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A três dias da votação do impeachment, PMDB decide 'não fechar questão'

Bancada reuniu-se novamente nesta quinta-feira e decidiu que partido não vai punir os parlamentares que votarem a favor da presidente Dilma Rousseff (PT).

14/04/2016 19:28

Em entrevista exclusiva concedida ao jornal O DIA, direto de Brasília, o deputado federal Marcelo Castro informou que seu partido, o PMDB, decidiu não fechar questão sobre o posicionamento do partido em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), cuja votação na Câmara Federal está agendada para o próximo domingo, 17.

O "não fechamento de questão" significa que o partido não irá punir os parlamentares que divergirem da posição majoritária da sigla - o apoio ao impeachment.

Marcelo, que ocupa o cargo de ministro da Saúde, havia anunciado a intenção de votar contra o impeachment, e, por essa razão, chegou a ficar sob a ameaça de sofrer um processo de expulsão da sigla.

Nesta quinta-feira, a bancada do PMDB na Câmara realizou uma nova reunião para tratar sobre o assunto, e dela participaram Marcelo Castro e outros peemedebistas aliados da presidente.

"Eu pedi à presidenta para me exonerar, pelo motivo de que domingo agora vai ter a votação do impeachment e eu quero exercer o meu direito de votar como deputado federal representante do povo do Piauí, para manifestar minha posição contrária ao impeachment. Como ia haver hoje uma reunião da bancada do PMDB, eu achei, juntamente com outros colegas [apoiadores de Dilma], que seria importante nós estarmos presentes na reunião para manifestar também a nossa opinião. E a decisão principal dessa reunião foi o não fechamento de questão para o impeachment no domingo", afirmou Marcelo Castro.

O ministro explica a razão pela qual decidiu apoiar a presidente. "Bom, eu vou votar contra o impeachment da presidente Dilma por várias razões. Primeiro porque nós estamos no presidencialismo, e no presidencialismo quem bota e tira o presidente da República é o povo, não o Congresso. No parlamentarismo é o Congresso, o parlamento, que bota e que tira o chefe de Governo. Mas nós não estamos no parlamentarismo, nós estamos no presidencialismo. Quem bota e tira é o povo. Tem data pra começar e pra terminar o mandato do presidente, a não ser que haja nesse percurso o que a Constituição chama de crime de responsabilidade. No caso da presidenta Dilma não existe nem de longe essa figura do crime de responsabilidade. Portanto, o impeachment não tem base jurídica para acontecer", ressalta o deputado piauiense.

Ainda de acordo com Marcelo, sua trajetória política também o fez optar pelo apoio a Dilma. "Eu tenho uma longa vivência junto com esse grupo político, porque nós no Piauí votamos no Lula em 2002 para presidente da República, e no Wellington para governador do Estado. Em 2006 nós votamos no Lula e no Wellington novamente. Em 2010 nós votamos na Dilma, e já veio o Michel Temer de vice, e em 2014 nós votamos na Dilma de novo com o Michel de vice. Então, eu estou apoiando este Governo desde 2002, e agora sou ministro da Saúde do Governo da presidenta Dilma. Se eu saio hoje do ministério, assumo meu mandato de deputado federal e daqui a três dias eu me posiciono contrário a todo um comportamento de 13 anos, isso não faria sentido. Se eu estou no Governo da presidenta Dilma como ministro dela, é porque eu apoio e eu aprovo este Governo. Se eu estou votando nesse grupo político - no Lula e na Dilma - há 13 anos, é porque eu estou aprovando este Governo que estão fazendo. Não tem como eu mudar minha opinião em três dias", acrescentou.

Castro crê em placar apertado, mas opina "com grande segurança" que não haverá impeachement

O peemedebista diz estar confiante na vitória da presidente, mas reconhece que a votação será difícil. "É uma situação muito acirrada, muito disputada. Vai ser um placar apertado, mas nós estamos confiantes de que a oposição não conseguirá colocar 342 votos a favor do impeachment. Portanto, a minha opinião - e falo isso com grande segurança - é de que não haverá impeachment", destaca.

Marcelo também afirma que, apesar de divergir da opinião preponderante entre os peemedebistas, sua relação com o partido continua saudável. 

"A minha relação com o PMDB está muito boa, como sempre esteve. O PMDB é um partido que, desde a sua origem, respeita as divergências internas, e prevê isso em seus estatutos. Para o povo do Piauí eu posso lembrar que no segundo mandato do Governo Lula o PMDB apoiou o presidente, mas alguns não apoiaram, como o Mão Santa, que era senador do Piauí e estava no nosso partido. O PMDB todo apoiava o Lula e o Mão Santa falava do Lula de manhã, de tarde, de noite, um dia sim e o outro também. O mesmo aconteceu com o senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e com o senador Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco. O PMDB sempre conviveu com as divergências e com as dissidências dentro do partido", afirma.

Marcelo Castro afirma que boa parte dos peemedebistas que hoje apoiam o impeachment são os mesmos que deixaram de votar na chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014, contrariando uma decisão do diretório nacional da sigla.

"Muitos dos que estão hoje defendendo o impeachment, dizendo que querem que o Michel seja o presidente da República, não votaram nele para vice-presidente. O PMDB tomou sua decisão nacional para votar na chapa Dilma-Temer, e muitos dos nossos companheiros não votaram nem na Dilma nem no Temer, votaram no Aécio Neves. Esses que votaram no Aécio, e que, portanto, não quiseram ou não trabalharam para o Michel ser vice-presidente da República, são o grupo principal a favor do impeachment. Eles descumpriram uma convenção nacional do partido. E agora não houve convenção nacional do partido dizendo para seus parlamentares romperem com o Governo Federal", salienta Castro.

O ministro conclui a entrevista reforçando seu apelo para que o PMDB seja democrático e aceite a posição dos que votarem contra o impedimento. "O que eu espero que o PMDB tenha é o comportamento que teve ao longo dos seus 50 anos. Um partido tolerante e compreensivo com as suas divergências, as suas dissidências internas. Todos sabem que o PMDB terá um número grande de votos a favor do impeachment, mas terá também uma parcela de deputados que não votarão a favor do impeachment, como eu e muitos outros companheiros", conclui.

João Henrique não descarta possibilidade de punição

A reportagem também ouviu o ex-ministro João Henrique Sousa, membro do diretório nacional do PMDB. Ele disse que, por enquanto, não haverá seguimento de nenhum processo contra parlamentares dissidentes, como Marcelo. Porém, João Henrique ressalta que a possibilidade de expulsão de membros do partido não está completamente descartada.

Por: Cícero Portela e Mayara Martins
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