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Polícia investiga suspeios de agredir piauiense por homofobia em Petrolina

Estudante de psicologia foi sequestrado quando saia da universidade. Delegado fala em crimes semelhantes ao que jovem relatou em rede social.

03/05/2016 12:43

A Polícia Civil de Petrolina, em Pernambuco, está investigando um grupo de pessoas suspeitas de sequestrar e agredir um estudante piauiense na noite do último sábado (30). O jovem, natural de Picos, foi sequestrado, espancado e violentado por conta de sua orientação sexual na saída da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).  O PortalODia tentou entrar em contato com o estudante, mas ainda não obteve êxito. 

Segundo o delegado Daniel Moreira, da Delegacia Regional de Petrolina, o jovem foi abordado por um veículo com três homens armados. "Ele foi colocado nesse carro e levado para um local desconhecido. Lá foi espancado e abusado sexualmente", explica o delegado. Depois da agressão, ele foi abandonado em outro ponto da cidade, e procurou a polícia no dia seguinte. 

O estudante relatou em suas publicações nas redes sociais que os agressores se referiam a ele com termos pejorativos que comprovavam a motivação homofóbica e intolerante do crime  De acordo com o delegado Daniel, a polícia está em diligências para encontrar este grupo de agressores, e trabalha com a hipótese de que as mesmas pessoas teriam praticado, em Petrolina, crimes semelhantes ao relatado pelo estudante.

"Esse tipo de crime não é tão comum. E tivemos casos semelhantes nas semanas passadas, um deles próximo à universidade. Portanto, acreditamos se tratar do mesmo grupo", afirma. Para ele, os suspeitos escolhem as vítimas de acordo com sua orientação sexual.

Em postagens em sua página em uma rede social, o estudante fez um relato emocionado, em que relata a agressão. O jovem tem recebido apoio de amigos e colegas da Universidade. Veja o relato do estudante picoense ao final desta matéria.

Protesto

Alunos da Univasf fixaram faixas e cartazes com mensagens de apoio ao estudante piauiense pelas paredes da universidade. O caso acendeu a discussão, e está sendo planejado um ato público contra a homofobia para a próxima quinta-feira (05).

A Univasf (Universidade do Vale do São Francisco) publicou nota de repúdio sobre o caso.

Segue abaixo a nota da universidade.

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) vem a público se manifestar contra os atos de homofobia que têm sido registrados em Petrolina (PE), recentemente. A homofobia é um mal que deve ser banido da sociedade e o respeito ao ser humano, em toda sua diversidade, precisa ser preservado acima de tudo. A Univasf não admite que membros da comunidade externa ou da comunidade acadêmica sejam vítimas de atrocidades, como as que atingiram o estudante do curso de Psicologia Anderson Veloso, na noite do último sábado (30). A Reitoria da Univasf já está em contato com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco e com os Comandos das Polícias Militar e Civil para solicitar que sejam adotadas as medidas necessárias para prevenir e proteger a sociedade de condutas homofóbicas. A Univasf é a favor da pluralidade e do respeito às liberdades individuais.

Gabinete da Reitoria

LEIA ABAIXO O RELATO DO ESTUDANTE, PUBLICADO EM PÁGINA NUMA REDE SOCIAL:

O dia 30 de abril de 2016 tinha tudo pra terminar de uma forma positiva, mas não foi isso que aconteceu. Mais uma vez, a violência e o ódio permearam as ruas da cidade de Petrolina, fato que tem acontecido bastante, levando em consideração as grandes tragédias que aconteceram aqui nos últimos tempos. Entretanto, dessa vez foi algo diferente. A vítima de todo esse obscuro e frio momento me fez parar pra refletir sobre diversas questões que antes não chegavam até a pele, até o verdadeiro sentir. Dessa vez, a vítima da agressão foi eu.

Tantas e tantas vezes já havia ouvido falar que a homofobia matava, mas mesmo assim, isso não me chegava aos olhos, visto que nunca havia passado por uma situação como essa. Hoje, só hoje, eu posso verdadeiramente enxergar que o preconceito é capaz de nos levar a lugares nunca vistos antes, e com o coração despedaçado, infelizmente, terei de confessar aqui que ontem à noite, por volta das 18:30 da noite, eu fui capturado por três pessoas em um carro sedan preto; fui levado a um lugar desconhecido e chegando lá me espancaram com socos, me derrubaram no chão e continuaram a me bater, mesmo já debilitado, após isso me enforcaram com o cordão do meu short. Como se não bastasse tudo isso que aconteceu, ainda violaram sexualmente de mim.

Os gritos de “vou te matar viado”, “vai embora de Petrolina, viadinho” e tantos outros ainda ecoam dentro de mim e eu sei que eles permanecerão ainda por muito tempo. Todavia, mesmo diante disso tudo, eu não me silenciarei. A minha dor não será apenas mais uma dor. O meu choro não será um choro em vão. Olhar e ver o desespero daqueles que verdadeiramente me amam, rasga meu coração. Olhar em um espelho qualquer e ver o desespero no meu próprio olhar, me consome. Só que essa luta não é só minha. Em nome de todos aqueles que já apanharam ou morreram por conta da homofobia, eu digo: não foi em vão. Nós somos fortes e nós vamos conseguir, mesmo que queiram nos destruir. E quantos são aqueles que foram destruídos pela simplicidade de existir, tantos são aqueles que ainda serão atingidos e se machucarão pior do que eu. Eu sou um sortudo, um maldito sortudo que carregará dentro de si uma dor que agora faz parte de mim, mas eu ainda estou aqui.

Apesar de achar que nunca mais iria ver meus pais, meus amigos ou aqueles que verdadeiramente eu amo, eu ainda estou aqui. E EU SEI QUE NÃO É EM VÃO. Agora, não mais uma dor me consome, além disso, uma danada vontade de lutar e gritar está louca pra sair, assim como as lágrimas que escorrem pelos meus olhos. Doeu? Sim. Vai doer mais? Sim. Mas isso não me calará. Essa dor que eu estou sentindo não é só minha, é a dor das milhares de famílias e amigos que perderam os seus por não serem esses malditos sortudos, assim como eu. É por eles, pelos que não voltaram. Pelos meus familiares. Pelos meus amigos. E acima de tudo, pela minha liberdade que ninguém toma, por aqueles que ainda irão levar muito na cara, por todos aqueles que perderam suas vidas. Um lado da minha face apanhou, mas EU AINDA TENHO O OUTRO LADO.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Andrê Nascimento (Estagiário)
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