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Produtos desperdiçados na nova Ceasa alimentariam 3 mil pessoas por dia

Pelo menos 10 toneladas de alimentos são desperdiçadas diariamente por problemas no transporte dos produtos e na logística.

23/07/2017 07:41

O alimento que poderia matar a fome de aproximadamente 3 mil pessoas todos os dias vai parar dentro de contêineres na Central de Abastecimento do Piauí, a nova Ceasa, um dos principais pontos de comercialização de produtos de hortifruticultura no estado.

Para chegar a esse dado foram consideradas as 10 toneladas que são desperdiçadas diariamente por problemas no transporte dos produtos e na logística. Uma pessoa adulta consome, em média, 3kg de alimentos por dia, de acordo com pesquisa realizada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Unifesp). Tomando como base esses números, pode-se concluir que a quantidade de alimentos descartados na nova Ceasa seria suficiente para alimentar 3.333 pessoas por dia em Teresina.


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Segundo o diretor da nova Ceasa, James Andrade, o desperdício de alimentos acontece principalmente na etapa de transporte, devido à falta de estrutura de armazenamento dos alimentos dentro dos caminhões. Além disso, a nova Ceasa não possui, atualmente, uma plataforma para agilizar a descarga dos alimentos, o que acaba por aumentar a perda no momento em que as frutas e verduras chegam à Central de Abastecimento. Ao todo, 50% do dinheiro arrecadado no local é designado para despesas como limpeza e descarte dos produtos danificados.


James Andrade, diretor da nova Ceasa, diz que o desperdício de alimentos acontece principalmente no transporte (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Ao longo da cadeia produtiva do setor alimentício, cerca de 30% de tudo que é produzido no Brasil é descartado antes de chegar à mesa do consumidor. “Nós temos uma cadeia que precisa ser reestruturada para que tenhamos níveis mais aceitáveis de aproveitamento dos alimentos, desde a produção até a casa do consumidor”, defende James Andrade.

Dona Maria Vieira, catadora de alimentos na nova Ceasa, já faz esse aproveitamento há 20 anos. As mãos hábeis selecionam, dentre os produtos amassados e apodrecidos, aqueles que ainda estão em bom estado. Segundo ela, algumas frutas e verduras jogadas nos contêineres estão conservadas e são consumidas pela sua família. “Eu pego muito tomate, pimentão, pimenta de cheiro, até verduras”, conta a aposentada.


A catadora de alimentos Maria Vieira conta que sua família consome produtos que são jogados no lixo da nova Ceasa (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Ela relata que criou todos os filhos, e agora os netos, com alimentos que são jogados no lixo da nova Ceasa, e pretende continuar catando os produtos, pois o dinheiro que recebe da aposentadoria não é suficiente para alimentar sua família. “O dinheiro da aposentadoria é muito pouco. E você pode ver, as frutas estão boas, eu venho aqui pelo menos uma vez por semana pra catar algumas verduras”, finaliza.

Banco de alimentos

Para diminuir esse desperdício, a administração da nova Ceasa decidiu implementar um projeto denominado Banco de Alimentos, em que os hortifrútis estragados passam por um processo de cozimento para ser transformado em matéria prima destinada à produção de ração animal.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Além disso, todo o papelão utilizado para embalar os produtos, que atualmente é descartado, será reciclado e reaproveitado. A previsão é de que o Banco de Alimentos comece a funcionar na Central de Abastecimento no prazo de 60 a 90 dias. O plano, atualmente, está em fase de aquisição do maquinário.

Itamar Vieira, funcionário da empresa responsável pelo processo de transformação do lixo orgânico na nova Ceasa, explica que todo o processo será realizado dentro da Central de Abastecimento, em um galpão destinado para esta finalidade. “Nós retiramos a parte do suco do lixo orgânico, e todo esse suco é enriquecido com os sais minerais e vitaminas que são necessários para, depois, serem misturadas às partes sólidas e a outros ingredientes que as fábricas usam, como soja e milho”, explica.


Pelo menos 10 toneladas de alimentos vão para o lixo na nova Ceasa diariamente (Foto: Assis Fernandes/O Dia)

Desperdício à mesa

A nova Ceasa não é o único lugar com grande quantidade de alimentos desperdiçados diariamente na capital. Nos shoppings centers da cidade, é comum observarmos bandejas com comida deixadas pelos consumidores nas praças de alimentação. A regra nesses locais é que toda comida deixada sobre as mesas seja jogada no lixo.

O desperdício de alimentos também é realidade em restaurantes e estabelecimentos que trabalham com venda de comida em Teresina, como os boxes instalados nos mercados públicos. Nesses locais, os consumidores pagam pelo “prato feito”, que são refeições de um tamanho padrão, servidas pelas cozinheiras.


Foto: Elias Fontinele/O Dia

O Mercado Público da Piçarra é um dos principais pontos de venda de “pratos feitos” em Teresina e  possui um galpão destinado à venda de comidas típicas. Apesar do baixo valor do almoço, em média R$ 10, as cozinheiras e permissionárias do local explicam que cerca de 20% do que é produzido diariamente é desperdiçado pelos próprios consumidores.

É o que acontece no box de Vera Lúcia, vendedora de almoço e café da manhã no Mercado da Piçarra há 28 anos. A cozinheira conta que, dos 10 kg de arroz cozidos diariamente, em torno de 2 kg são jogados no lixo. “Tem gente que chega e pede pra caprichar no prato, aí come duas colheres e deixa o resto”, reclama.


Vera Lúcia conta que, dos 10 kg de arroz cozidos diariamente, em torno de 2 kg são jogados no lixo (Foto: Elias Fontinele/O Dia)

A cozinheira Alzenira da Conceição também trabalha com venda de refeição no mercado e destaca que todo o alimento desperdiçado pelos clientes vai para o lixo. Ela conta que sempre pergunta aos clientes o quanto de comida vão querer, mas, mesmo assim, ainda há muito desperdício. “Eles deixam tudo, até a carne”, revela.


Alzenira da Conceição afirma que todo o alimento desperdiçado pelos clientes vai direto para o lixo (Foto: Elias Fontinele/O Dia)

Entre os alimentos mais desperdiçados no Mercado da Piçarra estão arroz, farofa e salada

A boa mesa

Uma forma de evitar o desperdício é comprar alimentos que temos certeza que vamos consumir e dentro do prazo de validade. O Dia levou uma nutricionista a um supermercado de Teresina para selecionar alimentos necessários para uma boa nutrição.


Por: Nathalia Amaral
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