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Crianças são mais vulneráveis às doenças causadas pela falta de saneamento

Sem este serviço, as crianças podem desenvolver doenças como infecções do sistema gastrointestinal, doenças na pele e parasitoses intestinais

07/03/2017 08:15

A precariedade do sistema de saneamento básico atinge diretamente a saúde da população, sendo as crianças a parcela da população mais suscetível ao aparecimento de doenças relacionadas ao contato com material contaminado. Apenas 19% da área de Teresina possui cobertura de esgotamento sanitário, segundo dados divulgados pela Companhia de Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa). No Piauí, apenas cinco cidades, além de Teresina, possuem esgotamento sanitário - Parnaíba, Oeiras, União, Picos e Corrente -, representando apenas 11% de cobertura em todo o Estado. 

No Projeto Mandacaru, crianças brincam em meio à lama e ao lixo (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

No entanto, o sistema de saneamento básico, além do esgotamento sanitário, também engloba serviços como abastecimento de água, limpeza urbana, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas e de resíduos sólidos. Sendo os bairros periféricos, os que possuem maiores chances de não disporem da cobertura desses serviços. O Projeto Mandacaru, localizado no bairro São João, zona Leste de Teresina, é um exemplo de local onde não há saneamento básico em Teresina. 
Além da falta de esgotamento sanitário, as casas instaladas no Projeto não possuem abastecimento de água ou serviço de limpeza urbana, como a coleta de lixo domiciliar. Os esgotos das residências correm livremente pelas ruas e o lixo domiciliar é acumulado nos terrenos baldios localizados no entorno do projeto, ocasionando um risco para a saúde das crianças da região. Quando chove, a água da chuva alaga as ruas e invade as casas, fazendo com que os moradores tenham contato direito com o material contaminado. 
Segundo a dona de casa Maria de Fátima, moradora do Projeto Mandacaru há um ano, o acúmulo de lixo e o esgoto a céu aberto ajudam na proliferação de moscas. Os dois filhos de Maria de Fátima, David Rafael, de seis anos, e Mayra Raquelly, de dois anos, já contraíram doenças causadas pelos insetos. “Os dois já adoeceram, tiveram vômito e diarreia. A gente tenta não deixar as crianças irem para a rua, mas, quando chove, a rua alaga e a água da chuva e o esgoto entram nas casas”, relata. 
Doenças 
De acordo com o médico pediatra José Maurício Raulino, ao ficarem expostas a um ambiente desprovido de saneamento básico, as crianças podem desenvolver doenças como infecções do sistema gastrointestinal, doenças na pele e parasitoses intestinais, como amebas e giárdias. “Como essas crianças estão em contato com esse material contaminado, principalmente em regiões periféricas, ao brincarem em uma rua em que o esgoto corre livremente, elas podem desenvolver essas doenças”, explica o pediatra. 

Chuvas aumentam em 40% dos atendimentos relacionados às infecções no sistema gastrointestinal, como diarreias e vômitos (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Com a chegada do período de chuvas, a situação fica ainda pior. Segundo o médico pediatra, houve um aumento de 40% dos atendimentos relacionados às infecções no sistema gastrointestinal, como diarreias e vômitos. Isso porque, assim como acontece no Projeto Mandacaru, nesse período, há uma maior proliferação de moscas, responsáveis por levar o material infectado de alguns locais, como esgotos e fossas, para os alimentos. “No período que começa a chover, tanto o contato direto com esse material, através de esgotos, galerias e fossas, essas doenças também podem ser adquiridas quando uma mosca ou mosquitos pousam nesse material e levam para os alimentos”, relata. 
Prevenção 
A educação em saúde é essencial nesses casos para orientar a população sobre a melhor forma de prevenir o aparecimento de doenças relacionadas à falta de higiene e saneamento. Cuidados como a lavagem correta dos alimentos, lavagem regular das mãos e dos alimentos, são medidas que podem ser tomadas para prevenir o aparecimento dessas doenças. 
“Os programas de saúde da família possuem uma grande capilaridade. Por isso, os agentes de saúde podem entrar em contato com essas comunidades e dar orientações para as famílias. Explicar também sobre a importância de evitar o contato com alimentos que podem contém vírus e patógenos causadores de diarreias e vômitos”, destaca o pediatra José Maurício Raulino. 
Riscos 
O pediatra explica ainda que o acometimento de doenças relacionadas à falta de saneamento básico pode refletir, a longo prazo, no estado nutricional global da criança, influenciando no seu desenvolvimento físico. “Se essa criança é acometida muitas vezes pela doença, pode afetar o estado nutricional global, apresentando déficit nutricional do peso e da altura. É essencial evitar contato com esses locais insalubres, como esgotos, fossas e galerias, em especial no período chuvoso”, relata. 
Problema de saúde pública 
 No ranking de saneamento, o Brasil ocupa a 112ª posição, de 200 países, refletindo a precariedade do sistema de saneamento básico. A situação do saneamento influencia diretamente nos indicadores de saúde pública. Segundo o Instituto Trata Brasil, a taxa de mortalidade infantil no país foi de 12,9 mortes a cada mil nascidos vivos, em 2011. Ficando abaixado da média mundial e das taxas de mortalidade infantil de países como Cuba (4,3%), Chile (7,8%) ou Costa Rica (8,6%). 
Outro estudo realizado pelo Instituto aponta que o Brasil convive com centenas de milhares de casos de internação por diarreias todos os anos (400 mil casos em 2011, sendo 53% de crianças de 0 a 5 anos), muito disso devido à falta de saneamento. Já em pesquisa realizada pelo Banco Nacional de De senvolvimento Econômico e Social (BNDES) estimasse que 65% das internações em hospitais de crianças com menos de 10 anos sejam provocadas por males oriundos da deficiência ou inexistência de esgoto e água limpa, que também surte efeito no desempenho escolar, pois crianças que vivem em áreas sem saneamento básico apresentam 18% a menos no rendimento escolar.
Fonte: Da redação
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