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'O que defendemos é uma nova política', defende Everton Diego (PSOL)

Em entrevista a ODIA, candidato à Prefeitura de Teresina, fala sobre suas propostas e quais são as diretrizes do seu partido caso seja eleito. "Não levamos promessas, benefícios individuais para qualquer pessoa", afirma.

04/09/2016 08:59

Disputando a primeira vez um cargo eletivo, o professor Everton Diego (PSOL) diz que seu nome foi uma decisão partidária por entender que seu nome estava apto para defender as bandeiras do partido. Segundo ele, a decisão pessoal de sair candidato foi após “crescer o sentimento de indignação com os problemas da cidade”. Em entrevista exclusiva ao ODIA, o candidato à Prefeitura de Teresina comenta as dificuldades encontradas na campanha, como o reduzido tempo de propaganda eleitoral e também fala dos principais problemas e suas bandeiras de campanha. 

Everton defende uma gestão participativa em que a população teria voz por meio de conselhos populares não apenas consultivo, mas deliberativo. “O papel do gestor nesse modelo de gestão é de executar o que foi debatido”, afirma. 
Confira a entrevista:


Porque decidiu ser candidato?

Essa decisão foi do PSOL. A gente fez um debate e tinha alguns nomes apresentados como pré-candidatos, entre eles o meu nome, então eu tive a felicidade e a honra de ser o escolhido porque eles entenderam que o meu nome estava apto a defender as propostas e as bandeiras que o PSOL defende Brasil afora e que tem projetos para Teresina também. A minha escolha pessoa, foi a de entrar na vida política, para um partido político, que vem motivada pela minha experiência de vida na cidade como morador da periferia, da zona Sul, de precisar pegar ônibus. Cresceu esse sentimento de indignação com os problemas da cidade e isso me motivou a procurar, de alguma maneira, a ser agente transformador dessa cidade.

Qual a principal dificuldade que a candidatura do PSOL enfrenta?

Não é novidade para ninguém que a legislação eleitoral, a maneira que se configura as eleições é bastante injusta quando privilegia candidatos com mais tempo de Tv, por exemplo, dando cinco minutos para um candidato e 14 segundos para outros, como é o nosso caso. Então, temos essa dificuldade da legislação com os partidos pequenos, tem a dificuldade do poder econômico que ainda tem uma influência muito grande, apesar da sociedade brasileira brigar, mas isso ainda não acontecer. As campanhas milionárias acabam sendo favorecidas pelo excesso de recursos que elas dispõem. Para nós isso talvez seja a maior dificuldade. Mas a gente não enxerga a coisa eleitoralmente da maneira que os partidos tradicionais enxergam. Como a gente não faz coligação com partidos tradicionais, porque achamos que isso seria romper com nossos ideais, com nossas bandeiras, temos uma estratégia eleitoral diferente da prática adotada pela política tradicional. O que defendemos é uma nova política, baseada no debate de ideias. Não levamos promessas, benefícios individuais para qualquer pessoa. O que defendemos são ideias de como podemos transformar a cidade e a nossa vida no dia-a-dia. A centralidade da nossa campanha é isso: fazer uma campanha e uma política de ideias. Se a gente tiver sucesso nisso, já teremos uma campanha exitosa, mesmo que o resultado das eleições não seja o esperado. 

Partidos como o PSTU e PCO se intitulam partidos de esquerda. Nesse sentido, qual seria a principal diferença entre as candidaturas do PSTU, PCO e PSOL? 

É preciso destacar que temos um profundo respeito por nossos colegas de esquerda, estivemos em outras eleições aqui em Teresina coligados com alguns deles, como o PCB, o PSTU. No entanto, hoje o PSOL é o maior partido de esquerda do país, o único com representação no Congresso e consegue chegar ao poder legislativo sem abrir mão de seus princípios. Continua sendo um partido idôneo, sem acusações de corrupção. Temos esse know how. A diferença que podemos apontar em relação aos outros partidos é que o PSOL acredita na viabilidade de um projeto político administrativo, seja para o município, para o Estado ou para o país. Enquanto os demais partidos de esquerda não veem com bons olhos essa disputa institucional. Eles acham que os espaços institucionais das eleições são apenas para debater bandeiras. E nós acreditamos que, pela via institucional, se consegue transformações positivas na sociedade. No PSOL acreditamos que as lutas são necessárias, porém acreditamos que, pela via institucional, podemos fortalecer essas lutas e obter transformações efetivas. 

Você chegou a falar que uma de suas plataformas de campanha seria uma gestão participativa. Como seria isso? 

É essencial para nós que qualquer gestão do PSOL tenha uma gestão participativa. Então, assumindo a Prefeitura de Teresina, seremos um modelo para o país de uma gestão inovadora. É necessário criar instrumentos para que a população possa participar. Criar conselhos populares temáticos. Até existem conselhos em Teresina, mas eles têm apenas poder consultivo, não é deliberativo, e esses conselhos são formados normalmente por pessoas ligadas diretamente a administração. Vamos democratizar esses conselhos e a população tenha poder deliberativo aos conselhos, organizar congressos anuais no município, onde serão debatidos o planejamento do município, o orçamento, temas essenciais como saúde, educação, desenvolvimento urbano, segurança e onde a população possa apresentar os problemas mais urgentes para que a gente encontre as soluções. O papel do gestor nesse modelo de gestão é de executar o que foi debatido. Para nós, uma gestão participativa é aquela que primeiro ouve aquilo que é necessidade e prioridade e executa e depois volta para a população avaliar se foi executado da maneira correta, se ficou algo para fazer. Um modelo como esse faz até que a população compreenda até o porquê quando um problema não puder ser solucionado, porque sabemos que, em quatro anos, não dá para resolver todos os problemas da cidade, mas se a população participar, ela saberá o porquê não pode ser feito. Isso para nós pode criar um modelo de Estado. Não podemos consultar os interesses da população apenas de quatro em quatro anos, quando for o período das eleições. 

Quais as principais problemas que você avalia que a cidade possui? 

Na minha e na de todo mundo que conversa conosco nas ruas são essencialmente três: saúde, que é um dos raros problemas que, inclusive até o atual prefeito admite que temos. A saúde é desumanizada, incapaz de atender as demandas da cidade, principalmente de urgência e emergência, cirurgias mais complexas. Depois temos o problema do transporte e mobilidade urbana. A população não se sente privilegiada pelas ações que foram tomadas pela Prefeitura. A solução apontada pela Prefeitura na integração e construção dos terminais, pelo que avaliamos, não é feita para atender as necessidades de locomoção dos usuários, mas sim para atender as necessidades dos empresários. A população percebe isso, denuncia que as linhas de ônibus e a quantidade de ônibus circulando na cidade estão menores e que isso não vai trazer melhorias. O terceiro problema, percebemos muito bem, porque trabalhamos nessa área, muito embora a Prefeitura tente maquiar esse resultado, é o problema da educação. Teresina tem uma educação de mentira, que se baseia apenas no IDEB, que é uma avaliação que só leva em consideração a aprendizagem das crianças em português e matemática. A gente entende que uma escola precisa proporcionar o desenvolvimento da criança não apenas em duas disciplinas, mas em todas as disciplinas do conhecimento humano e mais o desenvolvimento cientifico, artístico, cultural, da prática esportiva. A escola precisa ser o espaço onde a criança possa ter a plenitude de suas habilidades desenvolvidas. Uma coisa que Teresina conhece bem porque tem um dos melhores ensinos privados do país, basta ver que todos aqueles que têm condições de pagar uma escola privada para os filhos optam por fazer isso porque reconhece que a educação privada é superior à pública de Teresina.

Candidato, quais as suas propostas para solucionar os problemas de mobilidade urbana da capital? 

A gente precisa tomar algumas medidas. A primeira delas, a mais simples, é fiscalizar os contratos com as empresas que compõem o sistema, se eles estão sendo cumpridos da maneira que foram estabelecidos. Há denúncias de que as empresas ofertam menos ônibus dos que estão previstos no contrato de licitação, que o serviço não está sendo feito da maneira que foi contratada. A segunda medida é rever, refazer o Plano Diretor de Transportes Públicos e mudar essa integração que hoje está sendo preparada para acontecer nos terminais de passageiros, onde o usuário precisa ir até o terminal para trocar de ônibus e ir até o seu destino, fazendo com que essa integração possa acontecer em um bilhete eletrônico, em qualquer parada. Isso agiliza, diminui o tempo de espera e é mais barata de implantar porque ela é feita de forma eletrônica, não precisa do terminal físico. Várias cidades do Brasil já utilizam essa integração como São Paulo, Porto Alegre, Salvador. Em terceiro lugar, as empresas do Setut não atendem a todas as zonas da cidade, por mais que os contratos sejam fiscalizados. Tem lugar que não passa ônibus. Por isso, defendemos a criação de uma empresa municipal de transporte para entrar, não substituindo as empresas privadas, mas para atuar onde o transporte coletivo não é eficaz, para que o passageiro tenha outra opção a utilizar, com passagem que tenha preço de custo para o acesso ser simplificado. Por fim, defendemos ainda a ampliação do passe – livre que hoje existe para militares, idosos, deficientes, defendemos a ampliação para os trabalhadores desempregados e para os estudantes da escola pública por entender que transporte é um direito fundamental e garantido na Constituição, que é o direito de ir e vir e que ele não pode ficar condicionado a capacidade de pagamento disso. Se é um direito, as pessoas precisam ter o acesso, por isso é preciso privilegiar os estudantes e os desempregados. 

Presenciamos recentemente o processo em que a presidente Dilma não obteve o apoio do Legislativo e acabou sofrendo um impeachment. Aqui em Teresina, temos um legislativo muito ligado ao executivo. Em uma eventual gestão sua, como seria esse diálogo com o legislativo para garantir a governabilidade? 

Governabilidade é um conceito que, nesse Governo Dilma, se mostrou esgotado. A Dilma fez todas as concessões possíveis pensando em governabilidade e, ainda assim, aconteceu o impeachment. O que a gente defende é que seja cumprida as leis, os princípios da administração pública, o exercício das funções constitucionais. Como prefeito de Teresina, vamos atuar, única e exclusivamente, de acordo com os interesses da população. Vamos organizar a população para que ela seja capaz de manifestar seus interesses. E nós entendemos que os vereadores que serão eleitos devem atuar de acordo com os interesses da população que os elegeram para estarem lá. Então, não há porque haver conflito entre a Câmara e a Prefeitura quando os dois estão defendendo os interesses da população. Se houver, a gente vai chamar os vereadores e eles se explicam para a população. Hoje em dia, os eleitores estão mais atentos e sabem cobrar. Basta ver o caso dos vereadores que votaram contra a climatização dos ônibus. Hoje, quando alguém denuncia que aquele vereador votou contrário, ele não sabe como justificar.

Na propaganda eleitoral você defende uma auditoria nos contratos da Prefeitura. Qual o objetivo dessa auditoria? Qual a suspeita? 

A auditoria precisa ser transparente, ser pública. Quando falamos em fazer auditoria não é ó para a gestão ter essa informação para que a população saiba, exatamente, como anda a gestão financeira da Prefeitura. Porque é necessário fazer isso? Essa transparência não existe atualmente. Segundo porque alguns estudos, e não podemos deixar aqui de citar o Índice Firjan, aponta que a gestão financeira de Teresina é irresponsável quando deixa o município sem liquidez, ou seja, sem capacidade de pagar as despesas já feitas e mostra que Teresina não tem uma saúde financeira boa, uma das piores do país e muito pior do que estava quando o atual prefeito assumiu. Então, significa que Teresina teve uma piora na sua gestão fiscal e é, por isso, que precisamos mostrar onde está o problema, para onde está indo nossos recursos, e consertar esse buraco e deixar as contas nos eixos para que possamos dar conta das demandas da população. 

Em um eventual segundo turno, de que lado o PSOL estaria? 

Do lado da população de Teresina. Nesse eventual segundo turno, esperamos estar nele e nosso lado será o da população. Em um possível segundo turno com outros candidatos, a nossa posição, da maneira que não fazemos alianças com esses partidos da ordem, é que a população continue não privilegiando esses partidos que estão com campanhas milionárias porque eles não defendem os interesses da população e não temos o interesse de vê-los chegando ao poder.

Por: Mayara Martins - Jornal O DIA
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