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"œEu me preparo para uma possível candidatura", diz Jair Bolsonaro

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Dia, o deputado federal Jair Bolsonaro fala sobre concorrer nas eleições de 2018 e as medidas que tomaria caso eleito presidente.

18/03/2017 09:58

ODIA: O senhor é deputado federal e tem participado dos debates na Câmara Federal, envolvendo algumas reformas empreendidas pelo presidente Michel Temer, como a reforma da previdência. Como avalia as propostas oriundas do Governo?

Bolsonaro: Tem órgãos da imprensa dizendo que o Henrique Meireles disse que eu sou a favor das reformas. Eu nunca falei isso, nunca apertei a mão e nem troquei um olhar com o Meireles. A proposta que está aqui no Congresso não conta com o meu apoio. Como foi proposta aqui não dá para buscar meio termo não. Acho que tinha que ser uma pequena reforma e deixaria que o presidente futuro desse outro passo. 

ODIA: E sobre a reforma trabalhista que também está em discussão? A gente sabe que o Brasil tem hoje mais de 12 milhões de desempregados e tem essa discussão sobre a reforma. Como o senhor avalia essa reforma? Que caminhos apontaria para superarmos a questão do desemprego?

Bolsonaro: Primeiramente, esse número não é real. Já chegamos na casa dos 40 milhões. Eu vou explicar porque. Quem está no Bolsa-família é tido como empregado. Nós queremos é não acabar com o bolsa-família, mas diminuir o número através de geração de emprego. A pessoa não pode ter a vida toda como fonte de renda um benefício social enquanto tem alguém que trabalha para ele receber. Mas, por outro lado você não pode acabar com o bolsa-família porque um terço das pessoas que recebem não tem como sobreviver se lhe for tirado. Agora, quando se fala de reforma trabalhista, não se pode fazer reforma por projeto de lei e nem por proposta de emenda a Constituição, porque quando se fala em direito trabalhista, se está falando de capítulo das cláusulas pétreas, ou seja, somente uma nova assembleia geral constituinte poderia mexer naquilo. Temos que ter muita responsabilidade porque estamos mexendo com vidas dessas pessoas. O que a classe empresarial tem dito para mim é o seguinte: o trabalhador um dia vai ter que decidir: menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego. Essa é uma frase emblemática e que deve ser colocada com responsabilidade. Teve um jornal que disse, por maldade, que eu defendia que mulher ganhasse menos do que homem. Quando você se compara a legislação do Brasil com a dos Estados Unidos. Lá não tem direito nenhum e muita gente daqui do Brasil foi para lá trabalhar. E quem trabalhar lá ganha, no mínimo o equivalente a quatro vezes o que ganha aqui, pode comprar seu carro, programar suas férias, tem como educar seus filhos, anda com segurança. Aqui, com esse tanto de direitos, você não usufrui de nada. Temos que buscar o meio termo. O Brasil não pode continuar sendo o recordista intergaláctico de sindicatos. Ano passado, nós tivemos três milhões de ações trabalhistas. Somadas as ações trabalhistas do mundo todo não se chega perto disso.

ODIA: Na sua avaliação tem que haver uma atualização nesse sentido?

Bolsonaro: O que acontece hoje com os sindicatos? Já levantam as espadas e dizem que os deputados querem acabar com os direitos. Eu pergunto: qual o direito dos empregados? Quem sabe não criamos o estatuto dos empregados. Por exemplo: o João é desempregado, casado, tem filhos e não tem como arranjar emprego. O João precisa ter algum direito de poder trabalhar, se quiser, uma quantidade de hora por dia ganhando menos para não ir para o desespero, não fazer besteira. É um direito teu. Essas questões assim, não pode os líderes sindicais viver nabadescamente daquela contribuição obrigatória anual de determinados números de trabalhadores e servidores que são obrigados a contribuir com sindicados. Eu até estava vendo esses dias. Lá nos Estados Unidos não têm direitos trabalhistas, tem pena de morte, tem prisão perpétua. Porque não podemos copiar algumas coisas que eles têm lá? Hoje escola pública é doutrinação ideológica, é ideologia de gênero, abandono da norma culta. O que está acontecendo é que estamos criando uma massa no Brasil sem cultura e o que pode acontecer lá na frente? Sermos como certos países ditatoriais, onde aparece um salvador da pátria, que vai querer dar um freio por 30..40 anos e vamos perder o que temos de mais sagrado, que é a nossa liberdade.

ODIA: O presidente Michel Temer tem adotado algumas medidas para aquecer a economia. Na sua avaliação, essas medidas estão acertadas? A crise econômica que o país passa, está próxima ao fim?

Bolsonaro: Eu acho que a crise econômica não está perto do fim. Quando se fala de economia, você não tem como estalar os dedos e resolver o assunto. O Brasil, ao longo do Governo do PT, ficou muito ligado ao critério ideológico para fazer negócios com o mundo todo e daí você abandonou países que podiam alavancar melhor o comércio com o Brasil, com países do primeiro mundo. O Brasil priorizou comercializar com o Mercosul, Cuba, países da África, inclusive com contratos que só saberemos os termos daqui há 20, 25 anos. Até lá eu já morri.

ODIA: O mundo político está na expectativa do julgamento dos processos relacionados à Lava-Jato e também da divulgação dos nomes de políticos em que o Procurador Rodrigo Janot abriu processos. Se ventila nomes como o do ex-presidente Lula, da ex-presidente Dilma, do senador Aécio Neves, ministros do Governo Temer. O senhor está acompanhando essas discussões? Como avalia essa relação, tendo em vista que consta nomes de lideranças de vários partidos?

Bolsonaro: A cúpula da política nacional está sendo dizimada. Eu não posso acreditar, mesmo sabendo que pode ser que alguém seja inocente, o que eu não acredito, o povo vai votar nessas pessoas no ano que vem. Seria praticar o suicídio, o eleitor que fizer isso. Estaria matando o próprio país. Esse mar de corrupção que se transformou em uma regra, eu espero que agora saiam novas lideranças.

ODIA: O senhor iniciou a visita aos Estados, inclusive com agenda no Piauí. Ao mesmo tempo, seu nome cresce nas pesquisas de intenções de votos à Presidência. Tem essa pretensão de buscar uma candidatura?

Bolsonaro: Quem se prepara evita ser surpreendido. Eu me preparo para uma possível candidatura. Eu ainda não sou candidato a nada. Os institutos de pesquisa me colocam aí e eu estou me consolidando em segundo lugar, atrás do Lula. Eu não vou aí para dizer o que devem fazer para melhorar a vida do piauiense, até porque têm os deputados federais, estaduais, governador de vocês para buscar solução para isso. Eu farei uma visita onde falarei algumas coisas sobre o Brasil e fico aberto às perguntas. Eu vou à Federação do Comércio, que, a princípio, passa por políticas do município. Não estou indo como salvador da pátria. Estou indo como brasileiro. Não vou me reunir com as lideranças do PSC aí, apesar de não ter nada contra os colegas. O meu problema é com o presidente nacional do PSC porque se uniu com o PCdoB. Quando a gente fala em Partido Social Cristão, o que se fala é o posto do PCdoB. O PSC nosso defende a família, o livre mercado, um montão de coisas ao contrário do PCdoB. Um partido que dorme com o inimigo não dá. O PCdoB defende que uma girafa com um elefante seja uma família. Quero ir aí para o Piauí visitar o meu querido Mão Santa, que agora é prefeito.

ODIA: Em outros países, há uma onda conservadora, como a eleição do presidente dos EUA, Donald Trump. Acredita que essa onda conservadora pode replicar no Brasil? Isso lhe favoreceria?

Bolsonaro: Não é uma onda conservadora. A maioria da população do Brasil é conservadora. Naturalmente o pessoal vai acordando e daqui a pouco, se não nos movimentarmos, vamos partir para o socialismo e não queremos isso. O socialismo no Brasil é um nome de fantasia do comunismo. Onde isso deu certo no mundo? Só levou desgraça, mortes, violência, desespero. Imagine como vive o pobre do povo cubano, coreano. Estamos votando agora uma nova lei sobre migração. É um absurdo o que estão fazendo. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode chegar e ter os direitos que os brasileiros têm, como sistema de saúde, educação gratuitos. Nós não temos como bancar essa possível quantidade imensa de pessoas que vão entrar no Brasil. Tem umas pessoas que dizem que sou xenófobo. Não é isso aí. A invasão da Venezuela levou a prostituição, a violência. Não podemos aplicar a história de país sem fronteiras. É o que o Trump está fazendo nos Estados Unidos e ele tem razão, aí acusam o cara de xenófobo. É a mesma coisa comigo. Me acusam de homofóbico. A minha briga não é com homossexual, a minha briga é com material escolar. A escola não é lugar para você ensinar sexo. Quem deve ensinar sexo é pai e mãe.

ODIA: O senhor é bastante conhecido pelo conservadorismo em relação à alguns pensamentos. Por conta disso, tem uma certa rejeição nos movimentos sociais, sobretudo de mulheres e homossexuais. Em um cenário político do ano que vem, em que o senhor pode concorrer as eleições, teria alguma estratégia para reverter essa imagem?

Bolsonaro: Qual a origem desses problemas? Mentiras plantadas na imprensa! Qual o problema que eu tenho com mulher? Um jornal me entrevistou e o assunto era: porque a mulher ganha menos do que homem. Eu estudei o assunto e respondi. Olhei pesquisas do IBGE, falei com a classe empresarial. Eles preferem empregar homens do que mulheres, justamente por causa de um direito trabalhista: a licença maternidade. Aí o jornal colocou: “Bolsonaro diz que mulheres ganham menos que homens porque engravidam”. O que é uma idiotice! Como regra, a imprensa está perdendo sua credibilidade. Eu estou sofrendo isso aí porque eles viram, lá atrás, que eu tinha potencial lá na frente. Não vão me derrubar na LavaJato. Até tentaram me colocar lá, quando em 2014 colocaram R$ 200 mil da Friboi na minha conta, mas eu não aceitei. Me acusaram um tempo atrás de ser racista! Por quê? Porque sou contra as cotas! O povo diz: o afrodescentente é sofrido. Mas o branco também não tem seus problemas? Os nordestinos também têm seus problemas! Agora o pessoal usa para fazer demagogia.

ODIA: Em se tornando presidente, que políticas pretende desenvolver para as minorias (mulheres, GLBTs, negros)?

Bolsonaro: Não se tira problemas individuais. O que temos que fazer é pensar no coletivo. O que tira as pessoas da miséria é a educação. Até porque se o Estado quiser atender todas as minorias, teria que atender uma grande maioria. E não tem recursos para isso! Tem muitos homossexuais bem sucedidos. Temos negros com uma vida tranquila também! Fui na Mackenzie e lá tinha muitos pesquisadores estrangeiros e tinha uma afrodescendente que deu um banho de conhecimento na gente! Ela não estava ali por cotas. Ela estava pelo conhecimento dela! Então, você tira qualquer minoria que se julga discriminada com conhecimento! O que não podemos é deixar os professores fazer o tempo todo política dentro de sala de aula, defender o PT, o PSDB, o PMDB. Isso não dá futuro para ninguém. Tem que dá conhecimento!

ODIA: Como o senhor avalia o Plano de Segurança Pública nacional, essa assistência que o Governo Federal dá aos estados, essa política de combate a violência?

Bolsonaro: Eu perguntaria para a população assim: você dorme em paz na sua casa sem uma arma do teu lado? Eu tenho certeza que a maioria da população responderia assim: não! Então, a segurança começa dentro de sua casa. Você quando deita você precisa ter a segurança dentro da sua casa. Minha primeira medida seria liberar a posse de arma, posse e não porte, para todo o cidadão de bem! Nos Estados Unidos você compra um fuzil e tem, na sua casa e não tem problema nenhum. E lá o número de mortes violentas por grupo de cem mil habitantes é dez vezes menor do que aqui. Só que lá tem lei. Se você apontar uma arma para um policial, por exemplo, você pega 20 anos de cadeia. Cada estado tem seu Código Penal. Aqui no Brasil, cada uma das 27 unidades da federação poderia ter seu Código Penal. Agora aqui temos os “saidões”. Aquela Suzane Von Richthofen, que matou os pais, teve direito a um “saidão” do dia das mães. Uma menina que matou a mãe e sai para visitar quem!? É um dos absurdos que temos! Outra coisa importante é o agente de segurança pública. Um médico quando vai operar alguém, essa pessoa pode morrer na mesa de cirurgia. Esse médico, se não foi um erro médico, ele não responde por isso. Um policial aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, que a topografia é ruim para isso, o policial vai em um morro cumprindo ordem judicial é recebido a bala, ele troca tiro, se morre um inocente, a mídia, o Ministério Público a OAB, os Direitos Humanos, vão para cima do policial e ele vai para a cadeia. Temos que colocar no Código Penal um artigo que coloca o policial como ausente de licitude o policial militar em operação para que ele respondesse como o médico.

ODIA: O PT para chegar ao poder, precisou se juntar com partidos grandes, o PMDB. O senhor hoje está no PSC, que é um partido político pequeno. O senhor como candidato a Presidência, pretende procurar partidos mais tradicionais como PSDB, PMDB, PDT para uma aliança? Que siglas deve buscar para uma aliança em 2018?

Bolsonaro: Vou dar um ipon em você. Eu posso até disputar as eleições em um partido menor que o PSC. Agora, se é para fazer a mesma coisa que, lá atrás, FHC, Dilma, Lula fizeram, eu estou fora. Eu não quero disputar uma Presidência e, sendo eleito, eu ter que dar tantos ministérios para tal partido, tantos para outros, porque quando eu chegar lá vou ficar que nem bobo na corte. Esse modelo político nacional já se esvaiu. Não dá mais, esgotou. Ninguém aguenta mais. Esse parlamento nosso que é caríssimo, nós só discutimos o que? Como as pessoas podem se safar de punições da Lava-Jato! Vou fazer um desafio: nos últimos 20 anos, me aponte um nome de um ministro que tenha se esforçado para fazer o melhor pelo seu ministério? Deveríamos ter dezenas e não temos nenhum!

Por: João Magalhães - Jornal O Dia
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