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"O elo entre PT e PP está fraco, mas Wellington tem perfil de negociador"

Cientista político Vitor Sandes, em entrevista ao O Dia, comenta o pós-eleições e as mudanças no cenário político do estado.

09/10/2016 09:14

Diante do resultado das eleições municipais ocorridas no último dia 02, é possível perceber algumas mudanças no quadro político para 2017. Renovação da câmara de Teresina em quase 50%, baixo índice de mulheres eleitas e ressurgimento de políticos, até então, adormecidos, são três das principais características que marcaram o pleito. O cientista político Vitor Sandes elencou, em entrevista a O DIA , algumas concepções que possam justificar o novo cenário, além de comentar sobre a invencibilidade do PSDB na Capital e a relação estremecida entre PT e PP após impeachment. 

Para o cientista político Vitor Sandes, o que tem se apresentado é uma disputa política de grupos pensando nas eleições de 2018 (Foto: Moura Alves/ O Dia)

O Dia: Qual a leitura que se faz do cenário político pós-eleitoral? Os resultados eram previsíveis? 

Vitor Sandes: Pensando no Piauí, o que a gente tem é uma disputa de grupos pensando em 2018, para as eleições 2018. O que importa é que, apesar dessa conjuntura extremamente negativa para o PT, o Wellington tem um capital político muito grande no Estado. Ele é capaz de vencer determinadas eleições porque tem uma trajetória muito importante no estado. Ele é o atual governador, então, tem a máquina na mão. Isso ajuda, pois é um Estado que depende muito da máquina pública para execução de obras, por exemplo. Temos um caso emblemático, em Picos, onde o Padre Walmir venceu as eleições com uma diferença bem pequena, mas é uma cidade estratégica para as eleições estaduais. Wellington Dias é um nome muito forte, que vai conduzir as articulações para 2018, embora não sabemos como vai ser. O Ciro Nogueira, naturalmente, também tem uma força nacional muito grande com o PP, que continua no governo. Esteve no governo Dilma, está no governo Temer e tem uma projeção muito importante dentro do partido, dentro do Estado, mesmo com algumas derrotas importantes. Mas o Wellington Dias consegue se descolar dessa imagem ruim do PT. Essa imagem negativa do PT, junto com o Wellington Dias não cola. 

O Dia: Apesar de não ter um desempenho favorável no âmbito estadual, em Teresina o PSDB consolidou sua hegemonia ao reeleger um tucano novamente, em uma disputa ainda no primeiro turno. O que pode explicar essa hegemonia do PSDB na capital? 

Vitor Sandes: Tem vários problemas, como crescimento da violência urbana e analfabetismo, e ainda assim a imagem do PSDB não cola com esses problemas. O que cola é uma imagem de boa gestão, de uma gestão eficiente, de pagar o funcionalismo público, de gerir as contas públicas. Isso se deve, por exemplo, ao fato de que as lideranças do PSDB se focam na Capital, os grandes nomes do partido são da Capital, inclusive, em termos de corpo técnico, diferente de outros partidos, o PMDB, PP, por exemplo. Eles sabem que a Capital é controlada por um partido muito difícil de romper, que tem uma estrutura consolidada e tem a preferência eleitoral, as pessoas aprovam o governo. Então, os outros partidos acabam investindo em outras cidades. Com uma competição menos acirrada é mais fácil de um partido que tem o controle de um determinado espaço político continuar. Nessas eleições, por exemplo, tivemos dois nomes novos: Dr. Pessoa, que não era um nome que estava na boca a boca, e Amadeu Campos, que é um jornalista, que não tem uma trajetória política, mesmo apoiado com PT, que aqui na Capital ainda é muito fraco. Há vários casos ao longo do tempo da dificuldade desses partidos conseguirem adentrar na Capital, que se iniciou com Wall Ferraz. Então, aqui no Piauí tem um eleitorado que é da Capital, ainda muito veiculada com o PSDB, dessa trajetória. Ele consegue afugentar outros partidos de investir em uma disputa eleitoral aqui na Capital. 

O Dia: Também por conta das eleições, houve um estranhamento entre as lideranças dos partidos que dão sustentação ao governador Wellington Dias. Esse “estremecimento” das relações, sobretudo com o PP, pode ter repercussão nas eleições de 2018? 

Vitor Sandes: Pode. A disputa PT e PP, principalmente pelo o que aconteceu em nível nacional, quando o PP largou o barco às vésperas da votação do impeachment, um fato que gera um descontentamento difícil de contornar rapidamente. Naquele momento não era oportuno o Wellington Dias e Ciro romperem. Acredito que o próprio PT estudou se era estratégico o distanciamento. Mas a partir do momento em que as eleições foram se consolidando, esse afastamento foi cada vez mais se fortalecendo, de fato que temos duas grandes forças que de fato se opõe, isso é perceptível no movimento dos grupos, dos apoios políticos. Eu não acredito que em determinada votações isso possa ser negociado no varejo, individualmente. Entre eleições talvez isso não importe tanto, o que importa é mostrar para o eleitor o grupo A e o grupo B. PT e PP estavam juntos até recentemente, como também foram uma aliança longa. Esse elo está muito mais fraco hoje por conta do processo de impeachment, mas ainda assim o grupo do PT, o grupo do Wellington, não é um grupo que não abre mão facilmente de determinadas alianças para governar, para coligações. O Wellington tem um perfil de negociação, de articulação. 

O Dia: Em Parnaíba, o ex-senador Mão Santa conseguiu ser eleito, mesmo contra o Governo do Estado, em uma disputa que tinha como principal candidato o prefeito Florentino Neto (PT). O Governo reconhece que essa foi uma das principais derrotas petistas no Estado. Ao que deve esse ressurgimento de Mão Santa que estava, até então, afastado da cena política piauiense? 

Vitor Sandes: É uma característica pessoal. O Mão Santa é de Parnaíba, nem tem uma trajetória, já foi governador e tinha um carisma. Ainda que ele tenha sido muito mal sucedido nas eleições estaduais, mas é outro contexto, muito particular. Ele não é um político que, de fato, acabe da noite para o dia. Ele tem uma capacidade pessoal de influenciar o âmbito eleitoral. E o PT não é um partido fortíssimo em Parnaíba ao ponto de desmontar o Mão Santa. Além disso, às vezes que o PT conseguiu desmontar o Mão Santa não tinha o apoio do Governo Federal. Quando você disputa com um candidato que está adormecido em uma conjuntura que o PT não é tão forte, é mais fácil essas velhas lideranças voltarem. É questão de espaço. Se você abre espaço, essas lideranças começam a se articular e buscar ocupar novamente os espaços.

Você confere a entrevista completa com o cientista político Vitor Sandes no Jornal O Dia deste domingo.

Por: Ithyara Borges - Jornal O Dia
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