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Apenas 10% dos moradores ainda têm vínculo com familiares, diz diretora

O abrigo , que fica na zona Norte de Teresina, está de portas abertas para quem queira conversar, escutar e doar seu tempo aos idosos.

21/12/2018 07:48

A convivência familiar não é uma realidade para todos. Para muitos idosos que vivem em abrigos, esse contato é motivo de muita lembrança e saudade. Esse é o caso dos moradores da Casa Frederico Ozanan. Atualmente, 43 pessoas vivem no abrigo, que deve receber mais dois idosos na próxima semana e completar a sua capacidade, que é de 45 pessoas. 

No entanto, apenas cerca de 10% dos moradores mantêm algum vínculo familiar, de acordo com Socorro Ribeiro, que é presidente da instituição. O abrigo é um espaço vinculado à Sociedade São Vicente de Paula e está localizado no bairro Primavera, zona Norte de Teresina e atua no cuidado de idosos. “São pessoas que não saem para passear. A gente inclusive gostaria que as pessoas apadrinhassem esses idosos, visitando, levando pra passear, conversar, aqueles ue podem poderiam apadrinhar um idoso”, sugere a presidente.


Arminda Palhano, está no abrigo cerca de um ano e meio. Foto: Poliana Oliveira/ODIA

Arminda da Conceição Palhano, 82 anos, mora na Casa Frederico Ozanan há um ano e meio, quando precisou deixar a sua casa no bairro Memorare após a morte de sua cunhada, com quem dividia a casa. Para não ficar sozinha, ela decidiu se mudar para o abrigo, mas conta que sente muita saudade de casa. Como reflexo disso, ela desenhou a moradia durante atividade realizada por um grupo de psicólogas do Hospital Universitário, que realizava atividade no local.

“Eu achei a atividade excelente, muito bom, cuidando da saúde da gente. Estou com um ano e seis meses aqui, é a primeira vez que vem uma equipe assim. Nós estamos aqui brincando [ela ri enquanto fala], uns desenhos de brincadeirinha. Nós estamos falando da bandeira da vida. Eu me sinto muito acolhida aqui, é muito bom. [No dia a dia] umas pessoas querem conversar, outras não querem, a gente coloca rádio, dança, a gente canta”, relata.


O abrigo é um espaço vinculado à Sociedade São Vicente de Paula e está localizado na Primavera. Foto: Poliana Oliveira/ODIA

Hospital Universitário realiza ação solidária no local

O Hospital Universitário (HU-UFPI), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), realizou ontem (20) o 3º Ebserh Solidária, mutirão social de hospitais universitários federais ligados à Empresa. A instituição escolhida para a ação foi a Casa Frederico Ozanan.

O oncologista André Sobral, que é chefe da divisão de Gestão do Cuidado do HU-UFPI, explica que a unidade de saúde já costuma realizar ações solidárias desse tipo. Na Casa Frederico Ozanan, o estabelecimento ofereceu consultas geriátricas e psiquiátricas, além de atendimentos psicológicos, nutricionais, atividades lúdicas e coletas para exames, que serão feitos pela Unidade de Laboratório de Análises Clínicas do Hospital.

“O objetivo é prestar um serviço à comunidade, às pessoas que realmente precisam, oferecendo desde atividades recreativas ao atendimento médico. Nós criamos um vínculo com o Hospital Universitário, vamos gerar consultas a partir de uma triagem feita com as pessoas que residem aqui [para mapear] as especialidades que elas necessitam”, explica.

André Sobral, da divisão de Gestão do Cuidado do HU-UFPI, explica que a unidade de saúde já realizar ações solidárias. Foto: Poliana Oliveira/ODIA

Com isso, Sobral pontua que o HU espera dar continuidade ao atendimento e que ele não seja algo apenas pontual, promovendo mais qualidade de vida e solidez ao acompanhamento, recebendo os idosos na unidade de saúde e também indo até eles quando necessário.

A psicóloga Laís Carvalho avalia que o principal ponto observado, no que diz respeito à vida dos idosos no abrigo, é a saudade de casa. Durante a atividade, por meio de desenhos e colagens, eles trouxeram elementos que remetem ao contexto familiar. Por meio dessa atividade, as psicólogas oportunizaram o compartilhamento de experiências e algo mais próximo entre os moradores.

Nesse contexto, os idosos relembraram os pais já ausentes ou irmãos que não vivem mais em Teresina. Ela destaca que muito desse saudosismo ocorre porque uma instituição desse tipo, por mais receptiva que seja, é diferente da convivência familiar em casa. Para ela, fornecer a escuta aos idosos é algo muito gratificante e um momento de aprendizado.

“Nós fizemos uma atividade utilizando o lúdico, com o resgate da história de vida, trazendo um pouco dela para que cada um possa compartilhar e trablhar um pouco dessa realidade deles aqui dentro do abrigo. Observamos que são idosos que trazem sempre a demanda familiar, os desejos [dessa convivência familiar] estão bem presentes, mas são idosos que também trazem [nos relatos] o bem-estar que sentem em fazer parte da instituição”, assinala.

Quer ajudar?

A Casa Frederico Ozanan é mantida com doações e recebe auxílio administrativo da Sociedade São Vicente de Paula, mas isso não significa que esteja fechada a pessoas de outras matrizes religiosas.


O abrigo é aberto para quem deseja conversar e visitar os idosos. Foto: Poliana Oliveira/ODIA

“Nós estamos abertos a qualquer religião, que estejam com vontade de vir à Casa para conversar, ajudar. Às vezes, as pessoas dizem que não vem até a Casa porque não tem o que dar. Não precisa ter algo material pra dar, você tem o amor pra dar. O amor é que é importante para eles. Eles precisam de companhia, de alguém que escute o que eles têm para conversar. As pessoas sentem muita falta de casa [e desse contato humano]”, afirma.

Apesar disso, quem deseja doar, a instituição está sempre aberta para receber ajudar. São muitos materiais que podem ser doados, desde fraldas geriátricas de todos os tamanhos, alimentos, material de limpeza, remédios como vitamina C (por conta das mudanças climáticas, muitos idosos ficam resfriados) e dinheiro. Para doar, os interessados podem entrar em contato por meio do telefone (86) 3223-0018. O horário para visitas é de 8h às 10h40 e 15h às 16h40

Edição: Biá Boakari
Por: Ananda Oliveira
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