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Grupos pró e contra Lula se agridem onde ex-presidente daria depoimento

As bombas foram usadas após simpatizantes do PT tentarem romper o cordão policial –o grupo tentava furar o "Pixuleco", boneco inflável gigante que representa o ex-presidente Lula vestido de presidiário

17/02/2016 11:54

Grupos simpatizantes e críticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a atirar garrafas d'água e pedras uns nos outros nesta quarta-feira (17), em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, onde o petista daria depoimento. Houve confronto com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo e golpeou alguns manifestantes com cassetetes.

Grupos pró e contra Lula discutem durante ato no Fórum da Barra Funda (Foto: Zanone Fraissat/FolhaPress)

Um batalhão da tropa de choque da Polícia Militar, que estava dentro do fórum, havia se posicionado entre os dois grupos mais cedo na tentativa de impedir uma escalada do confronto, já que os dois lados lançavam provocações mútuas.

As bombas foram usadas após simpatizantes do PT tentarem romper o cordão policial –o grupo tentava furar o "Pixuleco", boneco inflável gigante que representa o ex-presidente Lula vestido de presidiário

Por volta das 11h, militantes dos grupos Nas Ruas e Revoltados Online tentaram inflar a alegoria (veja galeria de fotos abaixo) após resolver problemas técnicos. Em resposta, alguns manifestantes de esquerda contornaram o cordão de policiais e ficaram cara a cara com os opositores. Houve trocas de chutes antes que os dois grupos fossem apartados.

Um dos coordenadores da Frente Brasil Popular, que defende o ex-presidente, chegou a pedir a policiais presentes ao ato que não deixassem o boneco ser inflado porque não conseguiria conter os manifestantes. Neste momento, os grupos começaram a se xingar e atirar garrafas uns nos outros. A polícia interveio para separar os manifestantes, que se espalharam e tomaram a rua.

O major Eliseu Chaves de Oliveira, da PM, informou à Folha que chegou a alertar os movimentos anti-Lula do risco de confronto caso o Pixuleco fosse inflado. "Eles estão em número maior, é difícil controlar", explicou. "Ficam muito nervosos com esse negócio", acrescentou, ressalvando que tratava-se apenas de recomendação.

Antes, às 10h40, militantes da Frente Brasil Popular acenderam fogos de artifício e jogaram uma bomba perto de onde manifestantes anti-Lula estão situados.

Depois disso, os dois lados ameaçaram invadir o acesso ao fórum, que separa os manifestantes. Em seguida, uma manifestante da Central de Movimentos Populares foi socorrida por policiais. O motivo teria sido uma pedra lançada do lado dos movimentos antipetistas.

A Frente Brasil Popular se aglomerou na calçada à esquerda do fórum. "Fora, coxinha" é um dos gritos que entoa recorrentemente.

À direita do prédio, em número menos expressivo, estão movimentos como o Nas Ruas e o Revoltados Online. Aos opositores, gritam: "Vai trabalhar, vagabundo".

Com o cancelamento do depoimento do ex-presidente, deputados petistas que iriam participar do ato em sua defesa se reuniram com o petista na sede do Instituto Lula. Parte deles seguiu para o ato no fórum.

OFENSAS

Alguns dos manifestantes de esquerda começaram a debochar do guarda-chuva que a líder dos Nas Ruas, Carla Zambelli, usava para se proteger do sol.

Ela se recupera de uma cirurgia para retirada de tumor na cabeça e buscava cobrir a cicatriz. Ao dizer que usava o guarda-chuva por motivos de saúde, foi xingada de zika e acusada de não saber ler.

A reportagem também ouviu xingamentos como "biscate". Uma mulher gritou: "Mostra os peitos!".

Nesta terça, na chamada para o ato, o presidente da CUT, Vagner Freitas, divulgou em seu perfil no Facebook um poster com as frases "Lula eu respeito, Lula eu defendo".

"Esperamos que seja o início de uma reação popular contra um linchamento sem precedência de uma das mais importantes lideranças mundiais dos últimos tempos", disse Raimundo Bonfim, coordenador geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e membro da Frente Brasil Popular.

Também nesta terça, Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL e colunista da Folha, pedia uma demonstração da "legitimidade popular" dos movimentos contrários a Lula, Dilma e PT. O MBL, porém, desistiu da manifestação após o depoimento do ex-presidente ser cancelado.

LIMINAR

Uma decisão liminar do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) suspendeu nesta terça (16) os depoimentos de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, ao Ministério Público de São Paulo.

Os dois haviam sido intimados a depor sobre a situação do tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), e sobre suspeitas de irregularidades na transferência do condomínio da cooperativa Bancoop para a OAS.

O conselheiro Valter Shuenquener de Araújo, porém, acatou um requerimento do deputado petista Paulo Teixeira (SP), em que ele alega que o inquérito teria que ter entrado no sistema de distribuição do Ministério Público paulista. O deputado fala ainda em "flagrante perseguição política".

Teixeira questionou a atuação do promotor Cassio Conserino, afirmando que ele não era o promotor natural para conduzir a investigação. O promotor já afirmou à imprensa ver indícios para denunciar Lula.

"É fundamental o respeito à Constituição pelos agentes públicos", disse o deputado Teixeira à Folha.

Ele contou com a orientação de pessoas do entorno do ex-presidente para entrar com o pedido de liminar. A ideia inicial era que Lula prestasse o depoimento –isso mudou após alertas de aliados.

DISTRIBUIÇÃO

Segundo o deputado Teixeira, o caso do tríplex está sendo apurado atualmente na 5ª Vara Criminal do Foro Central Criminal de São Paulo, sendo que é a 1ª Promotoria de Justiça a responsável pelos casos dessa área. Conserino seria da 2ª Promotoria.

Para Teixeira, se não fosse direcionado para a 1ª Promotoria, o caso deveria ter tido, ao menos, livre distribuição.

Araújo afirma que a representação criminal foi feita "de forma nominalmente direcionada ao requerido [Conserino] e a dois outros membros do Ministério Público, sem que se tenha notícia de qualquer distribuição ou mesmo decisão ministerial no sentido de que o requerido seria efetivamente o promotor de Justiça com atribuição na matéria".

O conselheiro avaliou que é melhor paralisar o caso até mesmo para não colocar em risco as investigações.

"Não é recomendável a manutenção de ato a ser presidido pelo requerido [Conserino] designado para amanhã [quarta] sem que antes o plenário deste conselho possa apreciar as alegações de ofensa ao princípio do promotor natural no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo. A manutenção do ato poderia, acaso se entenda, em momento futuro, pela falta de atribuição do referido membro e da necessidade de livre distribuição do feito, até mesmo ensejar uma indesejável nulidade no âmbito penal", disse o conselheiro em sua decisão.

O conselheiro alega ainda que as notícias que grupos favoráveis e contrários a Lula protestariam em frente ao Fórum da Barra Funda poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local.

A decisão vale até que o plenário do CNMP avalie o caso.

JUSTIFICATIVA

Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas desistiu de comprar o imóvel. Há a suspeita de que o tríplex, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira, estaria reservado para a família do ex-presidente e seria uma forma de favorecê-lo.

A linha de defesa do ex-presidente sobre o triplex e o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, ainda está sendo traçada por sua equipe de advogados, por isso, qualquer pronunciamento precipitado é considerado arriscado. Aliados e envolvidos na defesa do petista estão tomando o máximo de cautela em relação a manifestações públicas sobre as suspeitas.

Fonte: Folha de São Paulo
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