Apontado como pré-candidato à Prefeitura de Teresina, o
deputado federal Rodrigo Martins (PSB), comentou a sua
experiência no primeiro mandato no legislativo Federal.
Segundo ele, é uma experiência diferente, sobretudo,
devido ao ritmo de trabalho na Casa. Em entrevista ao
ODIA, o socialista comentou temas polêmicos como o processo
de impeachment da presidente Dilma, defendeu o
afastamento de Eduardo Cunha (PMDB) da Presidência
da Câmara, e falou da “mini-reforma” eleitoral. Rodrigo
também admitiu que pode, sim, disputar a Prefeitura de
Teresina, mas evitou fazer confrontos diretos e ataques a
gestão do prefeito Firmino Filho. “Acredito que, como qualquer
outra gestão, tem seus acertos, mas também inúmeros
problemas”, disse ele, rechaçando possibilidades de aceitar
uma candidatura de vice e também alianças com o PT. “O
único partido que não temos diálogo é o PT”, disparou ele,
sem poupar críticas ao Governo Dilma e Wellington. Confira
a entrevista:
Você está em seu primeiro mandato
na Câmara Federal, como
tem avaliado essa experiência?
Uma experiência um tanto
quanto diferente. Eu tinha
concorrido e sido eleito a
vereador de Teresina, um
legislativo menor, que iniciou
com 21 vereadores e
depois ampliou para 29, onde
tínhamos muito contato com
o outro parlamentar, sempre
discutindo qualquer tipo de
projeto de lei. Era bem restrito
também ao ambiente
da cidade de Teresina. Então,
tem sido uma experiência,
não apenas diferente, mas
desafiadora, na verdade,
onde estamos no meio de
513 deputados. É humanamente
impossível discutir
com profundidade todos os
problemas, pela infinidade
de projetos de leis, mas é
uma experiência que tenho
aprendido muito, até porque
força o parlamentar a se
dedicar bem àquele tema que
ele está relatando, que está
abordando na tribuna. Eu
lamento por ser um período
muito conturbado. É o meu
primeiro ano, então é um ano
de aprendizagem, aprender
regimento, até mesmo a
localização das coisas, que a
Câmara é imensa, bem maior
do que a daqui, mas também
por essas questões que são
momentâneas, como essas
denúncias que aconteceram
desde o início do mandato,
envolvendo deputados, senadores.
Existe um desgaste
muito intenso e também uma
briga muito forte da oposição
com o Governo por conta de
resquícios eleitorais. Essa
briga tem prejudicado muito
o andamento da Casa. Nós
observamos que o próprio
presidente tem sido alvo de
investigações e isso tem prejudicado
o andar das coisas
na Casa. Mas está sendo
uma experiência valiosa.
O Legislativo Federal tem discutido
temas polêmicos, como a
própria Reforma Eleitoral, cujas
regras já valem para as eleições
deste ano. Como o senhor avalia
essas mudanças aprovadas?
Não aconteceu da forma
que todos pensavam. Foi uma
minirreforma, que deixou
muito a desejar. Se discutiu
muito e, ao mesmo tempo,
foi uma votação que teve
vários atropelamentos, como
a própria exclusão do relator,
que era o deputado Marcelo
Castro e isso atrapalhou as
discussões e desviou o foco da
reforma política. Nós conseguimos
fazer algumas alterações,
como a diminuição
do tempo de campanha,
diminuição da campanha no
rádio e Tv, algumas questões
que venham baratear a campanha
eleitoral, mas acredito
que ficou aquém do esperado.
Temas importantes como a
coincidência de mandatos,
por exemplo, não evoluiu.
Eu, particularmente, sou
defensor da coincidência de
mandato. O país para, com
eleições de dois em dois anos.
Mas tivemos pontos positivos.
Só o fim da reeleição,
por exemplo, já é um grande
avanço para esse momento
que estamos vivenciando.
Outro tema importante foi abertura
de processo de impeachment
contra Dilma. Agora, as atividades
serão retomadas, como será sua
posição, diante desse processo?
O PSB ainda não se posicionou
de uma maneira
clara. Estamos discutindo
dentro da bancada. Porém,
eu tenho uma posição bem
clara e já externada favorável
ao impeachment. Eu acredito
que o crime de responsabilidade
fiscal ocorreu. Foi
constatado, confirmado pelo
TCU, que é um órgão técnico
que serve para auxiliar
a Casa legislativa. Não tenho
menor dúvida que o crime
aconteceu. Apesar de ser presidente,
de ter sido eleita com
voto popular, ela não é maior
que ninguém. Ela tem o dever
de obedecer as leis. Como ela
não obedeceu as leis, ela deve
ser sim, julgada e, pra mim,
não tenho nenhuma duvida
que votarei a favor do impeachment.
Uma vez eu fui
até questionado: “Ah, você
é a favor do impeachment,
mas e quem vier depois dela,
vai resolver o problema do
Brasil?”. Eu acredito que não,
que não teremos nenhum
salvador, mas existe, pelo
menos, o dever de cumprir a
lei e o crime de responsabilidade
fiscal deve sim ser analisado
e afastado qualquer
presidente que descumpriu
a lei. Se fosse com qualquer
prefeito do interior, eu não
tenho nenhuma dúvida que
ele já estaria afastado.
O sobre Eduardo Cunha? Ele
também tem sido alvo de questionamentos.
Ele tem condições de
permanecer na presidência da
Câmara?
Não! Ele não tem. Eu
também defendo que ele saia.
O partido já decidiu isso de
forma unânime. Não votamos
no Eduardo. Tivemos um
candidato a presidente que
foi o deputado Júlio Delgado,
mas o Eduardo teve alguns
pontos positivos, no sentido
de dar uma independência
ao Legislativo, ao colocar
em pauta não o que a Dilma
queria, mas sim uma pauta
as vezes até polêmica, como
a terceirização, reforma política,
maioridade penal. Foi
uma pessoa que deu uma
autonomia muito grande à
Casa. Inúmeras denúnciasforam feitas em relação a
ele. Esteve na CPI da Petrobras,
alegando que não tinha
nenhuma conta no exterior
e já sabemos que não é verdade.
A partir do momento
em que ele vem em público,
em uma comissão, sem ser
convidado e omitiu a verdade,
ele passa a ser questionado.
O seu partido defende uma candidatura
própria, inclusive seu
nome foi colocado como pré-candidato
a prefeito. Como avalia a
administração do prefeito Firmino
Filho?
Eu sou um amigo e admirador
do prefeito Firmino
Filho. Contribui com ele,
enquanto vereador, enquanto
presidente da Câmara e
também, agora, enquanto
deputado, tenho buscado
contribuir com a cidade.
Meu posicionamento em
relação à gestão não irá
mudar por conta de uma
pré-candidatura. Acredito
que, como qualquer outra
gestão, tem seus acertos,
mas também inúmeros
problemas. O prefeito Firmino
Filho está em seu terceiro
mandato, foi prefeito
em uma situação em que
o Brasil vivia economicamente
melhor do que a atual.
Tenho absoluta certeza que
ele também está sentindo
essa crise financeira, com a
escassez de recursos econômicos
da cidade e, com muita
dificuldade, tentando fazer
uma administração adequada
para a cidade. Lógico
que, se eu fosse o prefeito,
algumas decisões seriam
tomadas diferentes. Mas,
até o momento, não temos
conhecimento de nenhum
escândalo dentro da gestão,
muito pelo contrário. É uma
equipe respeitada, que tem
um certo tempo de administração
e que tem demonstrado
um preparo e conhecimento
sobre a cidade.
Seu nome foi colocado como
pré-candidato a Prefeitura de
Teresina pelo seu partido. Aceitará
o desafio?
Nós estamos conversando
dentro do partido. É uma
vontade do PSB nacional que
se tenha candidatos próprios
nas capitais. Eu confesso que
não foi algo que eu aceitei de
primeiro momento. Foi algo
que foi trabalhado, discutido
e pedi um prazo até o final de
janeiro para dar uma posição
oficial ao partido. Solicitei
que a executiva municipal
de Teresina conversasse com
outros detentores de mandato,
sobre a disponibilidade
deles em serem candidatos.
Até o momento, nenhum
deputado ou nenhum filiado,
se manifestou nesse sentido.
Se for uma vontade unânime
do partido e, dentro de
uma perspectiva de trabalhar
ideias novas, diferentes
para problemas que acontecem
há muito tempo na
cidade, colocarei meu nome
a disposição, mas não é algo
que está 100% consolidado, é
algo que estamos evoluindo
na discussão. Hoje, se você
me perguntasse, de 0 a 100,
qual seria a chance, eu diria
que 90% de chance, mas que
precisa ainda discutir alguns
pontos dentro do partido para
buscar apoios de outros partidos
para uma composição.
Esse diálogo com outros partidos
já foi iniciado?
Estamos conversando.
Estamos de portas abertas.
Eu sempre digo: o único partido
que não temos diálogo
é com o PT. Nós assumimos
esse lado antagônico aqui
em Teresina. Tenho muitos
amigos no PT, mas...
O que fez com que houvesse essa
restrição, já que PT e PSB já estiveram
juntos, inclusive seu tio, o
ex-governador Wilson Martins, foi
vice do governador Wellington?
Isso. O ponto principal da
discussão se deu ainda um
ano antes da eleição, quando
o próprio Eduardo Campos
teve uma conversa com a
presidente Dilma, alertando
ela sobre os caminhos possíveis
que poderia acontecer
com o Brasil. Naquela época,
ele já vislumbrava essa crise
que está acontecendo. Desde
então, o Eduardo Campos
se reuniu com o partido e
disse que preferia entregar
os cargos, se distanciar um
pouco do PT para ter a liberdade
de discussão dos problemas
do país. Há muito
tempo, não só aqui no Piauí,
o PSB foi um partido aliado
ao PT, inclusive em alguns
estados isso ainda acontece,
como na Paraíba. O que mais
nos distanciou foi a forma
que as eleições aconteceram,
da forma como a presidente
Dilma enfrentou as eleições,
com ataques pessoais Não
chegou ao ponto de atacar o
Eduardo Campos porque ele
foi vítima do acidente, mas
atacou a nossa candidatura
Marina Silva e seu vice, Beto
Albuquerque, levantando
inúmeras mentiras e enganando
a população. O fruto
dessa enganação está aí,
mostrado pela péssima avaliação
da presidente. Tudo
que ela disse que faria, ela
não fez e piorou o que estava.
Nesse processo de diálogo com os
partidos, quem seria o vice ideal?
Estamos buscando o apoio
de vários partidos. Logicamente
que o vice ideal seria
um vice de um partido que
tenha expressão na cidade,
que tenha tempo de televisão
também. Nós estamos dialogando
com vários partidos. O
ideal seria que pudéssemos
fazer uma coalisão com o
maior número de partidos. Se
formos observar, pela quantidade
de vereadores, com
maior quantidade de votos,
o partido seria o PSDB, mas
essa aliança seria inviável
porque o prefeito Firmino
Filho quer ser candidato à
reeleição. Vamos buscar uma
coalisão com o maior número
de partidos coligados ao PSB
nacionalmente.
O Rodrigo, pré-candidato,
abriria mão de uma cabeça de
chapa, para ser vice do Firmino
Filho?
Não. Essa possibilidade
não existe. Sou vascaíno, o
pessoal quer me botar como
vice das coisas, mas não. Essa
possibilidade não existe. O
papel de vice é muito importante.
Ele está ao lado do
prefeito, para auxiliar e continuar
um trabalho, se for o
caso, mas esse papel de vice,
no momento, não cairia tão
bem pra mim. Eu acho que,
enquanto deputado federal,
tenho muito a contribuir com
a cidade, buscando recursos,
emendas, representar a
cidade em si, na Câmara
Federal. Hoje sou mais útil
para a população como deputado,
do que como vice.
Como seria construída uma
candidatura de oposição, qual
seria o discurso já que o senhor,
enquanto deputado apoia a administração
do prefeito e os três vereadores
também, além do vereador
Edvaldo Marques, já ter assumido
a liderança do prefeito na Casa?
Na verdade, não existem
só duas faces. Política não
é igual a moeda que existe
só a cara e a coroa. Existem
pontos de vista diferentes.
Por exemplo: o Wilson Martins,
enquanto governador
tinha posicionamentos distantes
até dos meus, em
relação a algumas ideias.
Somos do mesmo partido,
tenho laços familiares com
ele, mas não concordava com
tudo que ele dizia. O Firmino,
certamente, é uma pessoa
que, eu sendo pré-candidato,
será uma pessoa que não
vamos nos desentender, nos
destratar em uma eventual
campanha. Eu respeito a sua
posição, mas em algumas
posições, tomaria de forma
diferente, em relação a mobilidade
urbana, a construção
de creches berçários, gratuidade
da passagem para estudante.
São pontos de vistas
que tentaríamos diferenciar.
Não seria uma candidatura
de oposição para destruir,
seria para contribuir com o
crescimento da cidade.
O PSD busca a vaga de vice na
chapa do PSDB, mas tem encontrado
algumas resistências. O
próprio prefeito Firmino Filho
tem admitido diálogo com o
PMDB. O PSD pode ser um partido
que o Rodrigo vá buscar
para uma composição?
Em relação ao vice, eu acredito
que essa é uma questão
muito pessoal. Eu tenho, particularmente,
uma proximidade
grande com o Ronney
e com o Dr. Pessoa. Eu não
tenho a menor dificuldade
de compor, de dialogar com
esse partido. É um partido
onde eu considero forte, na
capital, inclusive preparado
para ter um candidato a prefeito
ou indicar um vice onde
quiserem.
Sua candidatura está consolidada
no PSB, ou enfrenta
resistências?
Alguns nomes do
seu partido defendem a manutenção
de alianças com o prefeito
Firmino Filho, como o
próprio vereador Thiago Vasconcelos...
O vereador Thiago Vasconcelos
já declarou que vai sair
do PSB. Quando a executiva
definiu pela candidatura própria,
o vereador admitiu que
não aceitou essa orientação
e já se distanciou do partido,
dando declarações públicas
de sua saída quando abrir
a janela partidária. O vereador
Caio Bucar também
disse que se afastaria, até
mesmo por suas ligações
políticas com outro grupo
partidário. Temos três vereadores
de direito e de fato
temos um, que é o vereador
Edvaldo marques que está,
sim, alinhado com a nossa
candidatura e com a orientação
partidária. Estamos
tentando fortalecer nossa
pré-candidatura e dentro da
executiva, eu exigi que só
seria candidato se fosse um
consenso dentro do partido.
Eu jamais sairia candidato
para enfrentar uma campanha
muito difícil, com dificuldade
dentro do meu próprio
partido.
Por: Mayara Martins - Jornal O DIA