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MPF confirma participação de Nuzman na 'farra dos guardanapos

'Enquanto medalhistas olímpicos buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do COB guardavam o seu ouro na Suíça', afirmou procuradora. Lá, MPF descobriu 16kg de ouro de Nuzman.

05/10/2017 14:51

O Ministério Público Federal (MPF) confirmou que Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), preso na manhã desta quinta-feira (5), participou da festa conhecida como "farra dos guardanapos", em Paris.

Na ocasião, membros do governo do Rio e empresários celebravam a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Segundo o MPF, a farra foi uma comemoração antecipada da compra de votos. Segundo a procuradora, ainda há forte suspeita de que outros membros do comitê eleitoral para a Olimpíada de 2016 tenham recebido propina para escolher o Rio como cidade-sede.

"O senhor Carlos Arthur Nuzman também estava presente naquele episódio do dia 14 de setembro de 2009, que antecedeu em poucos dias os pagamentos que foram feitos da Matlok, de Arthur Soares, para Papa Massata Diack", afirmou a procuradora Fabiana Schneider.

Participaram da “farra dos guardanapos” o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, o ex-secretário de Governo Wilson Carlos, o dono da empreiteira Delta Construções, Fernando Cavendish, e o empresário Georges Sadala.

Presos por compra de votos

Nuzman e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do comitê Rio 2016 e braço-direito do presidente, foram presos na manhã desta quinta-feira (5), no Leblon e em Laranjeiras, respectivamente.

Eles são suspeitos de intermediar a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016. O pedido de prisão temporária foi decretado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

Em depoimento, Leonardo Gryner admitiu que houve um encontro, primeiramente em Berlim, entre ele e Lamine Diack e depois em Paris, onde Sérgio Cabral apresentou Arthur Soares a Gryner. "Ali são feitas as tratativas”, destacou a procuradora, referindo-se a um dirigente que recebeu U$ 2 milhões para votar no Rio na eleição realizada em 2009.

"Enquanto os medalhistas olímpicos buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suíça. A realização dos Jogos foi abastecida com dinheiro público”, afirmou Fabiana.

Esquema de 'ganha-ganha'

A "farra dos guardanapos" aconteceu no dia 14 de setembro de 2009 em Paris, e no dia 23 do mesmo mês ocorreu a primeira transferência bancária confirmada por meio de cooperação internacional da Metlock para a conta de Papa Diack, que é filho de Lamine Diack. Lamine é membro do COI que participou da votação.

“Com a busca e apreensão, foi chegando a ter outras provas que demonstram, principalmente, que existia um esquema de ‘ganha-ganha’ nessa organização criminosa. A organização criminosa através de, ao menos, quatro pessoas diretamente envolvidas na organização de Cabral, recebeu — de alguma forma — benefícios na realização da Olimpíada”, explicou o procurador federal Rodrigo Timóteo.

Segundo o MPF, já foram denunciados os esquemas referente a obras do Arco Metropolitano, da Linha 4 do metrô, da reforma do Maracanã, da Transcarioca e da recuperação ambiental da Bacia de Jacarepaguá.

"O que mostra que os Jogos Olímpicos foram planejados e estruturados tendo trazido um ciclo econômico bastante interessante para essa organização criminosa e foi uma das melhores estratégias de capitalização política e financeira também pra que a organização criminosa pudesse atuar. A partir dos Jogos Olímpicos veio uma avalanche de investimentos não só privados, mas públicos também", explicou a procuradora.

Ainda segundo o Ministério Público, a investigação encontrou um dossiê produzido por Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde do estado, que também foi fundamental para a elucidação do esquema criminoso, assim como a troca de e-mails entre suspeitos.

“Além dos e-mails, durante as buscas foi localizado um dossiê que foi elaborado e produzido por Sérgio Côrtes, outro membro da organização criminosa que, inclusive, está preso. Esse dossiê foi produzido a pedido do senhor Carlos Nuzman em face de uma pessoa que era seu opositor”, afirmou a procuradora Fabiana.

Compra de votos em bloco

Nuzman e Gryner receberam um email de Papa Diack, que comprovaria a compra em bloco de votos de vários países africanos, segundo o MPF.

Na mensagem, Diack diz estar envergonhado com o presidente (Nuzman) porque "nossos amigos não confiam mais em nós". "Amigos", diz o MPF, seriam os outros eleitores africanos. "Faz, portanto, clara referência aos acertos realizados entre Nuzmann e Gryner e africanos que votaram para a escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague (...) A referência a “our friends” (nossos amigos) está a indicar a votação em bloco na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, por parte dos africanos", afirma o MPF. A cidade dinamarquesa foi o palco da votação da eleição.

De acordo com o Ministério Público Federal, inicialmente, Arthur Soares foi quem depositou os valores de US$ 2 milhões para a compra do voto de Lamine Diack. Com o valor foi aberto um empreendimento hoteleiro na Barra da Tijuca que era acobertado desde o início por contratos com o Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016.

"Outro integrante que está preso, o senhor Marco de Luca é contratado para prestar serviço ao Comitê, no valor de R$ 90 milhões para prestar serviço de alimentação e hospitalar para o comitê organizador. Além dessas duas pessoas temos também a contratação de empresas do Jacob Barata Filho para prestação de serviços de transportes para o Comitê Organizador dos Jogos 2016, além da já citada participação do senhor Sergio Côrtes, a pedido do Carlos Arthur Nuzman, para fazer um dossiê para uma das pessoas que eram concorrentes dele na eleição do COB”.

O que dizem as defesas

De acordo com a defesa de Jacob Barata, todos os contratos mencionados pelo MPF são privados e o desempenho dos serviços de transporte pertinentes a esses contratos foi amplamente elogiado pela imprensa mundial. Esses contratos foram pautados por critérios de capacidade técnica e a sua execução foi acompanhada por empresas de auditoria de reputação inquestionável.

Segundo a defesa de Nuzman, a medida adotada com a prisão foi severa. "Vou me inteirar dos fatos agora. Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida. É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal", afirmou o advogado Nélio Machado, na manhã desta quinta, após a prisão de Nuzman.

Em nota, o COI disse que está cooperando e pediu às autoridades brasileiras informações completas para dar seguimento às investigações internas da comissão de ética do COI. O Comitê afirmou também que sua comissão de ética pode tomar medidas provisórias contra Nuzman.

Fonte: G1
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