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Churrascaria que serviu Temer usa carne de empresa investigada

O presidente foi ao local após uma reunião para avaliar o impacto das investigações no Palácio do Planalto, acompanhado de embaixadores de países que mais importam carnes brasileiras.

20/03/2017 09:56

A churrascaria Steak Bull, que recebeu uma comitiva do presidente Michel Temer na noite deste domingo, tem entre seus fornecedores uma das empresas investigadas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal.

O presidente foi ao local após uma reunião para avaliar o impacto das investigações no Palácio do Planalto, acompanhado de embaixadores de países que mais importam carnes brasileiras.

Todos os cortes servidos na casa são de origem nacional, de acordo com o gerente, Paulo Godoi.

Segundo ele, as carnes são compradas da Marfrig, Minerva e da JBS.

No entanto, após a operação, Godoi afirmou que pediu a redução de compras da JBS —que responde por 20% do fornecimento do estabelecimento.

(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

"Eles tinham um centro de distribuição em Brasília, mas não têm mais. Ficou difícil a logística e diminuímos para 20%. Nunca tivemos problema de qualidade com nenhum dos nossos fornecedores", disse Godoi à Folha.

"Mas não estou defendendo uma empresa ou outra. Até por isso, após a operação, na sexta-feira mesmo fiz um pedido para procurarmos outros fornecedores e reduzirmos a parte da JBS", completou.

Segundo o gerente, a churrascaria às vezes também compra picanha australiana, dependendo dos preços no mercado, o que rendeu uma brincadeira do presidente com os funcionários.

"A compra da picanha australiana é feita em momentos oportunos de preço menor, com qualidade igual", disse Godoi.

"Ele brincou, perguntou e disse que a carne brasileira é muito melhor que a australiana e disse para valorizarmos o produto nacional. Deu tudo certo, foi legal terem vindo."

Além de picanha, o presidente se serviu de alcatra, fraldinha, linguiça e carne de cordeiro.

A comitiva de 54 pessoas movimentou o restaurante. Na sexta (17), dia em que a operação foi deflagrada, a procura foi abaixo do normal.

"Quando saiu a notícia da operação na sexta, o movimento foi bem abaixo do esperado. No sábado, voltou um pouco e hoje foi normal", afirmou o gerente.

Horas após fazer um pronunciamento minimizando as investigações da Polícia Federal que deram base à operação disse que a corporação agiu de forma "integrada com o Ministério da Agricultura" e negou acreditar em exageros por parte da PF.

O convite para o jantar foi feito aos embaixadores que estiveram com o presidente no Palácio do Planalto esta tarde.

O jantar, que durou cerca de uma hora, foi regado a vinho argentino e caipirinha, bebida tipicamente brasileira que o presidente saboreou.

Sentado entre os representantes de China e Angola, lugares escolhidos por ordem de chegada, Temer tentou passar um ar de normalidade em relação à situação da carne brasileira.

Disse, ao final, que a adesão dos embaixadores e representantes de países a seu convite mostra que eles "entenderam perfeitamente a mensagem".

"Vão advogar junto a seus países no sentido de divulgar a tranquilidade em relação ao consumo da carne brasileira. Não é para causar um terror que está-se imaginando", afirmou ao deixar o local.

Dos 33 representantes de países presentes na reunião no Planalto, 27 aceitaram o convite. As despesas foram pagas pelo Palácio do Planalto. A conta total saiu por cerca de R$ 14 mil, mas apenas uma parte desse valor foi pago pelo governo.

O buffet da churrascaria custa R$ 119, sem bebidas. Conforme a gerência da churrascaria, não foi acertado um valor especial para a visita presidencial. A assessoria da presidência afirmou que os custos finais só serão informados nesta segunda (20).

Os ministros da Agricultura, Blairo Maggi, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco também compareceram. Contudo, cada um bancou o custo do próprio jantar, bem como os demais presentes, como o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).

O gesto de Michel Temer foi uma tentativa de reduzir os impactos negativos da operação da PF, indiretamente criticada neste domingo pelo governo.

Mais cedo, Blairo Maggi afirmou em conversa com a imprensa que as PF cometeu erros técnicos durante a investigação que embasou a Carne Fraca, uma vez que aponta problemas situações previstas por leis e regulamentos do setor.

Antes de deixar o restaurante, o presidente ainda passou na mesa de uma família sentada ao lado da sua e, em seguida, tirou foto com todos os garçons do local.

SUSPEITAS

Maior empresa do setor, a JBS não tem por ora acusação de que chegou a vender produtos com irregularidades. Segundo a PF, um funcionário da Seara, controlada pela JBS, tinha relação "quase societária" com lideranças do esquema de fraudes descoberto e agraciava fiscais com lotes de carne e dinheiro, em troca de favores.

A Big Frango, que também é da JBS, é colocada pela PF como suspeita de corrupção. O pedido de busca e apreensão é justificado pela polícia para procurar "outros elementos que evidenciem irregularidades nos produtos produzidos e comercializados pela empresa".

Fonte: Folha de São Paulo
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