Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Especialistas respondem por que é tão difícil parar de fumar

Mesmo sabendo das consequências, não é fácil abandonar o vício

31/05/2016 13:07

O pneumologista Frederico Fernandes atende doentes de câncer que não conseguem parar de fumar apesar dos efeitos dramáticos do cigarro sobre a sua saúde. Ele coordena o grupo de tabagismo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, e falou ao Nexo sobre como esses dependentes extremos de nicotina se sentem:

“Esses pacientes vêm muitas vezes com vergonha, bastante debilitados. Os familiares veem neles pouca força de vontade, de vergonha na cara. Mas não é questão de pouca vergonha, bondade ou maldade. É uma doença, que é a dependência de nicotina, e ela precisa de tratamento”

O hábito de fumar está associado a doenças como hipertensão arterial, câncer de boca, câncer de pulmão, bronquite, impotência sexual, enfisema pulmonar e derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 5 milhões de pessoas morrem todos os anos de complicações causadas pelo cigarro.

No dia 31 de maio, o Dia Mundial Sem Tabaco, fumantes do mundo todo se depararão com reportagens e anúncios lembrando dos riscos associados a fumar.

Mas quem já parou ou tentou parar de fumar sabe que abandonar o hábito - mais viciante do que usar cocaína ou beber, segundo Fernandes - não é tarefa simples. O Nexoexplica por que é tão difícil largar o cigarro.

Por que é tão difícil parar de fumar?

EFEITO QUÍMICO

A nicotina é captada no cérebro através de receptores nicotínicos. Como resposta, esse libera a dopamina, ligada à sensação de prazer. “O sistema límbico do cérebro da pessoa condiciona sensações de prazer ao uso do cigarro e à inalação da nicotina”, explica Fernandes.

Normalmente, os centros de prazer reagem a estímulos externos, como encontrar um amigo, viajar ou receber uma massagem. Para os fumantes esse centro de prazer é estimulado dezenas de vezes por dia pelo cigarro. Segundo Fernandes, isso faz com que outros estímulos tenham mais dificuldade em se converter em reações prazerosas.

“Quando eu fumo é como se eu estivesse num ‘jet ski’, e nas outras atividades, estou em uma canoinha. O indivíduo que fuma passa a usar a nicotina para ter a liberação da dopamina”

RECEPTORES ESPECÍFICOS

Na opinião do pesquisador do King’s College em Londres Daniel Glaser, o fato de que o cérebro tem receptores específicos para a nicotina torna o vício na substância mais direto do que o que ocorre com outros tipos de vício.

“O vício em nicotina se desenvolve de maneira mais fundamental e química do que o vício em sexo, internet ou mesmo chocolate. Não há receptores ‘internetínicos’ ou ‘chocolatínicos’ no cérebro”

COMPORTAMENTO

Essa associação biológica entre nicotina e liberação da dopamina, ou seja, entre fumar e sentir prazer, é reforçada pelo comportamento social.

Para Fernandes, uma das características do fumante é a incapacidade de sentir prazer sem fumar. “Quando sai com os amigos, a pessoa precisa fumar; quando tem uma notícia boa, fuma; quando tem relações sexuais, é comum buscar o cigarro.”

O efeito bioquímico tem um grande papel, mas o que perpetua o hábito do cigarro é o comportamento, que o associa a qualquer situação de prazer.

ANSIOSOS E DEPRESSIVOS

A liberação de dopamina através do cigarro auxilia pessoas ansiosas e depressivas a se tranquilizarem. Por isso, esses pacientes têm mais dificuldade em deixar de fumar, de acordo com o médico.

FATOR CULTURAL

Outro fator relevante  que dificulta o abandono do tabaco é a aceitação social da nicotina como droga. Ninguém vai preso por fumar um cigarro. “Qualquer pessoa pode entrar em uma padaria e comprar um maço de cigarro, e fumar ainda está, em certa medida, associado a uma passagem para vida adulta”, diz Fernandes.

Governo tem agido contra o cigarro

Nos últimos anos, o governo tomou medidas importantes contra o tabagismo. A portaria 571 de 2013, do Ministério da Saúde, reconhece o tabagismo como um fator de risco a doenças crônicas, e prevê a oferta de tratamentos para quem deseja parar de fumar. O decreto presidencial 8.262, de 2014, proíbe o fumo em locais fechados

Esses são alguns dos fatores que contribuem para a diminuição no número de cigarros per capita do país, um processo que vem ocorrendo de forma constante desde 2005.

Fonte: Nexo Jornal
Mais sobre: