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Regina Sousa compara impeachment de Dilma ao AI nº 5 do Governo Militar

Segundo a senadora, o impeachment foi fundamentado numa "acusação frágil para usurpar um mandato legítimo".

30/08/2016 19:39

Um dia antes da votação derradeira no Senado Federal que vai decidir se a presidente Dilma Rousseff (PT) será afastada definitivamente ou retomará o comando do Poder Executivo, a piauiense Regina Sousa (PT) fez um discurso em que comparou o atual processo de impeachment ao Ato Institucional nº 5 (AI5), emitido pelo regime militar, que marcou o período de maior retrocesso democrático no país durante a ditadura, com a suspensão de várias garantias constitucionais e uma maior severidade dos militares no trato com seus opositores.

A senadora Regina Sousa iniciou discurso por volta das 19h30 desta terça-feira, dia que precede a votação final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (Foto: Ana Volpe/Agência Senado)

"O Brasil e o mundo assistem hoje o último capítulo de uma trama bem armada, uma conspiração bem articulada por uma maioria política que se formou pós eleição de 2014. Essa maioria tinha um objetivo: impedir que a presidenta Dilma governasse, aproveitando-se do fato de ela ter sido eleita com uma base parlamentar fragilizada pela divisão de alguns partidos do bloco", afirmou a senadora Regina Sousa, que foi a primeira a falar após uma pausa na sessão ocorrida no início da noite. 

Segundo a senadora, o impeachment foi fundamentado numa "acusação frágil para usurpar um mandato legítimo", e enumerou os atores que, segundo ela, foram responsáveis pela conspiração contra Dilma: o Tribunal de Contas da União, o PSDB, um grupo de parlamentares da Câmara, inclusive o ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha, a Polícia Federal, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, setores do Ministério Público e da Justiça Federal, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e a Rede Globo.

Em seu discurso, Regina também enumerou alguns dos principais programas sociais criados pelo Governo Federal nas gestões de Luís Inácio da Silva e Dilma Rousseff, como o Luz para Todos, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o Prouni, o Pronatec, o Mais Médicos, o Samu, o Ciência sem Fronteiras, o Bolsa Atleta e a Farmácia Popular.

"Na verdade, a disputa aqui é entre o Bolsa Família e a Bolsa de Valores. É a disputa entre projetos de um país para todos ou um país apenas para os ricos", afirmou Regina.

A senadora também rebateu os argumentos de que Dilma está sendo alvo de um impeachment por conta do "conjunto da obra", e de que nunca o país teria vivido uma crise econômica tão grave quanto a atual.

Regina Sousa lembrou que os próprios integrantes do Governo interino, inclusive o presidente em exercício Michel Temer, têm sido alvos de delações gravíssimas na força-tarefa da Operação Lava Jato, que os apontam como responsáveis por desvios milionários de recursos públicos.

Regina também elencou momentos difíceis vividos pelo país antes de o PT chegar ao poder, em 2003. Ela citou o "apagão elétrico" em 2001, as taxas de inflação e de juros elevadas, bem como o alto índice de desemprego no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e lembro que as reservas internacionais do país aumentaram dez vezes durante os 13 anos de governo do PT.

A senadora petista também elogiou o desempenho da presidente afastada Dilma Rousseff na sessão realizada segunda-feira (29), quando ela fez seu discurso de defesa e respondeu a questionamentos feitos pelos senadores. "Dilma veio, olhou nos olhos de seus julgadores, e falou com a firmeza dos inocentes. Quem esperava uma Dilma cabisbaixa, triste, abatida, pedindo clemência, viu uma Dilma altiva, firme, segura e esperançosa. Ela não veio pedir clemência, isso pede quem é culpado. Ela veio pedir justiça. Alguns dizem que ela foi repetitiva, mas como não ser, se as perguntas eram as mesmas?", pontuou.

Por fim, Regina Sousa fez um último apelo aos colegas, pedindo que eles reflitam no momento da votação e sejam justos com Dilma. "Senhoras senadoras, senhores senadores, alguém já disse que não é fácil pensar, é mais fácil julgar. Pensar exige olhar para si, antes de olhar para o outro. Olhando para dentro de nós é possível descobrir coisas que não queremos ver, nossos erros às vezes transformados em crimes, de tão graves que são. Eu peço a cada um e a cada uma que olhe para si antes de proferir seu voto. Dispam-se de seus ressentimentos e façam Justiça, ou então que atire a primeira pedra quem não carrega nos ombros nenhuma culpa. Se o resultado for o afastamento da presidenta, este dia vai marcar a história como o dia em que a democracia no Brasil foi golpeada mais uma vez", afirmou Regina.

Por: Cícero Portela
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