Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

"Nunca tive uma casa de tijolo", diz moradora de ocupação

Sem concluir a regularização fundiária, os ocupantes moram em casas que não existem formalmente. O Loteamento Dandara dos Cocais pertence ao município

30/10/2016 13:45

Durante toda a vida, Maria das Neves utilizou o coco de babaçu como fonte de renda para sustentar sozinha os seis filhos. Da planta, ela extrai a castanha, o azeite e transforma a casca em carvão. Mas não é só isso. É vindo também do coco o atendimento de outra necessidade de vida: a moradia. Com os talos e a palha da planta, ela construiu a casa de taipa em que vive atualmente com a família. "Nunca tive uma casa de tijolo em toda minha vida. Nem eu, nem meus filhos", desabafa. 
Maria das Neves faz parte de um grande espectro populacional em Teresina, o das famílias que ocupam de forma não regularizada áreas no município, não tendo acesso a habitações dignas ou serviços básicos garantidos. Um cenário muito conhecido pela senhora de 59 anos, que há seis meses faz parte das cerca de 200 famílias que ocupam o loteamento Dandara dos Cocais, zona Norte de Teresina. 

"Nunca tive uma casa de tijolos", diz moradora (Foto: Elias Fontenele/ O Dia)

Apesar do direito à moradia está mais do que assegurado no papel - na Constituição de 1988 e legislações posteriores, incluindo o Estatuto da Cidade e a garantia da função social das cidades e da propriedade, os avanços ocorridos na legislação não se traduziram como o esperado em avanços concretos nas condições de habitação e acesso a serviços urbanos da população. 
"Passei minha vida morando em terreno de dono no Maranhão. Um lugar que você não tem direito a nada, só mesmo de 'trabaiá'. Vim pra Teresina pra vê se encontrava coisa melhor, mas as 'dificulidades' são muito grandes. Passei um tempo morando em casa alugada, pagando R$380. No dia de pagar o aluguel me doia o coração, porque era tirando da boca pra pagar", relembra. 
Pela dificuldade de se manter, Maria viu na oportunidade de ocupação uma última esperança. Em junho de 2016, junto a outras famí- lias, ela fez parte da ocupação do loteamento batizado por Dandara dos Cocais, região limítrofe ao conjunto residencial Jacinta Andrade. 
"Aqui só tinha taboca e mato. Viemos porque precisamos de um lugar pra viver e todo mundo se juntou pra fazer o roçado e construir seus barracos. Mas logo depois veio a polícia, despejou 'nois' e sumiu todo mundo. Só que realmente quem precisa, volta. E com a ajuda do povo do Ministério Público, a gente tá conseguindo ficar", relata. 
O relato da trabalhadora segue o que acontece nos trâ- mites jurídicos. Sem regularização fundiária, os ocupantes moram em casas que não existem formalmente. 
O terreno ocupado pertence ao município que, mesmo com a determinação judicial para desocupação da área, através do diálogo aberto com o Ministério Público e escutando a demanda solicitada pela população, tem encaminhado o cadastramento e estudo para a utilização da área para fins de interesse social de habitação. E isto dá esperança para Maria e as outras centenas de famílias da região. 
"Eu tenho esperança, porque tenho Deus no céu e ele vai olhar pra mim e pra quem precisa. A gente não vai desistir, porque força pra batalhar não falta", finaliza
Por: Glenda Uchôa
Mais sobre: