O Memorial Zumbi dos Palmares, localizado na Avenida
Miguel Rosa e administrado
pela Secretaria Estadual de
Cultura, foi reaberto no último
dia 25 de julho após reforma
e, agora, passa a se chamar Esperança Garcia. Porém, a mudança do nome do espaço não
agradou alguns grupos do movimento negro, que pontuam a
importância de Zumbi como líder do Quilombo dos Palmares
e símbolo da residência negra
contra a escravidão.
Segundo a professora especialista em Educação Afrodescendente e fundadora do grupo
Afoxá, Artenilde Silva, a mudança do nome desconsidera
a importância de Zumbi dos
Palmares. Ela argumenta que
nomear o espaço foi uma conquista do movimento negro em
retratação à Zumbi e que Esperança Garcia merecia nomear
um espaço novo.
Espaço foi reformado e recebeu novo nome pela Secretaria de Cultura (Foto: Jaílson Soares/ O Dia)
"Domingo Jorge Velho teve
sua importância e, como a luta
de resistência de Zumbi contra
a escravidão foi árdua, o movimento mudou o nome do memorial para Zumbi. Colocar
como Esperança Garcia é um
desmerecimento da Secretaria
de Cultura, que não levou em
consideração a discussão dos
grupos nem quem foi Esperança Garcia”, explica.
Esperança Garcia foi reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil como a primeira advogada negra do País,
graças a sua carta denunciando
os maus-tratos que sofria. De
acordo com Artenilde Silva, ela
deveria ser homenageada com
a criação de um espaço novo.
“Não é que Esperança Garcia
não mereça ter um espaço com
o nome dela, mas devia ser algo
exclusivo dela, o que o movimento reivindica há anos. Trocar
o nome de Zumbi pelo da Esperança é uma desonra para Esperança Garcia, porque até nisso
estão colocando um negro contra o outro e os dois têm sua importância”, defende a professora.
De acordo com a presidente
do grupo Afoxá, o Memorial
foi criado em 2003, inaugurado
em 2007, mas somente passou
a funcionar em 2014, quando o
movimento de negros ocupou o espaço. No local, foram montadas exposições, ministrados
cursos e apresentações.
“O grupo ocupou o espaço,
dando atenção ao movimento
e promovendo a função social
que o local propõe. Ele tinha
referência, mas não estava funcionando e nós o tornamos o
que ele é hoje. Graças à nossa ocupação no memorial, foi
possível fazer a reforma para
deixá-lo como está hoje e a
Secretaria de Cultura aceitou
como sendo Zumbi dos Palmares”, enfatiza Artenilde Silva.
Memorial foi reformado recentemente, e teve seu nome trocado de "Zumbi dos Palmares" para "Esperança Garcia" (Foto: Jaílson Soares/ O Dia)
Sugestão
A professora pontua ainda
que a sede do Conselho Estadual de Cultura, localizada na
Rua 13 de Maio, Centro de Teresina, seria um excelente espaço para homenagear Esperança
Garcia. Ela conta que o local estava abandonado e foi ocupado
por um grupo do mesmo nome,
que revitalizou o espaço.
“Queremos chamar atenção para Esperança Garcia,
mulher negra e piauiense”, diz coordenadora do memorial
A coordenadora do Memorial, Antônia Aguiar, explica
que a mudança do nome foi
feita após reunião da Secretaria de Cultura com grupos do
movimento negro. Ela conta
que a maioria aprovou a alteração do nome de Zumbi dos
Palmares para Esperança Garcia e que o grupo Afoxá não
esteve presente nas reuniões.
"Quando o Memorial foi
criado, levamos em consideração as colocações da época,
então colocamos Zumbi dos
Palmares. Agora, levamos em
consideração as reivindicações atuais, que foram pela
colocação de Esperança Garcia. Não estamos desmerecendo Zumbi dos Palmares,
mas queremos chamar atenção para Esperança Garcia,
que é uma mulher negra e
piauiense e também merece
ser homenageada”, enfatiza
Antônia Aguiar.
Antônia Aguiar ainda ressalta que, dentro do memorial, são homenageadas outras
personalidades negras, além
de grupos e movimentos.
Sobre a problemática da alteração do nome do espaço,
a coordenadora explica que
os grupos contra a mudança
foram orientados a protocolar
um documento direcionado à
Secretaria, mas nenhum movimento elaborou a reclamação.
“A reforma durou um ano e
quatro meses e, nesse tempo,
foram feitos vários debates.
Os grupos que não eram a favor da mudança podiam fazer
um documento e protocolar
contra a mudança do nome,
mas não foi feito. Escolhemos
o Memorial por ser um prédio
que estava passando por reforma e sendo modernizado,
com biblioteca, sala de exposição, apresentação artística
e outras ações. É interessante
que surjam novos espaços,
que outros nomes sejam homenageados, mas nessa conjuntura atual, temos que cuidar do que temos”, conclui a
coordenadora.
Atividades e cursos
O Memorial Esperança Garcia dispõe de espaço para apresentações artísticas, exposição,
oficinas de turbante, cursos de
Espanhol, Inglês e Libras, realizada em parceria com a Universidade Estadual do Piauí,
com carga horária de 70h.
Por: Isabela Lopes