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Piauiense que denunciou agressões por homofobia já sofria ameaças

Anderson Veloso conversou com o PortalODIA e disse que, apesar de tudo, não planeja voltar ao Piauí sem concluir seus estudos em Petrolina

04/05/2016 16:59

O piauiense Anderson Veloso, estudante de Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, disse que já vinha sofrendo ameaças por conta de sua orientação sexual, antes de ser agredido e violentado sexualmente na noite do último dia 30 de abril, quando ia encontrar com um amigo. A Polícia Civil investiga o caso e fala em um grupo suspeito de praticar outros crimes semelhantes em Petrolina.

Procurado pelo PortalODIA, Anderson deu detalhes de como tudo aconteceu: “Eu estava indo encontrar com um amigo e era por volta das 18 horas, quando um trio me abordou no Centro e me colocou em um carro. Me levaram para um lugar deserto e, a partir daí as agressões começaram. Primeiro com palavras, depois fisicamente. Me agrediram com socos, pontapés, se referiam a mim com palavras baixas e, por fim, me violentaram sexualmente”, resume o jovem.

Após ser agredido, o estudante conta que foi abandonado em uma avenida. Mesmo estando bastante machucado, ele procurou a ajuda de um amigo, antes de se dirigir à delegacia da cidade. Na tarde de hoje (04), Anderson esteve no IML de Petrolina fazendo exame de corpo de delito, acompanhado da polícia.

Sobre as ameaças, ele conta que elas começaram ainda no ano passado, através de uma ligação telefônica. “Eu estava assistindo aula e me ligaram de um número estranho dizendo que sabiam bastante sobre a minha vida e que eu me cuidasse e estivesse preparado. Na época eu tinha um namorado, e as ameaças se estenderam a ele. Imediatamente eu procurei a polícia e registrei um B.O, mas nunca tive retorno e as ameaças pararam”, comenta.

Mas em março deste ano, Anderson voltou a ser ameaçado, desta vez pessoalmente. O jovem conta que um homem desconhecido passou por ele na rua, lhe fazendo provocações e perguntando se não estava reconhecendo sua voz.

Investigação

O delegado titular de Petrolina, Daniel Moreira, informou que a polícia trabalha com a hipótese da ação em série de um grupo. De acordo com ele, depois da denúncia de Anderson, outros relatos de casos semelhantes começaram a aparecer na delegacia. Para Daniel Moreira, é possível que os agressores já conhecessem a vida e a rotina de suas vítimas.

Até o momento, nenhum nome de suspeito foi divulgado e ninguém foi preso.

“Ainda tenho o outro lado”

Diante do ocorrido com Anderson, e das denúncias de agressões contra jovens em Petrolina, motivadas por homofobia, estudantes da Univasf estão organizando um grande ato para esta quinta-feira (05). O principal objetivo, explica o estudante, é mostrar que a luta pelos direitos LGBTs “não vai parar mesmo diante de todas as ameaças”.

Quem passa pelo Campus da Univasf, em Petrolina, se depara com vários cartazes sustentando os dizeres de Anderson em seu relato nas redes sociais após a agressão. Com a frase “Ainda tenho o outro lado”, o jovem conta querer mostrar que “está de pé e vai seguir sua vida normalmente, apesar de tudo”. Anderson resume: “eu me sinto angustiado, mas, ao mesmo, tempo, aliviado de saber que o que aconteceu comigo está encorajando outras pessoas a procurarem a polícia, a não se calarem diante das adversidades. É importante que as pessoas tenham voz”.

Sobre a reação das pessoas próximas, o jovem afirma que muitos ficaram transtornados no começo, mas que está recebendo apoio de sua família e amigos. Anderson acrescenta ainda que não pretende desistir de seu curso em Petrolina para voltar para o Piauí. “Minha família pediu isso, mas não vou abandonar meu sonho”, finaliza o jovem.

Por: Maria Clara Estrêla
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