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Delatores se contradizem sobre fim do setor de propinas da Odebrecht

Em seu depoimento à força-tarefa da Lava Jato, em dezembro de 2016, o herdeiro do grupo disse que a decisão tinha como objetivo encerrar as atividades ilícitas.

19/04/2017 10:17

Dois delatores da Odebrecht apresentaram versões diferentes sobre o encerramento do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propina da empresa.

No início de 2015, um ano depois do início da Operação Lava Jato, parte do setor foi transferida para a República Dominicana e dois funcionários se mudaram para o exterior, a pedido do então presidente Marcelo Odebrecht.

Em seu depoimento à força-tarefa da Lava Jato, em dezembro de 2016, o herdeiro do grupo disse que a decisão tinha como objetivo encerrar as atividades ilícitas.

"O que eu disse foi 'feche as contas [estrangeiras não declaradas], acaba com as operações estruturadas e vai para o exterior trabalhar com mais serenidade e sem risco de grampo", afirmou Marcelo Odebrecht a procuradores.

Mas Hilberto Mascarenhas da Silva, chefe do Setor de Operações Estruturadas naquele momento, relatou que a transferência, uma exigência de Marcelo Odebrecht, era uma tentativa de driblar o monitoramento das autoridades e manter as operações.

"Ele queria evitar o risco. Estava sentindo que alguma coisa estava prestes a acontecer e aí exigiu que a área, para continuar, fosse fora do Brasil", afirmou Silva.

DIFERENTES VERSÕESDelatores contam histórias diferentes sobre o encerramento do Setor de Operações Estruturadas, conhecido como departamento de propina

Editoria de arte/Folhapress

Marcelo Odebrecht foi preso meses depois, em junho de 2015. Seu pai, Emílio Odebrecht, assumiu a empresa e só então, segundo disse o patriarca ao Ministério Público Federal, os repasses ilícitos foram interrompidos.

"Quando eu, logo uma semana depois [da prisão de Marcelo], oficializava a entrada no Newton [de Souza] como presidente substituindo o Marcelo e, ao mesmo tempo, definia uma série de regras dentro da organização, foi que daí para frente terminou o caixa dois, zerava. Os compromissos que existiam morreram. [A ordem era] desfazer tudo, não existe mais", afirmou Emílio.

Em sua delação, Marcelo Odebrecht disse que não tinha conhecimento da totalidade de operações ilícitas, dada a descentralização da empresa, e responsabilizou o departamento de propinas.

"O pessoal de Operações Estruturadas, se estiverem falando a verdade, podem confirmar. Durante todo o ano que eu coloquei o pessoal do jurídico da empresa para fazer investigação, eles omitiram a real exposição nossa", afirmou Marcelo.

"Eu estava preso e, com esse nível de descentralização aí fora, a empresa parou, não era capaz de tomar nenhuma decisão, nem para o bem nem para o mal. Foi o que de fato aconteceu também. Tanto que todo mundo disse que a maneira como a Odebrecht conduziu a gestão pós-crise foi a pior entre todas as empresas", disse Marcelo.

Segundo Hilberto Silva, a desorganização das informações sobre repasses ilícitos era intencional. "Marcelo tinha preocupação muito grande de que as áreas não se imiscuíssem, quem gera é quem gera, quem paga é quem paga", afirmou.

No momento da transferência do pessoal do departamento para o exterior, Marcelo recomendou que Silva também saísse do país, mas ele não quis -optou por deixar a empresa. Outro executivo, Felipe Jens, o substituiu.

"Eu não fui. Porque, quando senti que Marcelo ia ser preso e passou a bola para Felipe, eu digo, vou para lugar nenhum, não vou fugir daqui, não tenho por quê."

Dois funcionários do departamento de propinas, o tesoureiro Fernando Migliaccio e Luiz Eduardo Soares, "estruturador de pagamentos vultuosos no exterior" se mudaram com as famílias para os EUA e trabalhavam na República Dominicana.

OUTRO LADO

Em nota, a Odebrecht disse "entender que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos".

"A empresa está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas."

Fonte: Folha de São Paulo
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