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Reforma nas leis do trabalhador gera polêmica antes de chegar ao Congresso

Os empresários concordam, mas centrais sindicais e juristas resistem às mudanças sem discussões

06/06/2016 07:42

Apontada como uma das soluções para a geração de emprego e consequentemente a retomada do crescimento econômico do Brasil, a reforma trabalhista já gera polêmica entre especialistas antes de chegar ao Congresso Nacional. O Governo alega que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), lei geral dos trabalhadores, precisa ser flexibilizada pois prejudica a produção das empresas e dificulta a geração de empregos. Os empresários concordam, mas centrais sindicais e juristas do trabalho resistem às mudanças, alegando que o Governo quer apresentar a reforma sem discutir com os trabalhadores, de forma em que estes serão penalizados. 

Edno Mouro lembra que a CLT não foi criada por acaso, mas para tentar equilibrar as forças na relações entre patrões e empregados (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Criada em 1º de maio de 1943 pelo então presidente da República Getúlio Vargas, a CLT levou ao trabalhador brasileiro diversos direitos que ainda hoje fazem parte do seu dia-a-dia: jornada de trabalho regulamentada, salário-mínimo, férias, segurança e medicina do trabalho, previdência social, entre outros. 
No entanto, especialistas em economia, empresários e até mesmo entidades de trabalhadores são a favor de uma mudança na CLT, já que ela foi criada no tempo em que as maiores riquezas do Brasil e do mundo vinham da produção industrial. Hoje, o setor que mais gera produção é o de tecnologia de serviços, com uma maneira de trabalho bem diferente da dos trabalhadores de indústrias. 
O Governo ainda não enviou ao Congresso Nacional a proposta completa do texto da reforma, mas um dos pontos considerados mais importantes do projeto – o acordo coletivo entre patrões e empregados teria força maior do que a legislação – tem encontrado bastante resistência entre especialistas, que alegam que o trabalhador será mais explorado (no mau sentido) pelos patrões. 
O DIA ouviu alguns deputados federais do Piauí (que decidirão se aprovam ou não as mudanças), além de representantes da indústria, do direito do trabalho, do Ministério Público e dos sindicatos para comentar as consequências da mudança apresentada pelo Governo Temer.

Para procurador, a flexibilização da CLT é um grande retrocesso

O procurador do Trabalho no Piauí, Edno Mouro, aguarda a divulgação completa da proposta de reforma trabalhista para que a mesma possa ser analisada de forma profunda. Porém, o que tem sido considerado o carro-chefe da reforma, a flexibilização da CLT, é considerado por ele por um grande retrocesso para os trabalhadores. 
“Quando você faz com que o negociado entre as partes se sobreponha ao legislado, os patrões vão conseguir o que querem em detrimento de prejuízos aos trabalhadores. As empresas poderão propor ‘aumentozinhos’ em troca de ambientes de trabalho mais insalubres e inadequados, jornadas flexibilizadas para que os empregados trabalhem mais e outras questões que hoje são vedadas pela legislação atual”, avalia o procurador. 
Edno Mouro lembra que a CLT não foi criada por acaso, mas justamente para tentar equilibrar as forças durante a relação entre patrão e empregado, pois este último sempre está em desvantagem. “A vantagem econômica do patrão, de negar o emprego, de demitir a qualquer momento é muito grande em relação ao empregado. Se não tiver um norma que o proteja dessas coisas, o empresário vai usar isso para aumentar seus lucros, pois infelizmente a mentalidade [do patrão] é essa”, critica. 
O procurador acrescenta ainda que mesmo com a CLT, que muitos consideram rigoroso, as empresas ainda descumprem a lei, deixando de assinar a carteira de trabalho, de pagar horas extras e atrasam salários, então sem essa proteção os trabalhadores serão praticamente escravizados.

Fiepi: "Mesma lei para negócios diferentes é prejudicial"

Considerada muito rigorosa e inflexível, a CLT é um dificultador para o desenvolvimento das empresas, que têm apresentado cada vez uma maior variedade de negócios e serviços, mas são submetidas às mesmas regras. Esse é o pensamento de um dos vice-presidentes da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi), Francisco Sousa Neto. “As pequenas empresas possuem as mesmas obrigações que as grandes, e isso emperra seu crescimento, pois elas (pequenas) não têm como dar as regalias que as grandes dão aos trabalhadores”, explica o empresário. 
Sousa Neto esclarece que a CLT está tão defasada que várias profissões surgiram desde a sua criação, mas não estão regulamentas por lei, apenas por normas. “Naquele tempo, a situação de trabalho era outra. Hoje, estamos na era da tecnologia”, ressalta. 
O empresário critica também a forma com os conflitos entre patrões e empregados demoram a ser resolvidos. “Um dissídio coletivo dura em média de seis meses a um ano para ser resolvido, o que é muito ruim para a produção”, lamenta. Sobre o acordo coletivo entre patrões e empregados, Sousa Neto acredita que é possível negociar sem que haja prejuízo para ambas as partes.

A reportagem especial completa você encontra no Jornal O Dia desta segunda-feira (6) nas melhores bancas e na versão online.

Por: Robert Pedrosa - Jornal O DIA
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