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O espetáculo por trás da cortina do circo

No circo, antes do picadeiro ser montado, das luzes se acederem e do público chegar, existe um universo onde tudo acontece e ao qual ninguém tem acesso.

15/10/2017 08:14

Picadeiro arrumado. Luzes acionadas. Público a postos. Esse é o anúncio de que o espetáculo vai começar! Quem dá as boas vindas são os palhaços, os melhores anfitriões aos olhos da garotada atenta. No rosto de cada criança, uma expressão de êxtase, que mescla a alegria e a ansiedade pelo o que estar por vi nos minutos seguintes. A contorcionista é a primeira atração anunciada e suas peripécias em um cabo de aço antecedem a sequência de apresentações de malabares, mágicas, equilibristas. O espetáculo dura ao todo 1h30min, mas o que ninguém sabe, é que por trás de cada cena, e também de cada artista, há uma rotina e também muitas histórias para contar. Quem recebeu a equipe de O DIA para mostrar cada canto por trás da lona foi a diretora artística Peró de Andrade. Ela é responsável, há mais de 25 anos, por supervisionar a parte administrativa e ainda por coordenar os números encenados. Hoje o grupo é formado por cerca de 80 pessoas, entre artistas e técnica.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Peró tem uma vida dedicada ao circo. Sempre próxima do universo artístico, ainda durante a infância dos dois filhos, partiu para acompanhar as andanças da trupe. Desde que entrou na companhia, ajuda a resolver de tudo um pouco. Desde um reparo no figurino na roupa de um artista ao apoio na boca de cena e até a direção do número encenado. “Às vezes vou fazendo adaptações aos números. Geralmente eles já chegam aqui com um espetáculo pronto, ai damos a direção e decidimos sobre o figurino. Tudo passa por mim”, conta ela.

Para Peró, hoje, o seu lar é o circo. A sua residência fixa – nem tão fixa assim – é um dos trailers estacionados atrás da lona. Todos enfileirados eles formam uma espécie de vila. Ao centro, há o que pode se chamar de rua, onde além de transitar os artistas é lugar para cadeiras, rodas de conversas e até piscinas infláveis. Dentro de cada moradia tudo que é necessário para a vivência: cozinha embutida, quartos, TV a cabo e, em alguns, até sala de jantar. Em nada perdem para um loft.

As famílias, com origens em todos os cantos do país, ali instaladas, vivem em comunidade. O quanto irão ficar ali organizadas até seguir viagem é determinado pela movimentação do circo na cidade. A temporada depende do público. Casa cheia, com os 1.400 lugares ocupados, significa, provavelmente, que por ali deverão ficar por mais dias. Enquanto não partem, a vida vai seguindo. De dia cada um na sua moradia, cuidando de suas coisas, e a noite, juntos em cena, trabalham garantindo diversão a quem procura.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Como em qualquer comunidade, há problemas e uma rotina. Não há a figura de um profissional de saúde que acompanha a trupe, mas em caso de precisão, Peró agiliza para que uma equipe médica da cidade faça o atendimento. As crianças e os adolescentes que integram a companhia, muitos nascidos e criados ali, seguem também um cotidiano de estudos. Por lei, eles são obrigados a estudar em cada cidade que param. Assim, o ensino é continuado a cada temporada, através de escolas maristas ou particulares. Eduardo Vieira conhece essa rotina de perto. Ele foi uma criança de circo. Nascido em uma família circense, foi criado nesse ambiente. “Para mim é normal, porque nasci no circo, é o mundo que eu conheço. Pode ser diferente para alguém da cidade, que talvez não se acostumasse, mas sempre fui do circo então para mim é mais tranquilo”, comenta ele enquanto se transforma no Palhaço Xereta em um camarim improvisado debaixo da arquibancada. Na penteadeira, tinta, pó e um pente, o básico para entrar no personagem.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Eduardo construiu uma família enquanto via sua vida se misturar com o circo. Já participou de outros números no espetáculo, mas foi como palhaço que se encontrou. “A parte difícil é quando você está com algum problema e tem que esquecer pra entrar no personagem. Você não é a pessoa, você é o personagem, o problema você tem que deixar aqui atrás. Muitas vezes as pessoas veem o palhaço arrumado, mas não imagina que ele também passa por problemas. O mais é legal quando você tira o sorriso de uma criança, ai esquece qualquer problema”, revela.

O bônus de uma vida sem um endereço fixo, é que os circenses vão acumulando histórias. É uma maneira diferente de atravessar os anos, mas totalmente enriquecedora. Conhecem cidades, costumes e sotaques por onde passam. Em troca, ao público, retribuem através de boas doses de talento. O circo é uma atmosfera mágica, onde transforma a vida de quem o faz e daqueles que o assistem.

Por: Yuri Ribeiro - Jornal O Dia
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