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Indícios de suicídio nas redes sociais preocupam pais e psicólogos

Mensagens divulgadas através das redes sociais podem ser um pedido de ajuda ou um alerta sobre uma possível tentativa de suicídio.

23/04/2017 08:20

“Alguns jovens usam as redes sociais para colocar mensagens subliminares, dando sinais do seu sofrimento, mas as pessoas que estão em volta não se dão conta”. A afirmação é da psicóloga especialista em prevenção ao suicídio juvenil, Cinthya Araújo. A psicóloga alerta os pais e familiares sobre a exposição de sinais de sofrimento e angústia por adolescentes nas redes sociais, que podem ser interpretados como um pedido de ajuda ou até um sinal de que o adolescente pretende atentar contra a própria vida.

No Piauí, no último mês, pelo menos três jovens anunciaram nas redes sociais a ideação suicida, sendo dois no Facebook e um no aplicativo Instagram. Destes, apenas uma tentativa de suicídio conseguiu ser evitada pela família. O jovem, morador do interior do Piauí, despediu-se através do Facebook e informou o que havia feito para tentar tirar a sua vida. Ao lerem a mensagem, os familiares conseguiram intervir e levaram o jovem para o hospital.

Frases como “minha vida não tem mais sentido”, “quero sumir” ou “não aguento mais viver”, verbalizadas ou postadas nas redes sociais, devem ser levadas a sério, pois indicam uma possível ideação suicida.

Segundo a psicóloga, é importante que a família não ignore os alertas dados pelos jovens sobre o seu estado de sofrimento, pois, na maioria dos casos, é possível evitar o suicídio após a divulgação da mensagem. “Às vezes o jovem diz que vai se matar e a família não acolhe essa afirmativa, o que gera mais desespero e desesperança, porque a pessoa se sente isolada e incompreendida”, afirma Cinthya Araújo.

Em junho de 2016, o Facebook, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV) lançou uma ferramenta para identificar e responder postagens para prevenir o suicídio ou automutilação do Brasil.

Com essa ferramenta, quando alguém postar algo no Facebook que possa causar preocupações acerca de seu bem-estar, qualquer pessoa poderá buscar instruções de como oferecer apoio e também contará com a possibilidade de denunciar o caso ao Facebook. Os times de revisão da plataforma, que trabalham 24h e em todas as línguas, vão tratar com máxima prioridade esse tipo de denúncia e enviarão as informações de apoio o mais rápido possível.

Bruno Magrani, Diretor de Relações Institucionais do Facebook para o Brasil, afirma que algumas pessoas identificam na rede social sinais de que um amigo está com ideias suicidas, mas não sabem como ajudar. “Nestes casos, agilidade pode significar a diferença entre conseguir ou não ajudar alguém efetivamente. As ferramentas que lançamos no Brasil colocam na própria plataforma mensagens de apoio testadas e que podem ajudar na prevenção deste problema", afirma.

Leia também: Resgatar vínculos previne suicídio; veja 13 formas de precaução  

Vulnerabilidade dos jovens

A psicóloga alerta que os jovens de até 21 anos são uma parcela da população bastante vulnerável, pois a cobrança e a aceitação da família e da sociedade podem gerar um sofrimento muito forte. “O cérebro de um adolescente só vai se desenvolver por completo aos 21 anos. Hoje em dia, eles são muito cobrados, em vista dessa questão do bullying e do ciberbullying. É preciso lidar com a frustração, com a aceitação da sociedade, com a aceitação da homossexualidade, e essas são questões que levam ao sofrimento”, destaca Cinthya Araújo.

Para ela, a escolha profissional e a pressão para ingressar no ensino superior são fatores que também auxiliam no desenvolvimento de transtornos mentais, pois os jovens ainda não possuem maturidade para lidar com essas escolhas. “As pessoas precisam entender que adolescente e criança também podem ter transtornos mentais”, diz.

Por isso, o acompanhamento profissional é de extrema importância para prevenir casos de suicídio. Os familiares e amigos devem manter um diálogo aberto e ser direto ao questionar sobre as intenções da pessoa em querer tirar a própria vida. Caso seja identificada a ideação suicida, a pessoa deve ser incentivada a procurar ajuda na rede especializada de prevenção ao suicídio.

Baleia azul

Na última semana, o jogo da baleia azul tem preocupado pais e professores de todo o país. O jogo é composto por 50 desafios envolvendo automutilação, isolamento social e incentivo ao suicídio, propostos para adolescentes através das redes sociais. A realização dos desafios é supervisionada por um grupo de organizadores, chamados de “curadores”, que fazem ameaças às vítimas, para mantê-las dentro do jogo.

Segundo a Safernet, organização de combate a violação de direitos humanos na internet, o jogo surgiu através de uma notícia falsa veiculada na rede estatal da Rússia em 2015. Já os primeiros relatos de envolvimento de jovens brasileiros com o jogo, iniciaram somente neste mês. Até o momento, há relatos de envolvimento de jovens com o jogo em diversos estados do Brasil, como Mato Grosso, Paraná, Paraíba e Rio de Janeiro.

Para a psicóloga Cinthya Araújo, o envolvimento dos jovens com o jogo pode ser explicado pelo sentimento de onipotência, de que está no controle da situação. “O adolescente tem a sensação de que nada vai acontecer com ele, de que está no controle e que pode sair do jogo a qualquer momento”, afirma.

Os pais e professores devem ficar atentos a quaisquer mudanças de comportamento do adolescente e orientar sobre os riscos do jogo. “Os jovens que participam desse jogo têm uma predisposição a isso. Adolescentes que fazem atividades físicas, que têm atividades sociais, são mais difíceis de estarem vulneráveis a esse tipo de situação”, finaliza.

Como prevenir

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio são praticados por pessoas com algum transtorno mental ou envolvimento com substâncias psicoativas e álcool. “O suicídio é multifatorial. Na maioria dos casos está relacionado a doenças como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. O suicida está em estado de sofrimento muito forte, ele não vê saída e comete um ato extremo. Às vezes ele não quer aquilo, ele quer apenas acabar com a dor e com o sofrimento”, explica a psicóloga.

Para a psicóloga Cinthya Araújo, como a maioria dos suicídios estão relacionados a transtornos mentais, novos casos podem ser evitados através da medicação correta e de acompanhamento psicoterapêutico. Para isso, é preciso que a ideação suicida seja identificada e a pessoa seja acompanhada por um profissional de saúde mental.

Conversar, mostrar preocupação e interesse no sofrimento do outro, são os primeiros passos após identificar o sofrimento e a angústia que a pessoa está passando. “Devemos acolher, não encorajar, não menosprezar o sentimento, porque nós não sabemos o que está se passando na vida da pessoa. Para você, aquilo pode ser algo simples, mas para a outra não é. A melhor indicação é procurar um profissional, por mais que a pessoa resista”, explica a psicóloga.

Superação

Nos casos em que não é possível prevenir o suicídio, o processo de luto é muito doloroso e complicado para aqueles que ficam. Por isso, o acompanhamento profissional também é importante para os sobreviventes. “Ficam os questionamentos, a culpa e o estigma na família, mas não há culpados. Os pais não são responsáveis, ninguém é responsável”, conta a psicóloga Cinthya Araújo.

Nos casos em que na família há mais de um adolescente, os pais devem ficar alertas aos outros filhos, para que o caso não se repita. Nessa etapa, a dor e o sofrimento, devem dar espaço para o perdão. “A família as vezes não entende, fica com o sentimento de que poderia ter evitado, esse é um processo muito demorado. A família tem que perdoar”, afirma.


Edição: Nayara Felizardo
Por: Nathalia Amaral
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