Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Rodrigo Martins rechaça aliança com PT; "œnão temos diálogo", afirma

Em entrevista, o deputado federal comentou a sua experiência no primeiro mandato no legislativo Federal

24/01/2016 08:00

Apontado como pré-candidato à Prefeitura de Teresina, o deputado federal Rodrigo Martins (PSB), comentou a sua experiência no primeiro mandato no legislativo Federal. Segundo ele, é uma experiência diferente, sobretudo, devido ao ritmo de trabalho na Casa. Em entrevista ao ODIA, o socialista comentou temas polêmicos como o processo de impeachment da presidente Dilma, defendeu o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB) da Presidência da Câmara, e falou da “mini-reforma” eleitoral. Rodrigo também admitiu que pode, sim, disputar a Prefeitura de Teresina, mas evitou fazer confrontos diretos e ataques a gestão do prefeito Firmino Filho. “Acredito que, como qualquer outra gestão, tem seus acertos, mas também inúmeros problemas”, disse ele, rechaçando possibilidades de aceitar uma candidatura de vice e também alianças com o PT. “O único partido que não temos diálogo é o PT”, disparou ele, sem poupar críticas ao Governo Dilma e Wellington. Confira a entrevista:

Você está em seu primeiro mandato na Câmara Federal, como tem avaliado essa experiência?
Uma experiência um tanto quanto diferente. Eu tinha concorrido e sido eleito a vereador de Teresina, um legislativo menor, que iniciou com 21 vereadores e depois ampliou para 29, onde tínhamos muito contato com o outro parlamentar, sempre discutindo qualquer tipo de projeto de lei. Era bem restrito também ao ambiente da cidade de Teresina. Então, tem sido uma experiência, não apenas diferente, mas desafiadora, na verdade, onde estamos no meio de 513 deputados. É humanamente impossível discutir com profundidade todos os problemas, pela infinidade de projetos de leis, mas é uma experiência que tenho aprendido muito, até porque força o parlamentar a se dedicar bem àquele tema que ele está relatando, que está abordando na tribuna. Eu lamento por ser um período muito conturbado. É o meu primeiro ano, então é um ano de aprendizagem, aprender regimento, até mesmo a localização das coisas, que a Câmara é imensa, bem maior do que a daqui, mas também por essas questões que são momentâneas, como essas denúncias que aconteceram desde o início do mandato, envolvendo deputados, senadores. Existe um desgaste muito intenso e também uma briga muito forte da oposição com o Governo por conta de resquícios eleitorais. Essa briga tem prejudicado muito o andamento da Casa. Nós observamos que o próprio presidente tem sido alvo de investigações e isso tem prejudicado o andar das coisas na Casa. Mas está sendo uma experiência valiosa.
O Legislativo Federal tem discutido temas polêmicos, como a própria Reforma Eleitoral, cujas regras já valem para as eleições deste ano. Como o senhor avalia essas mudanças aprovadas?
Não aconteceu da forma que todos pensavam. Foi uma minirreforma, que deixou muito a desejar. Se discutiu muito e, ao mesmo tempo, foi uma votação que teve vários atropelamentos, como a própria exclusão do relator, que era o deputado Marcelo Castro e isso atrapalhou as discussões e desviou o foco da reforma política. Nós conseguimos fazer algumas alterações, como a diminuição do tempo de campanha, diminuição da campanha no rádio e Tv, algumas questões que venham baratear a campanha eleitoral, mas acredito que ficou aquém do esperado. Temas importantes como a coincidência de mandatos, por exemplo, não evoluiu. Eu, particularmente, sou defensor da coincidência de mandato. O país para, com eleições de dois em dois anos. Mas tivemos pontos positivos. Só o fim da reeleição, por exemplo, já é um grande avanço para esse momento que estamos vivenciando.
Outro tema importante foi abertura de processo de impeachment contra Dilma. Agora, as atividades serão retomadas, como será sua posição, diante desse processo?
O PSB ainda não se posicionou de uma maneira clara. Estamos discutindo dentro da bancada. Porém, eu tenho uma posição bem clara e já externada favorável ao impeachment. Eu acredito que o crime de responsabilidade fiscal ocorreu. Foi constatado, confirmado pelo TCU, que é um órgão técnico que serve para auxiliar a Casa legislativa. Não tenho menor dúvida que o crime aconteceu. Apesar de ser presidente, de ter sido eleita com voto popular, ela não é maior que ninguém. Ela tem o dever de obedecer as leis. Como ela não obedeceu as leis, ela deve ser sim, julgada e, pra mim, não tenho nenhuma duvida que votarei a favor do impeachment. Uma vez eu fui até questionado: “Ah, você é a favor do impeachment, mas e quem vier depois dela, vai resolver o problema do Brasil?”. Eu acredito que não, que não teremos nenhum salvador, mas existe, pelo menos, o dever de cumprir a lei e o crime de responsabilidade fiscal deve sim ser analisado e afastado qualquer presidente que descumpriu a lei. Se fosse com qualquer prefeito do interior, eu não tenho nenhuma dúvida que ele já estaria afastado.
O sobre Eduardo Cunha? Ele também tem sido alvo de questionamentos. Ele tem condições de permanecer na presidência da Câmara?
Não! Ele não tem. Eu também defendo que ele saia. O partido já decidiu isso de forma unânime. Não votamos no Eduardo. Tivemos um candidato a presidente que foi o deputado Júlio Delgado, mas o Eduardo teve alguns pontos positivos, no sentido de dar uma independência ao Legislativo, ao colocar em pauta não o que a Dilma queria, mas sim uma pauta as vezes até polêmica, como a terceirização, reforma política, maioridade penal. Foi uma pessoa que deu uma autonomia muito grande à Casa. Inúmeras denúnciasforam feitas em relação a ele. Esteve na CPI da Petrobras, alegando que não tinha nenhuma conta no exterior e já sabemos que não é verdade. A partir do momento em que ele vem em público, em uma comissão, sem ser convidado e omitiu a verdade, ele passa a ser questionado.
O seu partido defende uma candidatura própria, inclusive seu nome foi colocado como pré-candidato a prefeito. Como avalia a administração do prefeito Firmino Filho?
Eu sou um amigo e admirador do prefeito Firmino Filho. Contribui com ele, enquanto vereador, enquanto presidente da Câmara e também, agora, enquanto deputado, tenho buscado contribuir com a cidade. Meu posicionamento em relação à gestão não irá mudar por conta de uma pré-candidatura. Acredito que, como qualquer outra gestão, tem seus acertos, mas também inúmeros problemas. O prefeito Firmino Filho está em seu terceiro mandato, foi prefeito em uma situação em que o Brasil vivia economicamente melhor do que a atual. Tenho absoluta certeza que ele também está sentindo essa crise financeira, com a escassez de recursos econômicos da cidade e, com muita dificuldade, tentando fazer uma administração adequada para a cidade. Lógico que, se eu fosse o prefeito, algumas decisões seriam tomadas diferentes. Mas, até o momento, não temos conhecimento de nenhum escândalo dentro da gestão, muito pelo contrário. É uma equipe respeitada, que tem um certo tempo de administração e que tem demonstrado um preparo e conhecimento sobre a cidade.
Seu nome foi colocado como pré-candidato a Prefeitura de Teresina pelo seu partido. Aceitará o desafio?
Nós estamos conversando dentro do partido. É uma vontade do PSB nacional que se tenha candidatos próprios nas capitais. Eu confesso que não foi algo que eu aceitei de primeiro momento. Foi algo que foi trabalhado, discutido e pedi um prazo até o final de janeiro para dar uma posição oficial ao partido. Solicitei que a executiva municipal de Teresina conversasse com outros detentores de mandato, sobre a disponibilidade deles em serem candidatos. Até o momento, nenhum deputado ou nenhum filiado, se manifestou nesse sentido. Se for uma vontade unânime do partido e, dentro de uma perspectiva de trabalhar ideias novas, diferentes para problemas que acontecem há muito tempo na cidade, colocarei meu nome a disposição, mas não é algo que está 100% consolidado, é algo que estamos evoluindo na discussão. Hoje, se você me perguntasse, de 0 a 100, qual seria a chance, eu diria que 90% de chance, mas que precisa ainda discutir alguns pontos dentro do partido para buscar apoios de outros partidos para uma composição.
Esse diálogo com outros partidos já foi iniciado?
Estamos conversando. Estamos de portas abertas. Eu sempre digo: o único partido que não temos diálogo é com o PT. Nós assumimos esse lado antagônico aqui em Teresina. Tenho muitos amigos no PT, mas...
O que fez com que houvesse essa restrição, já que PT e PSB já estiveram juntos, inclusive seu tio, o ex-governador Wilson Martins, foi vice do governador Wellington?
Isso. O ponto principal da discussão se deu ainda um ano antes da eleição, quando o próprio Eduardo Campos teve uma conversa com a presidente Dilma, alertando ela sobre os caminhos possíveis que poderia acontecer com o Brasil. Naquela época, ele já vislumbrava essa crise que está acontecendo. Desde então, o Eduardo Campos se reuniu com o partido e disse que preferia entregar os cargos, se distanciar um pouco do PT para ter a liberdade de discussão dos problemas do país. Há muito tempo, não só aqui no Piauí, o PSB foi um partido aliado ao PT, inclusive em alguns estados isso ainda acontece, como na Paraíba. O que mais nos distanciou foi a forma que as eleições aconteceram, da forma como a presidente Dilma enfrentou as eleições, com ataques pessoais Não chegou ao ponto de atacar o Eduardo Campos porque ele foi vítima do acidente, mas atacou a nossa candidatura Marina Silva e seu vice, Beto Albuquerque, levantando inúmeras mentiras e enganando a população. O fruto dessa enganação está aí, mostrado pela péssima avaliação da presidente. Tudo que ela disse que faria, ela não fez e piorou o que estava.
Nesse processo de diálogo com os partidos, quem seria o vice ideal?
Estamos buscando o apoio de vários partidos. Logicamente que o vice ideal seria um vice de um partido que tenha expressão na cidade, que tenha tempo de televisão também. Nós estamos dialogando com vários partidos. O ideal seria que pudéssemos fazer uma coalisão com o maior número de partidos. Se formos observar, pela quantidade de vereadores, com maior quantidade de votos, o partido seria o PSDB, mas essa aliança seria inviável porque o prefeito Firmino Filho quer ser candidato à reeleição. Vamos buscar uma coalisão com o maior número de partidos coligados ao PSB nacionalmente.
O Rodrigo, pré-candidato, abriria mão de uma cabeça de chapa, para ser vice do Firmino Filho?
Não. Essa possibilidade não existe. Sou vascaíno, o pessoal quer me botar como vice das coisas, mas não. Essa possibilidade não existe. O papel de vice é muito importante. Ele está ao lado do prefeito, para auxiliar e continuar um trabalho, se for o caso, mas esse papel de vice, no momento, não cairia tão bem pra mim. Eu acho que, enquanto deputado federal, tenho muito a contribuir com a cidade, buscando recursos, emendas, representar a cidade em si, na Câmara Federal. Hoje sou mais útil para a população como deputado, do que como vice.
Como seria construída uma candidatura de oposição, qual seria o discurso já que o senhor, enquanto deputado apoia a administração do prefeito e os três vereadores também, além do vereador Edvaldo Marques, já ter assumido a liderança do prefeito na Casa?
Na verdade, não existem só duas faces. Política não é igual a moeda que existe só a cara e a coroa. Existem pontos de vista diferentes. Por exemplo: o Wilson Martins, enquanto governador tinha posicionamentos distantes até dos meus, em relação a algumas ideias. Somos do mesmo partido, tenho laços familiares com ele, mas não concordava com tudo que ele dizia. O Firmino, certamente, é uma pessoa que, eu sendo pré-candidato, será uma pessoa que não vamos nos desentender, nos destratar em uma eventual campanha. Eu respeito a sua posição, mas em algumas posições, tomaria de forma diferente, em relação a mobilidade urbana, a construção de creches berçários, gratuidade da passagem para estudante. São pontos de vistas que tentaríamos diferenciar. Não seria uma candidatura de oposição para destruir, seria para contribuir com o crescimento da cidade.
O PSD busca a vaga de vice na chapa do PSDB, mas tem encontrado algumas resistências. O próprio prefeito Firmino Filho tem admitido diálogo com o PMDB. O PSD pode ser um partido que o Rodrigo vá buscar para uma composição?
Em relação ao vice, eu acredito que essa é uma questão muito pessoal. Eu tenho, particularmente, uma proximidade grande com o Ronney e com o Dr. Pessoa. Eu não tenho a menor dificuldade de compor, de dialogar com esse partido. É um partido onde eu considero forte, na capital, inclusive preparado para ter um candidato a prefeito ou indicar um vice onde quiserem.
Sua candidatura está consolidada no PSB, ou enfrenta resistências?
Alguns nomes do seu partido defendem a manutenção de alianças com o prefeito Firmino Filho, como o próprio vereador Thiago Vasconcelos... O vereador Thiago Vasconcelos já declarou que vai sair do PSB. Quando a executiva definiu pela candidatura própria, o vereador admitiu que não aceitou essa orientação e já se distanciou do partido, dando declarações públicas de sua saída quando abrir a janela partidária. O vereador Caio Bucar também disse que se afastaria, até mesmo por suas ligações políticas com outro grupo partidário. Temos três vereadores de direito e de fato temos um, que é o vereador Edvaldo marques que está, sim, alinhado com a nossa candidatura e com a orientação partidária. Estamos tentando fortalecer nossa pré-candidatura e dentro da executiva, eu exigi que só seria candidato se fosse um consenso dentro do partido. Eu jamais sairia candidato para enfrentar uma campanha muito difícil, com dificuldade dentro do meu próprio partido.
Por: Mayara Martins - Jornal O DIA
Mais sobre: