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"œO PSOL não reescreverá a história do PT"œ, diz Jesus Rodrigues

Jesus Rodrigues comentou os rumos políticos que o país vem passando, analisou o que chamou de "œerros cometidos pelo PT" após poder.

01/05/2016 08:17

O senhor é pré-candidato a vice-prefeito pelo PSOL, um partido que se diz de esquerda, e o senhor passou muito tempo no PT, foi secretário, deputado federal, mas decidiu sair do partido após as últimas eleições. O senhor acredita que o PT ainda é um partido de esquerda?


Nós conquistamos as eleições em 2002 e eu assumi realmente secretarias. Fui diretor da Cohab, depois do Detran, lembro que, em 2007, já tínhamos um grupo organizado dentro do PT para tentar traze-lo de volta para seu caminho natural. Infelizmente, em nível de Piauí, sentimos uma dificuldade em fazer isso. Tentamos isso ainda em via nacional. Como deputado federal, me aproximei de grupos dentro do PT para que nós pudéssemos ando freio ou tentando reconduzir o partido para seu curso. Vendo a dificuldade em fazer isso, eu resolvi, realmente, sair da campanha realmente em 2014. Na verdade, quando eu decidi, realmente, não ser candidato, no início de 2014, eu já havia comunicado ao principal líder do partido, o governador Wellington Dias, que eu sairia do PT. Apenas não comunicaria o fato imediatamente para não trazer prejuízos para a campanha dele e nem da presidente Dilma, que eu já percebia com muitas dificuldades, inclusive em conquistar a vitória. Então, diante disso, do ponto de vista ideológico e das práticas, o PT deixou de ser um partido de esquerda.



Na sua avaliação, isso começou a partir de quando?


Foi progressivamente. O fato de buscar a governabilidade fazendo alianças com partidos tradicionais foi levando o PT para uma posição mais de centro e isso trouxe um aprendizado de práticas políticas antes criticadas pelo partido e que são praticadas por partidos de direita.


Que tipos de práticas o senhor se refere?


A prática do convívio com as empresas, de troca de favores, financiamento de campanha. Esse tipo de prática é terrível. A distribuição de cargos dentro do poder executivo em troca de apoio legislativo sem levar em consideração uma política de propostas de partido que ganhou o executivo, mas que tivesse que fazer pela governabilidade uma aliança de gestão baseada nas praticas do partido que viesse a ser contemplado com o órgão. Então, essas práticas tiraram as características de esquerda do Partido dos Trabalhadores. Entretanto eu tenho que reconhecer que, mesmo dessa forma, há avanços no que diz respeito aos mais pobres, com políticas sociais que reduziram a desigualdade social, como o Bolsa-família, a política do salário mínimo, de manutenção de emprego, mesmo que às vezes manter o emprego significaria despesas elevadas. A redução da pobreza, a exclusão do mapa mundial da fome. Então, são avanços, do ponto de vista da gestão, de um partido que tem olhado para os mais pobres. Mas, a medida que ele incluiu 40 milhões de pessoas no mercado de consumo, não mudou as regras do mercado de consumo e permitiu que os mais ricos ficassem também ainda mais ricos. Isso significa também um achatamento da classe média. A classe média se viu sem a capacidade de se tornar milionária e viu uma classe pobre se aproximar dela e isso gera um conflito. Essa classe média é a formadora de opinião, a que debate, a que forma o cordão hoje contra a Dilma. É eles que estão sendo perder as possibilidades para os filhos dos pobres, as vagas para os cursos das nossas universidades federais poderão passar a ser disputadas em igualdade de condições do filho do pedreiro, do gari. E isso incomoda a classe média. O direito da empregada doméstica incomoda determinados setores da classe média.


Essas medidas, na sua avaliação, são ruins?


Não. Acho que essas medidas são positivas. Tivemos que, enquanto sociedade, avançar nesse sentido. Por isso que digo que, sob a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT) se avançou para esse lado, melhorou as condições da extrema pobreza, melhorou as condições de educação e ninguém pode negar o número de Institutos Federais. São inúmeras as universidades federais também. Então, são números importantes, que eu apoio, valorizo e que eu acho que deveriam seguir. Agora, as práticas políticas e as alianças pela governabilidade foram completamente equivocadas e levaram o PT a situação a que ele se encontra hoje.


Só voltando a questão da classe média, o senhor acha que eles estão errados em criticarem isso?


Olha as pessoas têm direito de defenderem suas posições, suas opiniões e aquilo que é de futuro melhor para si próprio. O que temos que fazer é com que a população venha a debater política e políticas públicas em que essas parcerias se estabeleçam a partir de uma consciência. A minha opinião pessoal é de que, pela ideologia dominante, o PT poderia ter perdido em 2014. A Dilma poderia não ter sido eleita para seu segundo mandato e isso porque as pessoas que se beneficiaram com os programas, com as políticas públicas desse governo, com salário mínimo, com mais emprego, com mais educação. Essas pessoas se beneficiaram e elas votaram. Acredito que uma parcela considerável ainda vai estar com esse pensamento. Elas vão optar por quem olha para elas e aí, a classe média vai optar por quem olha para eles. Esse debate a população precisa fazer. O negócio é que nós nos politizamos bastante, o debate para as eleições de 2014, começou muito tempo atrás e persiste até hoje. Enquanto eu achava que a nossa sociedade seria divida por questões religiosas, nós estamos hoje divididos por questões políticas. O que eu digo é que nós não precisamos dividir as pessoas. Deve ser assim: eu estou com a minha ideia, você está com a sua, vou lutar pela minha e você pela sua. Convivo com isso há muito tempo e o Brasil tem todas as condições de conviver dessa forma, com respeito.


O senhor acha que, devido o embate ter começado bem antes, está havendo o aumento da intolerância no Brasil?


Com certeza e a intolerância vem sendo construída de maneira sistemática proposital para derrotar um partido, derrotar uma ideia. A oposição ao PT, ao Governo que vem esses últimos 13 anos, construiu a primeira derrocada da imagem do Partido dos Trabalhadores. Depois conseguiu travar o Governo Dilma no parlamento. E, se eles conseguirem o impeachment, que tem grandes chances de ocorrer, depois disso, eles têm um adversário: Lula. Ou eles irão queimar a imagem do Lula, ou o tornarão inelegível, ou prendem o Lula, ou terão um grande adversário para a Presidência da República. Nas últimas eleições, todos os meus votos para Presidente da República foram para o PT, mas o próximo, o meu não será. Mas quem sabe se o meu partido não passar para o segundo turno, eu vou avaliar o cenário de quem vai concorrer com Lula. Hoje essa prática do PT não me atrai.


De que forma o senhor, com sua experiência, o senhor poderá ajudar o PSOL a ter êxito aqui em Teresina?


Eu considero que o PSOL tem amplas condições de apresentar uma proposta de gestão da cidade, completamente diferente da que é feita pelo Firmino. Se o Brasil viveu 16 anos de um Governo e cansou hoje dessa prática, só o Firmino sozinho vai completar isso. Então, os teresinenses já estão um pouco fadigados desse feijão com arroz tucano que quando recebe a cidade de uma gestão anterior, como ele recebeu do Elmano, deixa a cidade aos cacos, trapos e fiapos como se ela estivesse falida e, quando chega em ano de eleição começa a arrumar a cidade. Todo dia tem equipe de poda, de capina, pintando a cidade, propaganda em outdoor. As pessoas vão perceber que Teresina pode ser administrada de outra forma, completamente diferente. Aí eu digo, e tenho insistido com isso no PSOL: é a nova política, é a relação que o executivo pode ter com as pessoas e com a Câmara de Vereadores. Queremos administrar de forma absolutamente transparente, participativa. E como fazer isso? É com um orçamento participativo, com parte desse orçamento sendo gasto como a população indicar. Os hospitais, as escolas podem ter conselhos, os bairros, associações. Não aquelas associações carimbadas, que já tem salários dentro da Prefeitura, mas pessoas comuns que queiram contribuir com sua sugestão, vigilância a gestão da Prefeitura.


Porque o PSOL não decidiu colocar o senhor como o pré-candidato a Prefeito, já que o senhor tem mais visibilidade e experiência em relação ao outro pré- -candidato?


Eu, quando cheguei no PSOL e, devo lembrar que eu conclui o meu mandato em 2015 e só fui oficializar minha filiação pouco tempo depois. A estratégia do PSOL para Teresina já estava planejada. Algumas pessoas até achavam que eu poderia ser o candidato e a minha intenção era ser candidato a vereador, mas quando vi que algumas pessoas dizendo que eu poderia ser o candidato a prefeito, outras dizendo que eu não deveria ser nem candidato porque eu já havia traído o PT e estava vindo para o PSOL, foi o leque completo. Essa discussão foi adiando, e eu perdi o tempo de ser o candidato a prefeito. E eu respeito. O grupo majoritário já tinha uma estratégia, e poderia ter um segundo, um terceiro grupo politico no partido e eu não quis dividir. Digo que é louvável a posição do partido que soube respeitar uma posição tomada antes. Fico feliz de ter chegado no PSOL sozinho e ter sido aceito pelo grupo para ser candidato a vice. Essa minoria que não me queria no PSOL, vai passar o tempo e eu vou conquista-la também. A experiência que eu quero trazer ao PSOL é não cometer os erros que o PT cometeu. Não vou impor nada e não vou aceitar que me imponham nada. A história não se repetirá no PSOL. O PSOL não reescreverá a história do PT. Vamos construir a nossa história a partir de uma nova realidade.



Por: Mayara Martins e Robert Pedrosa - Jornal O DIA
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