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Família do relator da denúncia contra Temer está no poder desde o Império

Da 5ª geração do 'Patriarca da Independência', Bonifácio Andrada foi escolhido para relatar acusação contra o presidente. Os Andrada tiveram políticos, magistrados e procuradores da República.

30/09/2017 15:20

Há quase dois séculos, desde que o Brasil declarou independência de Portugal, gerações consecutivas da tradicional família Andrada se revezam em importantes cargos da política, da Justiça e do Ministério Público brasileiro. Nesta semana, a linhagem dos Andrada voltou aos holofotes com a indicação do deputado Bonifácio José Tamm de Andrada (PSDB-MG), de 87 anos, para a relatoria, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, da denúncia de organização criminosa e obstrução de Justiça contra o presidente da República, Michel Temer.

Descendente da quinta geração de José Bonifácio Andrada e Silva, considerado o "Patriarca da Independência", o deputado do PSDB terá a responsabilidade de elaborar o parecer que recomendará o encaminhamento da acusação ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou a suspensão da denúncia até que Temer conclua o mandato presidencial.

O deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) (Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Arquivo)

A primeira geração dos Andrada envolvida com a política nasceu em Santos (SP) no final do século 18. Herdeiros de uma rica família da aristocracia portuguesa, os irmãos José Bonifácio Andrada e Silva, Martim Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva ganharam protagonismo político no início da década de 1820.

À época, o retorno de Dom João VI para Lisboa motivou a elite brasileira a instigar o então príncipe regente D. Pedro a se insurgir contra a Corte portuguesa e proclamar a independência do Brasil, o que acabou ocorrendo em 7 de setembro de 1822.

Cientista consagrado na Europa – onde viveu por mais de 30 anos –, José Bonifácio Andrada e Silva se aproximou da Corte portuguesa quando retornou ao Brasil, em 1819, dois anos antes de Dom João VI embarcar de volta para Lisboa. Ele tinha ideias progressistas para a época, sendo, inclusive, reconhecido abolicionista quase sete décadas antes de a princesa Isabel decretar a abolição da escravatura.

Aos 58 anos, José Bonifácio ganhou a confiança do jovem D. Pedro – que tinha apenas 23 anos –, se tornou um dos principais conselheiros políticos do príncipe regente e influenciou o filho de Dom João VI a aderir ao movimento de emancipação. Às vésperas da proclamação da independência – diante da pressão de Portugal para que D. Pedro retornasse à Europa –, José Bonifácio teve papel crucial no "Dia do Fico", em que o príncipe anunciou que permaneceria no Rio de Janeiro.

Assim que foi proclamada a independência brasileira, José Bonifácio Andrada e Silva assumiu o cargo de ministro do Interior e dos Negócios Estrangeiros, que, à época, era o mais importante posto da burocracia brasileira, algo equivalente a um primeiro-ministro.

Enquanto isso, Martim Francisco – um dos irmãos de José Bonifácio –, ocupava o cargo de ministro da Fazenda. Já o outro irmão, Antônio Carlos, integrou a Assembleia Constituinte de 1823. Ele redigiu o primeiro projeto de Constituição para o Brasil, mas o projeto nem chegou a ser votado porque D. Pedro I, agora imperador do Brasil, dissolveu a Constituinte antes da conclusão dos trabalhos.

Apesar da forte influência que José Bonifácio chegou a manter sobre o imperador, a relação do ministro do Interior com D. Pedro I foi marcada por altos e baixos. Um desentendimento com o imperador por conta da elaboração da primeira carta constitucional brasileira levou José Bonifácio e os dois irmãos a serem banidos do Brasil, ficando exilados na França durante quase seis anos.

Ao retornar ao Brasil em 1829, José Bonifácio Andrada e Silva voltou a ter protagonismo no cenário político brasileiro. Reconciliado com o monarca, ele foi indicado tutor do filho de 5 anos do imperador – que viria a ser coroado mais tarde como D. Pedro II – quando D. Pedro I decidiu retornar a Lisboa para assumir o trono português.

(Foto: Editoria de Arte, G1)

Herdeiros dos Andrada

O protagonismo dos Andrada se intensificou na segunda geração de políticos da família, embora o "Patriarca da Independência" tenha terminado a vida, aos 75 anos, no ostracismo, após ter sido destituído do posto de tutor do príncipe herdeiro durante uma conspiração política organizada por adversários.

Os descendentes dos irmãos Andrada tiveram intensa atuação durante o reinado de D. Pedro II, atuando como deputados, senadores e ministros de Estado. José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como "o moço" por ter o mesmo nome do avô, foi senador e ministro da Marinha.

O irmão dele Martim Francisco Ribeiro de Andrada – que era chamado de Martim Francisco filho – comandou o Ministério de Relações Exteriores e presidiu a Câmara de Deputados.

Antonio Carlos Ribeiro de Andrada – filho de Martim Francisco e sobrinho de Antonio Carlos – foi deputado e senador. Apesar de ter nascido em Santos, no litoral paulista, ele fez carreira em Minas Gerais, criando o ramo mineiro dos Andrada, do qual é descendente direto o relator da denúncia de Temer na CCJ.

José Bonifácio Lafayette de Andrada – pai do deputado do PSDB – teve papel de destaque na Revolução de 1930, que derrubou a República do café com leite e alçou Getúlio Vargas à Presidência da República. Já Antonio Carlos Lafayette de Andrada, tio do parlamentar tucano, presidiu o Supremo do Supremo Tribunal Federal entre 1962 e 1963.

Deputados mais velho da Câmara dos Deputados, Bonifácio de Andrada teve oito filhos. Entre os filhos do parlamentar do PSDB, que fazem parte da sexta geração de políticos e juristas dos Andrada, está o subprocurador da República José Bonifácio Borges de Andrada, que exerceu o cargo de vice-procurador-geral da República na gestão de Rodrigo Janot.

O subprocurador da República José Bonifácio Borges de Andrada (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

José Bonifácio Borges de Andrada chegou a representar diversas vezes o Ministério Público em julgamentos no STF.

O protagonismo dos Andrada na política e no Judiciário brasileiro rendeu diversas homenagens à família nos últimos dois séculos. Há memoriais, distinções como medalhas, ruas e até municípios com o nome de integrantes da família espalhados pelo Brasil.

Casamentos em família

Nas primeiras gerações dos Andrada, houve vários casos de casamentos entre parentes, como era comum à época em família tradicionais. Por exemplo, uma das filhas do "Patriarca da Independência" se casou com o tio dela, Martim Francisco, irmão de José Bonifácio.

Antônio Carlos, outro irmão do patriarca, também se casou com uma sobrinha e afilhada de batismo, filha de Ana Marcelina Ribeiro de Andrada. O filho deles, que foi batizado com o mesmo nome do pai, atuou como deputado durante o Segundo Império. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, o filho, também se casou com uma parente, sua prima Anna Marcelina de Carvalho.

Fonte: G1
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