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Campanha quer acabar com casos de intolerância religiosa

Pai de Santo explica que ataques começaram após uma advogada divulgar discurso de ódio nas redes sociais.

12/07/2017 08:37

Nos últimos 30 dias, quatro terreiros de Umbanda da Capital sofreram ataques, sendo alvos de vandalismo e difamação. Para os representantes da religião, são casos de intolerância religiosa e é por isso que ontem (11) foi lançada a Campanha de Combate à Intolerância Religiosa de Teresina, no Parque Lagoas do Norte. 

De acordo com Pai Rondinele de Oxum, vice-coordenador nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira (CENARAB), o momento é de cobrança para o poder público. Ele explica que os ataques às casas começaram após uma advogada divulgar discurso de ódio nas redes sociais e a mobilização surge com o objetivo de manter a segurança dos povos de matrizes africanas. 

Sons caracterizam cerimônias e festividades dos povos africanos (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

“Isso nunca aconteceu. Atos de intolerância aconteciam de dois em dois anos, a própria sociedade viu nas redes sociais o que foi veiculado, uma advogada demonizando nossos Orixás. Então nós avaliamos sim que são atos discriminatórios. Tenho dito para sociedade que ninguém precisa nos aceitar, mas sim nos respeitar”, fala. 

Mobilização 

A mobilização será feita, inicialmente, através de outdoors espalhados em pontos estratégicos da Capital. Pai Rondinele também explica que serão ocupados espaços públicos, com debates sobre as religiões de matrizes africanas e sobre os recentes atos preconceituosos sofridos. 

“Nós somos uma das religiões que usam o branco e cultuamos nosso sagrado sem agredir ninguém. Estamos abertos ao diálogo junto a outras religiões para que, de fato, possamos comungar em nome da paz, da união e da prosperidade”, destaca. 

Pai Rondinele diz que discurso de ódio se propaga nas redes sociais (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Caso 

Em Teresina, atualmente, existem mais de 500 terreiros de Umbanda. O templo de Mãe Ester de Iansã foi um dos locais depredados. Situado na zona Sudeste de Teresina, no terreiro foram quebradas imagens de santos, uma porta de vidro e o espaço chamado de 'quarto sagrado', usado para práticas religiosas, que foi violado. 

Mãe Ester de Iansã relata que não foi a primeira vez que o local foi atacado. “Não sabemos quem está fazendo isso, mas são de má fé. Viola o sagrado, a religião de outra pessoa. Após o ataque, colocamos mais segurança, mais cadeados porque ficamos assustados”, fala. 

O delegado Emir Maia, da Delegacia de Direitos Humanos, explicou que já foram requisitados exames periciais nas casas depredadas e hoje (12), às 15h, haverá uma audiência com todas as vítimas, que serão ouvidas acerca do caso. Também serão solicitados mecanismos de quebra de sigilo nas redes sociais, para apurar os discursos de ódio denunciados pelas Mães e Pais de Santo.

Festival de Tambozeiro vai enaltecer ritmo de matriz africana 

O ritmo característico que embala as religiões de matrizes africanas vai tomar Teresina no I Festival de Tambozeiro. O evento foi lançado ontem (11) no Parque Lagoas do Norte e destaca-se como forma de resgate e valorização das manifestações culturais dos povos. 

De acordo com Ingrid Gomes, produtora cultural da Fundação Cultural Monsenhor Chaves e coordenadora de mulheres do Cenarab (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira), o Festival foi pensado no sentido de mostrar a cultura através dos sons, pois, segundo ela, são com os ritmos que se dá início as cerimônias e festividades dos povos de matrizes africanas. Ela explica que será escolhido o melhor Ogan, ou seja, o tambozeiro responsável por transmitir os sons. “Ele é aquele homem que recebe a influência dos Orixás, não existe o ritual sem ele começar”, conta. 

(Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Ingrid também destaca a premiação para os três primeiros colocados: o primeiro lugar receberá R$ 3 mil; o segundo receberá R$ 2 mil e o terceiro lugar recebe um kit de atabaques. A seleção dos grupos será feita por uma comissão composta por dez especialistas em manifestações culturais dos povos de matrizes africanas de Teresina, que irão avaliar segundo a desenvoltura do grupo, figurino, interação com o público e ritmos. 

O prefeito Firmino Filho esteve no local e comentou que o festival é uma forma dos povos e terreiros se expressarem. Ele afirmou o desejo de uma parceria com toda comunidade no intuito de promover a cultura negra. Além disso, o prefeito falou sobre como o festival é uma forma de combater os recentes casos de intolerância religiosa ocorridos na Capital 

“Nosso papel é no sentido de dizer que Teresina quer respeitar as diferenças em relação à questão religiosa. Nós não podemos querer impor e utilizar da violência para tentar colocar nossos valores por cima dos outros. É um processo de resgate, o pagamento de uma dívida que é imensa em relação ao povo negro”, destaca. 

Detalhes 

O concurso será divido em duas eliminatórias, a primeira nos dias 29 e 30 de julho no Parque Lagoas do Norte e, nos dias 05 e 06 de agosto, no mesmo local. A divulgação dos vencedores será na 5ª edição do Cultura Negra Estaiada na Ponte, em 19 de agosto. 

As inscrições começaram no dia 3 de julho e seguem até o dia 15, podendo ser feitas no Parque Lagoas do Norte pela manhã ou tarde. Cada grupo de tambozeiro pode ser composto por no máximo sete membros e, para se inscrever, o candidato deve preencher a ficha de inscrição, apresentando os documentos pessoais (RG, CPF e comprovante de residência). Além disso, é necessária uma carta de indicação (via declaração) do terreiro ao qual pertence, assinado pelo sacerdote ou sacerdotisa, e deve apresentar um breve histórico da casa, yle, barracão, roça ou tenda

Edição: Virgiane Passos
Por: Letícia Santos
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