Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Idosos ressignificam velhice por meio de interação social

Para eles, o convívio diário é motivo pra esquecer as preocupações e aproveitar os momentos bons

24/10/2018 09:30

A velhice é uma fase de mudanças e de rever a vida e o que ainda está por vir, talvez de uma maneira mais intensa que em outras fases da vida. Com mais experiência, é possível ver a vida de uma forma mais lúcida. E é por meio da interação com outras pessoas, em especial outros idosos, que muita gente ressignifica a velhice.

A aposentada Verônica Soares, de 68 anos, participa do Núcleo de Promoção da Terceira Idade do Centro Social Padre Arrupe há oito anos, desde 2010. Ela foi convidada a participar por amigos, mas teve também uma indicação médica. “Sou portadora de Parkinson e então o médico pediu que eu participasse de um projeto, de uma atividade física, dentro da minha idade”, conta.

Para ela, o projeto vai além das atividades desenvolvidas. “O projeto é a minha segunda casa. Lá eu esqueço os aborrecimentos, as dores, as tristezas. É um lugar onde a gente esquece até as contas a pagar. A gente faz muitas amizades, nos tornamos uma família. Não temos distinção de cor nem de classe. Somos todos iguais”, relata.

Patrício Guilherme é coordenador do Núcleo de Promoção da Terceira Idade do Centro Social Padre Arrupe e explica que, no público do projeto, têm inscritos de quase todos os bairros de Teresina, além de Timon, no Maranhão. A demanda vem principalmente de idosos que conhecem o projeto por meio de amigos.

“Como é um projeto antigo, muitos deles já são conhecidos e vão chamando vizinhos. Hoje a procura é espontânea. De 640 inscritos, temos mais de 80 pessoas na fila”, pontua.


Idosos se apresentam em lançamento de livro (Foto: Poliana Oliveira/O Dia)

Sobre o Centro Social Padre Arrupe

No centro, são realizadas atividades de segunda a sexta-feira, nos turnos da manhã e tarde. Além de atividades físicas, o espaço oferta atividades lúdicas, terapia ocupacional, artesanato, odontologia, assistência social e atendimento psicológico.

“[Realizamos] orientação humana e espiritual e mais atividades integrativas. É um serviço de convivência e fortalecimento de vínculo. Não é um abrigo, mas um serviço de encontro do idoso”, assinala.

Para Patrício, o impacto do projeto se dá na melhoria da qualidade de vida do idoso. “A partir do convívio com o outro, a depressão vai desaparecendo. Por estar praticando atividades físicas e nessa interação, muitos também deixam de usar tantos remédios. A terapia ocupacional ajuda a diminuir os problemas de memória”, acrescenta.

E Teresina, na visão do coordenador, carece de mais projetos desse tipo. “Nós estamos lotados, não temos mais condição de atender. Se existissem outros projetos como esse, com essa filosofia, consequentemente a cidade seria muito beneficiada”, conclui.

Sabedoria da idade

O convívio familiar, para dona Verônica, é algo que precisa ser resgatado e essa percepção, para ela, é algo que veio com a sabedoria da idade. Pela correria do dia a dia e em meio a tantas demandas, esse lado fica mais esquecido, por assim dizer.

“A gente não tem o tempo de almoçar com os filhos, quando chega em casa [do trabalho], os filhos já estão dormindo. A falta é essa. Antes tinha aquele momento de conversar, de contar histórias, de contar a sua vida. Os pais repassavam isso para os filhos”, afirma.

Para driblar essas ausências, Verônica costuma reunir a família aos domingos.

Com os netos, ela recupera esses momentos ao contar histórias e desenhar junto com eles. “A gente repassa o carinho, o amor, dessa forma. No almoço, a gente diz uma graça... Então, eu acho que isso é aprendizado. Eu estou repassando para eles o que eles também irão fazer com os netos futuramente”, enfatiza.

Na perspectiva da aposentada, “hoje que está vivendo”. Esse é o momento de melhor aproveitamento do que a vida tem a oferecer. “No projeto, a gente se encontra diariamente e vive aquele momento maravilhoso. Lá a gente dança, conta uma história, a gente diz uma lorota. Isso é viver”, conclui.

Por: Ananda Oliveira - Jornal O Dia
Mais sobre: