Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Profissionais de saúde questionam fabricação da "˜pílula do câncer"™

O projeto de lei aprovado pela Câmara determina que pacientes com tumor maligno vão poder utilizar a fosfoetanolamina, desde que haja a comprovação da doença através de laudo médico.

11/03/2016 07:18

A fosfoetanolamina sintética, popularmente conhecida como pílula do câncer, voltou a ser tema de debate esta semana. Um projeto de lei, aprovado na Câmara dos Deputados, autoriza a fabricação, distribuição e uso da substância, mesmo antes da liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que gerou controvérsias entre profissionais de saúde.


Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), a substância é apontada como cura para diferentes tipos de câncer, apesar de não ter eficácia comprovada cientificamente. A Anvisa critica o uso por não existirem testes suficientes para comprovar a segurança e eficácia desse tipo de tratamento.


O projeto de lei aprovado pela Câmara determina que pacientes com tumor maligno vão poder utilizar a fosfoetanolamina, desde que haja a comprovação da doença através de laudo médico. Para ter acesso ao tratamento, o paciente precisará assinar um termo de responsabilidade.


Para a oncologista Cristiane Amaral, a decisão de regulamentar o uso da chamada pílula do câncer é precipitada e pode ter resultados contrários aos esperados. Ela acredita que a falta de testes que comprovem a eficácia da substância coloca em risco a saúde dos pacientes que a utilizam.


“Estão querendo queimar etapas. Jogaram nas redes sociais como se fosse a solução do problema do câncer. Todo medicamento precisa ser estudado, antes de ser disponibilizado à população. É preciso conhecer os efeitos colaterais da substância no organismo. Isso vai contra uma boa prática médica”, pontua.


Cristiane Amaral ainda argumenta que, em todo o mundo, diversas substâncias para o tratamento de câncer são estudadas, o que demanda um tempo maior de pesquisa para garantir a eficácia. “Ainda não é possível saber qual a dosagem correta para cada caso, a forma de aplicação, os efeitos colaterais. Essas respostas só são possíveis através de testes, que não acontecem de uma hora para outra”, afirma.


Conselho de Farmácia orienta testes


O projeto de lei aprovado na Câmara também permite a fabricação da fosfoetanolamina sintética, mesmo sem o registro sanitário. Para o membro do Conselho Federal de Farmácia, Oswaldo Bonfim, é preciso ter cautela, e aguardar a realização de testes mais aprofundados, que garantam a segurança dos pacientes que utilizarem a substância.


“Somos a favor de todo e qualquer medicamento que venha a beneficiar o paciente, mas é preciso ter cautela, para que o produto traga benefícios e não malefícios. A fosfoetanolamina deve ser realmente testada e, se comprovada a eficácia, disponibilizada à população da maneira mais rápida possível”, comenta.


Para garantir a eficácia do uso de substâncias no tratamento de doenças é necessária a realização de uma série de testes laboratoriais. Em alguns casos, esse processo pode durar até 10 anos. Segundo Osvaldo Bonfim, no caso da fosfoetanolamina, é possível chegar a esses resultados de maneira mais rápida, através de um esforço conjunto de pesquisadores e autoridades de saúde. “Não se faz testes de medicamento de forma rápida, é um processo complexo, que demanda tempo, protocolos a serem cumpridos”, completa.



Por: Natanael Souza - Jornal O DIA
Mais sobre: