Casos de suícidio crescem e é preciso falar sobre esse problema
Assunto pouco discutido, o suicídio tem crescido nas mais diferentes faixas etárias, e os índices entre jovens e idosos chamam a atenção dos especialistas. A depressão é a principal causa.
Publicada em 28/09/2016 09:10
Enquanto o suicídio segue sendo um assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças). Em todo o mundo, entre os jovens, a morte por suicídio já é mais frequente que por HIV. Entre idosos, assim como entre pessoas de meia-idade, os índices também avançam.
Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio. O G1ouviu dois psiquiatras e uma psicóloga especializados para ajudar a esclarecer um assunto que, segundo eles, ainda é negligenciado:
Qual é o perfil do suicida?
Um dos estudos mais completos sobre o tema, feito pelos pesquisadores Daiane Borges Machado e Darci Neves dos Santos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisou dados do Sistema de Informações sobre a Mortalidade Brasileira (SIM), Datasus e IBGE entre os anos 2000 e 2012 no Brasil. As pessoas que mais se suicidaram foram as menos escolarizadas, indígenas (132% mais casos que na população em geral) e homens maiores de 59 anos (29% a mais que as outras faixas etárias).
O Mapa da Violência de 2014 (levantamento mais recente) também aponta uma alta de 15,3% entre jovens e adolescentes no Brasil, de 2002 a 2012. O suicídio é predominante no sexo masculino, com exceção da Índia e China. Os homens brasileiros têm 3,7 vezes mais chances de se matar que as mulheres, de acordo com o estudo da UFBA.
Tem sido registrado um aumento no número de suicídios em todas as faixas etárias: crianças, jovens, adultos e idosos, como afirma o Mapa: "Os suicídios no país vêm aumentando de forma progressiva e constante: a década de 1980 praticamente não teve crescimento (2,7%); na década de 1990 o crescimento foi de 18,8%, e daí até 2012, de 33,3%". Os especialistas entrevistados pelo G1 demonstraram especial preocupação com os jovens, que tem se suicidado cadas vez mais, e os idosos que são a faixa com o maior índice - 8 suicídios para cada 100 mil habitantes, a maior do Brasil, segundo o Mapa da Violência.
Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a cartilha anual de recomendação para a prevenção do suicídio. Nela, são apontadas 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia. A maior parte dos casos são executados por pessoas com depressão, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica.
Por que homens?
“A diferença [de taxas] entre os gêneros é geralmente atribuída a maior agressividade, maior intenção de morrer e uso de meios mais letais entre os homens”, concluiu o estudo da UFBA. Ainda segundo o texto, as mulheres “são mais religiosas, o que pode se tornar um fator de proteção”.
O psiquiatra Rubens Pitliuk, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, diz que a principal razão para os homens conseguirem efetivamente tirar a própria vida é a forma como eles tentam se matar. "Suicídio em homem é mais violento que em mulher. As mulheres em geral tentam [se matar] tomando comprimidos. É mais difícil a mulher se jogar de uma janela", explica.
Uma pesquisa de uma universidade do Canadá, de 2008, encontrou a associação da mortalidade por suicídio com a tendência de expor sentimentos. A taxa era menor nas regiões onde os homens eram mais propensos a falar sobre o que sentiam.