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Pacientes renais estão há mais de 10 dias sem fazer diálise

Empresa responsável pelo serviço enviou uma carta às clínicas conveniadas ao SUS comunicando que não aceitaria novos pacientes.

20/07/2016 09:06

Os pacientes renais crônicos necessitam fazer hemodiálise constantemente e o procedimento é realizado através das veias, inicialmente nos braços. Contudo, quando não há mais acesso neste membro, faz-se no peritônio, que é uma membrana serosa que recobre as paredes do abdômen e a superfície digestiva, ou seja, na barriga.

No Brasil, a única empresa responsável por fornecer este serviço peritoneal é a multinacional Presenius Medical Care. Entretanto, segundo Luiz Gonzaga Moreira Filho, presidente da Associação dos Pacientes Renais Crônicos do Piauí (Aprepi), desde março deste ano, a empresa enviou uma carta às clínicas conveniadas ao SUS (Sistema Único de Saúde), comunicando que não aceitaria novos pacientes; porém, continuaria atendendo àqueles que já se encontram em tratamento.

Cerca de dois mil piauienses fazem hemodiálise, além dos que já fizeram transplante, mas que, vez ou outra, têm necessidade de fazer diálise ou hemodiálise. “O problema é que esta é a única empresa no País conveniada pelo SUS, ou seja, quem precisa e não era paciente peritoneal está indo a óbito, porque não tem como fazer. Há dois meses, quando nós da Associação ficamos sabendo, procuramos o SUS para saber como ficaria essa questão, mas não obtivemos retorno”, explicou Luiz.

No caso da diálise peritoneal, o tratamento do paciente é feito em sua própria residência, sem a necessidade dele se dirigir a uma clínica. A empresa que atua no Brasil fornece a máquina de diálise, o cateter que é colocado através de cirurgia e a bolsa de colostomia, que é feita a cada quatro horas ou à noite, com oito horas.

Risco de morte

Por conta deste impasse, o presidente da Aprepi destacou que alguns pacientes estão correndo risco de morrer sem o tratamento. Ele cita o exemplo de uma paciente que está há mais de 11 dias sem realizar hemodiálise, vez que não tem mais acesso nos braços. “A filha de uma paciente, que já faz hemodiálise há cinco anos, nos procurou dizendo que a mãe não tem mais nenhum acesso nos braços, na veia femoral, virilha, e que a única solução para ela não morrer seria fazer a diálise peritoneal, e ela já está com 11 dias que não realiza, e está internada no HUT com seu quadro grave”, relata.

Na última segunda-feira (18), o presidente da Aprepi procurou o Ministério Público Federal para entrar com uma ação contra a empresa e, nessa terça-feira (19), junto com a filha de uma paciente, foi à Defensoria Pública da União para fazer uma denúncia e entrar com uma ação individual.

“Vamos entrar com uma ação contra essa empresa, porque estamos tendo a primeira paciente que está necessitando do tratamento, mas poderemos ter muito mais, pois todos os dias entram pessoas na hemodiálise e diálise peritoneal. A associação vai entrar com uma ação coletiva em nome de todos os pacientes que estão e possam a vir a necessitar do tratamento, e na Defensoria, a filha da paciente está entrando com uma ação individual”, finalizou Luiz Filho.

Outro lado

Em um comunicado emitido pela empresa Presenius Medical Care, a multinacional informa que a diálise peritoneal no Brasil se encontra em uma situação econômica crítica, resultante da ausência de reajuste nos kits, por parte do Governo desde 2003, e que, mesmo após mudanças e otimizações, tornou-se inviável a manutenção do fornecimento dos kits de DP.

“Lamentamos informar que não aceitaremos novos pacientes; porém, seguiremos honrando o atendimento a todos aqueles que já se encontram em tratamento. Em adicional, informamos que a partir do dia 01/04/2016 também encerraremos nossa política comercial referente ao fornecimento dos kits de DP”, diz na nota.

A equipe de reportagem do Jornal ODIA tentou contato com o Ministério da Saúde, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição.
Por: Isabela Lopes - Jornal O DIA
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