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Grupo questiona mudança de nome do Memorial Zumbi dos Palmares

Para o grupo Afoxá, a troca do nome para Esperança Garcia desconsidera a importância do símbolo da residência negra contra escravidão.

02/08/2017 08:18

O Memorial Zumbi dos Palmares, localizado na Avenida Miguel Rosa e administrado pela Secretaria Estadual de Cultura, foi reaberto no último dia 25 de julho após reforma e, agora, passa a se chamar Esperança Garcia. Porém, a mudança do nome do espaço não agradou alguns grupos do movimento negro, que pontuam a importância de Zumbi como líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da residência negra contra a escravidão. 
Segundo a professora especialista em Educação Afrodescendente e fundadora do grupo Afoxá, Artenilde Silva, a mudança do nome desconsidera a importância de Zumbi dos Palmares. Ela argumenta que nomear o espaço foi uma conquista do movimento negro em retratação à Zumbi e que Esperança Garcia merecia nomear um espaço novo. 

Espaço foi reformado e recebeu novo nome pela Secretaria de Cultura (Foto: Jaílson Soares/ O Dia)

"Domingo Jorge Velho teve sua importância e, como a luta de resistência de Zumbi contra a escravidão foi árdua, o movimento mudou o nome do memorial para Zumbi. Colocar como Esperança Garcia é um desmerecimento da Secretaria de Cultura, que não levou em consideração a discussão dos grupos nem quem foi Esperança Garcia”, explica. 
Esperança Garcia foi reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil como a primeira advogada negra do País, graças a sua carta denunciando os maus-tratos que sofria. De acordo com Artenilde Silva, ela deveria ser homenageada com a criação de um espaço novo. 
“Não é que Esperança Garcia não mereça ter um espaço com o nome dela, mas devia ser algo exclusivo dela, o que o movimento reivindica há anos. Trocar o nome de Zumbi pelo da Esperança é uma desonra para Esperança Garcia, porque até nisso estão colocando um negro contra o outro e os dois têm sua importância”, defende a professora. 
De acordo com a presidente do grupo Afoxá, o Memorial foi criado em 2003, inaugurado em 2007, mas somente passou a funcionar em 2014, quando o movimento de negros ocupou o espaço. No local, foram montadas exposições, ministrados cursos e apresentações. 
“O grupo ocupou o espaço, dando atenção ao movimento e promovendo a função social que o local propõe. Ele tinha referência, mas não estava funcionando e nós o tornamos o que ele é hoje. Graças à nossa ocupação no memorial, foi possível fazer a reforma para deixá-lo como está hoje e a Secretaria de Cultura aceitou como sendo Zumbi dos Palmares”, enfatiza Artenilde Silva. 

Memorial foi reformado recentemente, e teve seu nome trocado de "Zumbi dos Palmares" para "Esperança Garcia" (Foto: Jaílson Soares/ O Dia)

Sugestão 
A professora pontua ainda que a sede do Conselho Estadual de Cultura, localizada na Rua 13 de Maio, Centro de Teresina, seria um excelente espaço para homenagear Esperança Garcia. Ela conta que o local estava abandonado e foi ocupado por um grupo do mesmo nome, que revitalizou o espaço. 
“Queremos chamar atenção para Esperança Garcia, mulher negra e piauiense”, diz coordenadora do memorial 
A coordenadora do Memorial, Antônia Aguiar, explica que a mudança do nome foi feita após reunião da Secretaria de Cultura com grupos do movimento negro. Ela conta que a maioria aprovou a alteração do nome de Zumbi dos Palmares para Esperança Garcia e que o grupo Afoxá não esteve presente nas reuniões. 
"Quando o Memorial foi criado, levamos em consideração as colocações da época, então colocamos Zumbi dos Palmares. Agora, levamos em consideração as reivindicações atuais, que foram pela colocação de Esperança Garcia. Não estamos desmerecendo Zumbi dos Palmares, mas queremos chamar atenção para Esperança Garcia, que é uma mulher negra e piauiense e também merece ser homenageada”, enfatiza Antônia Aguiar. 
Antônia Aguiar ainda ressalta que, dentro do memorial, são homenageadas outras personalidades negras, além de grupos e movimentos. Sobre a problemática da alteração do nome do espaço, a coordenadora explica que os grupos contra a mudança foram orientados a protocolar um documento direcionado à Secretaria, mas nenhum movimento elaborou a reclamação. 
“A reforma durou um ano e quatro meses e, nesse tempo, foram feitos vários debates. Os grupos que não eram a favor da mudança podiam fazer um documento e protocolar contra a mudança do nome, mas não foi feito. Escolhemos o Memorial por ser um prédio que estava passando por reforma e sendo modernizado, com biblioteca, sala de exposição, apresentação artística e outras ações. É interessante que surjam novos espaços, que outros nomes sejam homenageados, mas nessa conjuntura atual, temos que cuidar do que temos”, conclui a coordenadora. 
Atividades e cursos 
O Memorial Esperança Garcia dispõe de espaço para apresentações artísticas, exposição, oficinas de turbante, cursos de Espanhol, Inglês e Libras, realizada em parceria com a Universidade Estadual do Piauí, com carga horária de 70h.
Por: Isabela Lopes
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