa Maria da Codipi a região norte. Eu acredito também que vamos priorizar muito os investimentos na área central, vamos fazer discussões sobre os investimentos que vamos fazer. Estamos atrás de recurso para segunda etapa do programa “Vila da Paz, o Parque da Floresta Fóssil, que é um padrão diferenciado, por exemplo, do padrão do Parque da Cidadania, buscamos recursos para fechar a transformação do Parque Central. A Prefeitura tem buscado investir muito em projetos e, com o tempo, os recursos aparecem. Mas não apenas na mobilidade, continuamos trabalhando forte na área social, na universalização da educação infantil, até o máximo março do ano que vem vamos ter 21 creches para educação infantil, que vão abrir seis mil novas vagas.

ODIA: Houve muita polêmica em torno da ida de sua esposa, Dona Luci Silveira para o PP. O partido apoia o governador Wellington Dias (PT) e em tese, o senhor está na oposição. Diante desse cenário, em eventual candidatura de sua esposa a deputada federal ano que vem, o senhor teria dificuldade de subir no palanque com o governador Wellington Dias?

Firmino: A entrada de Luci no PP foi um gesto de solidariedade em relação ao Partido Progressista que tem sido fundamental no apoio administrativo de Teresina com o senador Ciro Nogueira, que em Brasília tem se transformado num grande defensor das obras de Teresina. Grande parte das obras só estão saindo através do Ciro. Em gesto de demonstração de gratidão ao trabalho que ele fez pra cidade de Teresina e para nossa administração. A eleição do ano que vem ainda está muito incerta. A gente ainda não sabe em que contexto ela se dá. Vivemos uma crise nacional generalizada, não sabemos os parâmetros da eleição presidencial do próximo ano. Só no próximo ano a gente vai poder se posicionar. Existem várias de lideranças nossas que tendem a importância da candidatura de Luci, eventualmente a deputado federal, mas achamos que está muito cedo para se decidir. Agora quero dizer que não temos nenhuma posição fechada, existem várias possibilidades e vamos aguardar ano que vai para se posicionar.

ODIA: Grandes lideranças do PSDB migraram do partido, como Silvio Mendes, Luci Silveira e Washington Bonfim. Como é que o partido pretende se recompor para preparar um nome a sua sucessão?

Firmino: Não tem nenhuma dificuldade. O PSDB tem muitos quadros. Além disso, está muito cedo para se falar de sucessão municipal. Temos que cuidar da administração primeiro. Sucesso municipal tá muito longe, 2020.

ODIA: O senhor tem repetido que não planeja uma candidatura nas eleições do próximo ano. No entanto, seu nome é lembrado por segmentos da oposição para enfrentar Wellington Dias, tem também vagas ao Senado. O que faz o senhor pensar em não embarcar numa eleição do ao que vem?

Firmino: Temos o compromisso assumido com a Prefeitura de Teresina e ele foi reafirmado ano passado. E nós estamos impondo um trabalho que está sendo executado. Ainda pouco falamos do plano da mobilidade, estamos com este plano de mobilidade e não podemos sair no meio do caminho. A gente tem obrigação de cumprir o acordo que foi feito com a cidade e ficar até o final.

Por: João Magalhães e Mayara Martins - Jornal O Dia
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