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Bebês prematuros: a força de quem já nasce resistindo

Viver ganha outro significado quando é preciso lutar por isso desde os primeiros dias de vida. Conheça as histórias de resistência na UTI neonatal da Evangelina Rosa.

26/11/2017 08:24


UTI neonatal da Maternidade Dona Evangelina Rosa recebe 14% dos bebês que nascem na unidade (Foto: Jailson Soares/ODIA)


Antes dos noves meses, eles foram expulsos do conforto da gestação. Ficaram entubados, tiveram seus corpos furados com seringas, precisaram de transfusão de sangue e alguns ainda fizeram cirurgias.

Procedimentos pelos quais a maioria dos adultos nunca passaram, os bebês prematuros suportam com resistência, pesando menos ou pouco mais de um quilo. Está aí um dos motivos por que a UTI neonatal da Maternidade Dona Evangelina Rosa, em Teresina, vive repleta de vitórias, tanto nos nomes quanto nos relatos de sobrevivência.

Caio Vitório começou a lutar pela vida ainda na barriga. Nasceu com menos de sete meses de gestação e 915 gramas, após enfrentar as consequências de uma pré-eclâmpsia e uma Síndrome de Hellp, sofridas pela mãe, Keila Sobral. As complicações obstétricas graves poderiam ter provocado a morte materna e do bebê.


Nascido com menos de um quilo, Caio Vitório é o guerreiro da mãe, Keila Sobral (Foto: Jailson Soares/ODIA)

Na última terça-feira (21) ele comemorou um mês de vida e ganhou 105 gramas de peso, alcançando 1,02 quilo. Já não precisa mais de aparelho para respirar, mas ainda se alimenta por sonda. “É um guerreiro e está evoluindo muito bem. Ele já consegue sentir o meu contato e chora quando preciso colocar de volta na incubadora”, relata Keila.

Do outro lado da UTI, Ana Rodrigues olha para sua filha com esperança. Maria Vitória teria o nome de Maria Luíza, se não tivesse nascido prematura e com apenas 520 gramas.

Após quatro dias de vida da filha, a mãe comemora o ganho de um grama de peso e o primeiro leite que a sua bebê tomou. “Ela vai sobreviver. Eu estou lutando junto e acredito”, disse Ana, lembrando com orgulho que a Maria Vitória abre o olho sempre que ela se aproxima.


Ana Rodrigues olha com esperança a evolução da pequena Maria Vitória (Foto: Jailson Soares/ODIA)

Enquanto as mães acariciavam seus bebês, dentro ou fora da incubadora, Aleciane Chaves saía da UTI neonatal aos prantos. A filha Heloíse, nascida há nove dias, tinha vomitado após ingerir 3 ml de leite. A quantidade de alimento, que até então era de 2 ml a cada duas horas, foi aumentada e provocou a reação. 

O nervosismo da mãe é compreensível, diante da aparente fragilidade do bebê com peso inferior a 2 quilos, mas a lição de coragem e resistência vem justamente da Heloíse. “Ela é mais forte do que eu. Está lutando pela vida. A gente, por qualquer coisa que saia da rotina, não aceita, enquanto ela está aí suportando”, reflete Aleciane.


Eles são mais fortes do que nós, diz Aleciane Chaves, mãe de Heloíse (Foto: Jailson Soares/ODIA)

Luto e esperança

Lis Caland treme a voz quando começa a relatar tudo que está passando ao lado da filha Louise Vitória. Ao longo dos 18 dias de vida, a bebê venceu uma infecção adquirida na UTI, fez transfusão de sangue e duas pequenas cirurgias para implantação de cateter.

No entanto, nada foi tão forte quando a perda da irmã gêmea Isabela, após cinco dias de nascidas. “No dia que ela se foi, a Louise piorou. Parece que sentiu a dor pela morte da outra”, relata a mãe, emocionada.


Louise Vitória sofreu a dor de perder a irmã gêmea, mas permanece lutando pela vida ao lado (Foto: Jailson Soares/ODIA)

Foram momentos difíceis, mas que a pequena sobrevivente está superando a cada dia. Louise já conseguiu estabilidade clínica, teve ganho de peso regular e saiu da UTI para iniciar a segunda fase do tratamento na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru.

Presença da mãe ajuda recuperação

Isabela abre os olhos e levanta a cabeça quando ouve a voz da mãe, Girlene Amorim. O pequeno sinal de reconhecimento é motivo de alegria para a mulher que está com a filha há mais de um mês na UTI neonatal. “A gente sabe que ficar perto ajuda a passar segurança e confiança”, comenta Girlene.

O Método Canguru, desenvolvido na Evangelina Rosa desde 2004, tem como base exatamente essa ideia de que a presença da mãe é uma ferramenta importante no processo de evolução dos bebês que nasceram antes do previsto.


Girlene Amorim utiliza o método Canguru para ajudar a filha a se desenvolver (Foto: Jailson Soares/ODIA)

Segundo o diretor-técnico da maternidade, Marcos Bittencourt, ao adotar o Método Canguru, a unidade melhorou os indicadores de saúde do recém-nascido de baixo peso. “Além dessa medida, são adotadas outras providências, como o aleitamento materno facilitado e a prevenção de infecções hospitalares, o que diminui o tempo de hospitalização, reduz o estresse e a dor do recém-nascido, melhora na qualidade do desenvolvimento motor, cognitivo e psicoafetivo”, comenta o médico.


Foto: Jailson Soares/ODIA

De acordo com dados da Maternidade Dona Evangelina Rosa, são realizados cerca de 1200 partos por mês na unidade, sendo 14% deles prematuros. O tratamento desses bebês começa pela Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Unidade de Cuidado Neonatal Convencional.

Foto: Jailson Soares/ODIA

A segunda etapa é realizada na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru, que consiste na permanência contínua com a mãe. A alta hospitalar ocorre quando a criança atinge o peso mínimo de 1,7 kg e se caracteriza pelo acompanhamento do bebê e da família até a criança atingir o peso de 2,5 kg.


Leia também: Na UTI, a vida é uma luta de muitos 



Por: Nayara Felizardo
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