Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

"Cada ligação é como se fosse a primeira", diz voluntário do CVV

Voluntário do CVV explica que atendimentos fazem a pessoa se sentir acolhida e capaz de elaborar as próprias respostas, sem aconselhamento.

17/08/2017 08:32

Escutar. É esta a ação realizada por um voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) uma vez por semana, quatro horas por dia. A palavra significa “ter consciência do que está ouvindo” e, para quem dedica parte de seu tempo para escutar pessoas desconhecidas, representa um ato de altruísmo. 

"Cada ligação é como se Casos de suicídio na família levaram Eyder Mendes a ajudar o próximo fosse a primeira vez", é o que relata um voluntário do CVV. O ofício de atender pessoas que precisam de apoio emocional não é feito sem antes um processo de capacitação, já que os voluntários não exercem a profissão de psicólogo. É o que conta Eyder Mendes, voluntário e coordenador de comunicação do CVV. Ao se voluntariar para participar da entidade, existe um treinamento voltado para um método chamado “linha humanista”, desenvolvido pelo psicólogo norte americano Carl Rogers. 

Atendimento por telefone acontece das 6h às 22h, todos os dia da semana (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Nesta técnica, o atendimento é uniformizado. Eyder explica que, ao receber uma ligação, o voluntário não conhece quem está do outro lado da linha e é por isso que o atendimento segue o método de não dar conselhos, mas escutar a pessoa de forma que ela se sinta acolhida e, dessa forma, sinta-se capaz de elaborar a própria resposta, sem necessidade de aconselhamento. 

A questão é o como e o que dizer. Ao perceber a eficácia do diálogo junto à pessoa na linha, o próximo passo do voluntário é estimulá-la a agir. Existe uma relação de confiança entre ambos, em que o acolhimento também faz parte da capacitação pelo qual o voluntário passa com o intuito de mostrar o respeito pela pessoa do outro lado. 

“A gente acredita que toda pessoa tem dentro de si a resposta para seus problemas. Não precisa que alguém de fora diga o certo. É fazer com que ela perceba essa possibilidade de ser autora da sua história e, partir daí, ela crie coragem e capacidade de se encontrar. Falar de forma a fazê-la acreditar no que ela estar contando faz com que a pessoa crie confiança”, destaca. 

Ser voluntário 

Eyder é voluntário e coordenador de comunicação do CVV, que presta serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, de forma sigilosa. Ele conta que entrou para o CVV há 13 anos, quando presenciou, em sua família, dois casos de suicídio que o fizeram despertar para o tema e ajudar o próximo. 

"É aquela vontade de querer ajudar, querer participar de um projeto. Na realidade, na época, tentei outros projetos e aqui foi onde eu realmente me encontrei. Minha participação foi crescendo e me senti realizado nesse trabalho de prevenção ao suicídio”, fala Eyder. 

CVV sofre com a falta de recursos e de voluntários 

Os dramas humanos são os mais variados. Para Eyder, o sofrimento é um sentimento que desperta compaixão no outro e é comum para os voluntários escutarem algo pela primeira vez que lhe cause emoção. Além disso, o voluntário comenta que lidar com as emoções alheias é um aprendizado para poder lidar com as próprias emoções; é ter compreensão de si mesmo e perceber que o ser humano não é imutável, principalmente ao entrar em contato com diversas histórias. 

A compaixão e gratidão também fazem com que muitas pessoas, que antes telefonavam para o CVV, voltem para a entidade como voluntários. Atualmente, são 35 pessoas que prestam o serviço no Piauí, atendendo cerca de 10 ligações por dia, no período de 6h às 22h, diariamente. Contudo, Eyder aponta que o número é baixo quando comparado à disponibilidade do CVV e, segundo ele, a falta de divulgação por parte do poder público e por conta da falta de recursos são os problemas. 

Além disso, uma outra deficiência é a falta de sede própria. Atualmente, o Centro de Valorização da Vida está localizado em um prédio no Centro da Capital, onde também funciona a Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e Assistência Social (Semtcas). "É uma das deficiências que nós temos, a de recursos financeiros que não nos permite gastar com divulgação. O dinheiro que temos aqui a gente tira do próprio bolso para pagar panfleto, cartaz; a gente usa gasolina nossa para dar palestra e comprar nosso lanche aqui", revela.

Edição: Virgiane Passos
Por: Letícia Santos
Mais sobre: