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Prestes a votar pela primeira vez, jovens confessam descrença com política

Sem obrigatoriedade, alguns deles ainda preferem não tirar o título de eleitor

25/09/2016 11:13

O voto é obrigatório para os cidadãos brasileiros alfabetizados maiores de 18 e facultativo para quem tem 16 e 17 anos, bem como para os maiores de 70 anos e para as pessoas analfabetas. No próximo domingo, dia 2, muitos jovens irão às urnas pela primeira vez. Mas para muitos deles, o cenário político por qual passa o país é fonte de descrença. “Não vai mudar nada”, considera Augusto Júnior.

Este ano, das 144 milhões de pessoas que fazem parte do eleitorado, 2,3 milhões de eleitores de 16 e 17 anos estão habilitados a participar e exercer a sua cidadania. Deste montante, 1.314.158 milhões estão nas regiões Norte e Nordeste do país de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Apenas no Piauí, 74.460 eleitores têm 16 ou 17 anos e 48.957 têm mais de 70 anos. Os dados divulgados pelo TSE também revelam o grau de instrução dos eleitores e mostram que a maioria (28,91%) do eleitorado piauiense é formada por analfabetos ou pessoas que apenas leem e escreve. 

Estudante do segundo ano do ensino médio, Augusto, 17 anos, votará pela primeira vez. Ele se diz desacreditado nas mudanças propostas por candidatos. “Parece que sempre é a mesma coisa. Eles usam todo um discurso e quando vencem as eleições esquecem as propostas e promessas que fizeram. Como a gente vai acreditar dessa forma que o voto muda alguma coisa?”, questiona.

O ceticismo relato por Augusto é coro nos discursos de outros jovens. “O problema é que não sou só eu, sabe, a maioria dos meus amigos, conhecidos, sabe disso. Vamos participar da eleição, mas muito pouco acreditados no que vemos”, finaliza.

Sem obrigatoriedade, jovens preferem não tirar título

A obrigatoriedade de votação foi instituída ainda na Constituição de 1932, que definiu a exigência da votação para maiores de 18 anos. Fora da faixa etária, mas já aptos a exercer o poder de escolha, os jovens de 16 e 17 anos se mostram pouco interessados em confirmar participação nas eleições municipais. 

É o caso de Guilherme Ribeiro, 17 anos, que cursa o terceiro ano do ensino médio. Segundo o jovem, quando mais tempo longe das escolhas políticas, melhor. “No meu ver quanto mais adiar, melhor. A gente vê tanta coisa ruim, tanta coisa suja, tanto golpe baixo, que parece que não adianta. Quero tipo botar venda nos olhos. Por isso, resolvi não tirar o título”, confessa.

Já Camile Alves, 17 anos, escolheu não participar das eleições municipais porque diz não entender o atual contexto político. Neste caso, para não participar de forma leviana das eleições, não quis tirar o título.

“Já que não é obrigatório e não entendo muito do assunto, decidi não votar para não votar atoa. Só que acho que a política precisa de mudança. Recomeçar tudo de novo, porque esses candidatos que temos não servem. A mudança tem que começar pelas pessoas”, relata a jovem.

“Ter posicionamento político é uma forma de exercer o direito de cidadão plenamente”, avalia estudante

Mas nem todos os jovens se colocam de modo indiferente ao pleito. Para uma parcela do recém eleitorado, a política, por mais desacreditada que esteja, é fonte indissociável de uma caminho de mudanças sociais para cada cidade, estado e país.

O estudante do 4º ano do ensino médio técnico, Daniel Mesquita, 18 anos, é pontual ao defender a ampla participação dos jovens na política. A avaliação do jovem, no entanto, também passa pela descrença que é carregada a situação política do país que, para ele, em um cenário global afeta todas as esferas do poder, seja ele estadual ou municipal.

Daniel votará pela primeira vez nesta eleição. “É fato que as expectativas não são muito altas quanto ao quadro do atual cenário político, o que eu vejo é que os próprios representantes não levam nossa política a sério e isso não dá ânimo para votar. Mas eu sei que ter meu posicionamento político definido é uma forma de exercer o direito de cidadão plenamente”, avalia.

O jovem se esquiva de definição partidária, para ele, não cabem definições de esquerda ou direita, pouco representativas para sua visão de mundo. “A verdade é que se você não tem boa representação no seu governo, você não tem boa administração, e se você não tem boa administração, você não tem qualidade de vida, nossa sociedade é reflexo da nossa política”, considera.

"Não acho que nos representam nem os partidos de direita, que são conservadores e o país precisa de igualdade e avanços, nem os de esquerda, que não conseguem fazer o discurso funcionar com a prática”, finaliza.

Grêmio escolar incentiva organização política e crítica de estudantes

Longe de estarem contentes apenas na posição de expectadores do cenário político, Pedro Henrique e Ellica Borges, 20 e 19 anos, respectivamente, fazem parte de uma geração que também se organiza de forma política para intervir na sociedade. Na gestão do grêmio escolar Nilo Peçanha do Instituto Federal do Piauí (IFPI), os jovens falam sobre a necessidade de organização e cobrança de ações dos representantes públicos.

“A gente vê que é certo lutar por uma sociedade mais justa para todo mundo. Nós que somos jovens, que temos essa garra, porque pra mim é uma coisa muito mais natural do jovem ser revolucionário, é extremamente importante de organizar um grêmio ativo, de se articular enquanto estudante e intervir na sociedade”, defende Ellica.

Pedro Henrique pensa em consonância. Na presidência do Grêmio, o jovem em conjunto com os demais estudantes pautam debates que perpassam por análises da conjuntura política nacional a regional. “O Grêmio Nilo Peçanha é uma construção coletiva. Eu já tenho experiência com a militância porque integro a União da Juventude e Rebelião (UJR). E é por meio desses espaços que podemos denunciar e ir de contra a ideia de tratar a educação como mercadoria, a crise política e social que agora paira sobre o país com o desgoverno do Temer”, exemplifica.

Para os jovens, a organização política é uma necessidade que perpassa pela participação nas eleições, mas está para muito além dela. É com debates a respeito da qualidade do ensino, mercado de trabalho, desigualdade social e tantos outros, que os jovens criam uma postura crítica e podem cobrar dos representantes posturas que ajam de acordo com o que acreditam.

“Temos a Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas de Teresina, que também nos representa, e através dessas plataformas colocamos os debates nos colégios para todas essas questões relacionadas as mulheres, transporte, desigualdade. Uma forma de ajudar cada um de nós a ter consciência”, destaca Pedro.

Nas eleições municipais, os jovens acreditam que a informação e consciência são duas importantes aliadas para a melhor participação no pleito. “A gente acredita que os direitos não são só pra si, mas é para todo mundo. Por isso acha importante ir nas salas, mobilizar, para lembrar aos estudantes sobre lutar pelos seus direitos e, no caso da eleição, conhecer em quem está votando, a história do partido, do candidato, ver se as propostas dele são favoráveis aos direitos do estudante e do trabalhador”, finaliza.

Parlamento Jovem possibilita que estudante piauiense tenha experiência na Câmara dos Deputados 

O estudante João Marcos embarca para Brasília neste domingo (25). Por lá, o jovem terá a experiência de uma jornada parlamentar na Câmara dos Deputados, em que tomará posse e atuará como um deputado jovem através do programa Parlamento Jovem Brasileiro, que é realizado anualmente e tem por objetivo possibilitar aos alunos de ensino médio de escolas públicas e particulares tenham a vivência do processo democrático.

João, estudante do Centro de Ensino Médio de Tempo Integral (Cemti) João Henrique de Almeida Sousa, é um dos dois estudantes piauienses que representarão o Piauí na edição 2016, com projeto aprovado através da lei que aborda a implantação de projetos de responsabilidade socioambiental dentro das escolas.

“Aqui no colégio tenho um projeto que realiza ações sociais com instituições de caridade e pensei que isso também poderia ser implementado em todas as escolas públicas. Nosso principal objetivo é conscientizar as pessoas a respeito de temas diversos como maus tratos a animais, responsabilidade socioambiental e a própria conscientização política para os alunos. A ideia é mostrar que são ações simples que podem ser aplicadas e mudar uma realidade”, esclarece. 

A ideia do jovem concorrerá com 309 projetos de estudantes de escolas de todo o Brasil. Aos 17 anos, a convicção do jovem é de que é possível transformar realidades para melhor e que isso, indiscutivelmente, passa pela esfera política.

“É ótimo pensar que eu posso defender um projeto que eu acredito, que eu quero que seja votado, sancionado. É uma ideia que eu pensei de uma forma em as pessoas possam participar da conjuntura política, social, do meio ambiente da sua comunidade. Acho que o brasileiro é um tanto acomodado com os problemas da sociedade, ele pensa que não vai mudar nada, mas a escola pode ter esse foco, mostrar que as pessoas não estão sozinhas, elas podem mudar”, pontua.

O estudante cobra intervenções individuais e coletivas. “As pessoas pensam que nada vai mudar, mas eu acho que se a gente não começar a tirar esse peso das costas e começar a fazer alguma coisa, realmente nunca vai mudar. Todo brasileiro tem que começar a se conscientizar, Nós fazemos parte de uma geração para mudar o mundo”, declara.

No programa, os estudantes terão um mandato de parlamentar juvenil por um ano. Segundo a coordenadora estadual do programa, Regina Monteiro, eles serão empossados na próxima terça-feira (27), receberão diplomação e defenderão seus projetos.

Por: Glenda Uchôa - O DIA
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