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Piauí deve implantar novo método de assistência aos condenados

A Apac propõe uma mudança de paradigma, onde os presos têm a chave da cela e não contam com o apoio dos agentes penitenciários.

14/09/2017 08:07

Desde o ano passado, a Secretaria de Justiça do Piauí (Sejus) estuda a implantação da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) no sistema prisional do Estado. Ontem (13), houve o marco inicial dessa implantação com a primeira audiência pública para oferecer, às autoridades e à comunidade, o conhecimento sobre a metodologia aplicada pela Apac e, assim, mobilizar e sensibilizar os participantes sobre a importância do método para a execução penal. 
Na ocasião, representantes do Poder Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público, OAB Piauí e Sejus discutiram sobre o assunto com entidades de Timon (MA), que já utilizam o método em seu sistema prisional e apresentaram o sucesso de suas experiências com a Apac. 

Cícero Sampaio defende método em que reeducando "recebe acima de tudo amor e espiritualidade" (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

O método proposto proporciona aos reeducandos atividades de socialização, cursos profissionalizantes e tarefas que estimulam a conservação do local - os próprios internos colaboram com a administração da instituição. 
“Na Apac, ele recebe acima de tudo amor e espiritualidade através da ajuda ao próximo, sendo resgatados valores como família. Lá não têm agentes penitenciários, nem pessoas armadas, os presos têm a chave da cela, ele se sente amado e respeitado. Não é chamado de preso, é chamado de recuperando. Temos uma mudança completa do que nós tínhamos até então como modelo de presídio”, argumenta Cícero Sampaio, representante da execução penal de Timon. 
Para chegar à Apac, o recuperando precisa passar primeiro pelo sistema convencional. Eles são escolhidos de acordo com critérios objetivos, sendo o principal deles a quantidade de pena e o tempo que já estão no sistema prisional. Qualquer espécie de crime pode ser acolhida pelo método. 
Próximos passos: apresentação à sociedade 
De acordo com Marcelo Moutinho, encarregado administrativo e de metodologia da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), o próximo passo para a implantação do método no Piauí é a sociedade adentrar um pouco mais no que seja a Apac. Isto será feito através de um seminário, que vai acontecer ainda esse mês, para mostrar os elementos fundamentais dessa metodologia, como sua história nesses mais de 45 anos de aplicação no Brasil. 
Em seguida, deve ser feita a constituição da primeira diretoria, cuja tarefa principal é cuidar da implantação estrutural, prédios e regimes, e uma implantação jurídica da Apac, além de uma comissão que estará responsável por iniciar o estudo da aplicação da metodologia. Depois, vem a estruturação física. 
“Vamos ver o prédio e aos poucos adaptando esse prédio, se for um já existente. Caso não seja, vamos construir. Mas pelo que tenho visto aqui no Piauí, um prédio deverá ser adaptado. Terminada essa fase de adaptação, é estabelecido um convênio entre a Apac e o Estado, que prevê um grupo mínimo de funcioná- rios para começar a receber os primeiros recuperandos e, depois, faremos um processo de entrevista dos possíveis candidatos”, explica Marcelo. 
O tempo dessas implantações depende do interesse político do Estado e do processo de adaptação do prédio escolhido para que a Apac funcione. Caso o prédio seja construído, a previsão é que seja de um a dois anos; se ele for apenas adaptado, Marcelo indica que, em até um ano, o método já pode ser implantado. 
Resultados 
Uma das grandes bandeiras da metodologia é o índice de reincidência, ou seja, presos que ao sair do sistema, voltam a cometer crimes. Enquanto em um sistema prisional comum a reincidência ocorre em cerca de 70% dos casos; nas Apacs, a média é de 28% a 30%. Outro fator citado pelos defensores do método diz respeito aos custos. Hoje, no Brasil, a média de custo de um preso para o Estado é de R$ 3.000; com as Apacs é cerca de R$ 1.000. “Por um terço do valor, nós estamos devolvendo à sociedade um preso melhor”, enfatiza Marcelo.
Edição: Virgiane Passos
Por: Karoll Oliveira
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